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Reverence Valada, Sinopse I

Reverence Valada, Sinopse I

Timóteo Azevedo

Melhor enquadramento do cartaz, sem muitas sobreposições. Mais gente? Pareceu assim. Muito calor. Muito som.

Um das surpresas a arrancar o dia foram os Novella. Ou melhor, “as”. Quatro raparigas empenhadas no rock, acompanhadas por gajo na bateria e tudo pareceu certo: shoegaze, psicadelismo comedido, redondeza nos riffs e repetição como método para a transcendência. Ainda com o concerto de Novella a decorrer no palco Praia, os Stoned Jesus reuniam público por outras paragens. Stoner/doom da Ucrânia a fazer encher o palco Rio, com o primeiro momento mais “heavy” na tarde. Concerto divertido e pouco previsível, onde se ouviu riffs de Prodigy (“Invaders Must Die”) e cover de At The Drive-In (“One Armed Scissor”) como momentos anti-establishment.

Grave Pleasures foram caso bicudo no que toca a consenso. É sempre sexy (passo o sexismo) ver uma mulher de preto a “rockar” uma guitarra, é de valor ver a entrega dos músicos, e os meus ouvidos fizeram um esforço perceber o que havia de bom, até que o derradeiro juízo se formulou: umas quantas gotas de azeite a mais e ainda nem eram horas de jantar.

Depois de The Warlocks e Cheatahs serem cumpridores competentes com mais uma dose de psych e shoegaze, era a vez dos Process of Guilt terem a honra de abrir o palco Reverence. Peso, peso, peso. Com um concerto alinhavado “na mouche”, mostraram mais uma vez serem uma banda ímpar no género e deram provas de merecer a subida de “divisão”, uma vez que na edição do ano passado tocaram no palco Praia. “Liar”, “Harvest” ou “Faemin” são provavelmente as melhores músicas pesadas feita em Portugal nos últimos anos.

Ainda no campeonato nacional, a segunda banda a agitar o palco Reverence, foram os Bizarra Locomotiva. Sidónio, em palco, é um animal de grande porte que se movimenta freneticamente e todo o espectáculo torna-se um hipnótico ritual com o cenário sórdido que a banda monta. Em “Sudário de Escamas” surge em palco um “sacerdote” a segurar um livro aberto numa espécie de liturgia pós-religião. Sidónio vem para o meio do público em “Escaravelho” e gera-se mosh num pogo “tribal” como resposta ao ritmo do tema. É a carne que nos une e isto é música para apaziguar as pulsões, meus amigos. Ou talvez seja o contrário disso.

O palco Reverence recebia de seguida os camaleónicos franceses Alcest. Concerto a descambar para o tédio, sem grande energia e a soar demasiadamente deslocado para aquela noite. “Se ainda fizessem black-metal, agora isto…”, ouviu-se dizer, provavelmente, algures durante o concerto. Provavelmente.

No palco Praia, dali a pouco tempo, chegavam os Ufomammut para trucidar os tímpanos presentes. Um massa de som, que fermenta e sobe. Sobe, toda ela densa e envolvente, até nos deixar num estado de semi-transe. Projeção psicadélica a fazer juz à música e o trio italiano sempre empenhado a dar um concerto de peso. Harmónicos vários a cantar por cima dos riff’s circulares, abrem-se portas para todo o tipo de alucinações sonoras: é fechar os olhos e entrar na viagem. Primeira vez que vemos o palco Praia completamente cheio.

Jon Spencer Blues Explosion serviu para limpar os ouvidos, numa ligeireza agradável para aquela hora da noite, antes do grande nome, os Sleep.

Foto: Tiago Martins