Quantcast
Sleep. Canabilismo

Sleep. Canabilismo

2015-08-28, Reverence Valada
Timóteo Azevedo
8
  • 9
  • 8
  • 7

Os minutos que antecedem a chegada dos Sleep ao palco são feitos de rituais, onde a mortalha é manto e a marijuana incenso. Reúnem os psiconautas para a viagem há muito aguardada. Muitos, a maioria, estavam ali para vê-lo e as expectativas estavam altas.

Matt Pike, Al Cisneros e Chris Hakius separavam-se em 1998, depois de um álbum megalómano que não agradava a editora que acabavam de assinar. Dali surgia OM (Al Cisneros e Chris Hakius) e High on Fire (Matt Pike) como filhos legítimos do som que eles próprios tinham inventado. A lenda estava criada. Passados mais de 10 anos, a lenda faz-se carne e os Sleep fazem-se aos palcos. Após vários concertos esporádicos, é só em Julho de 2014 que se ouve a prova de que a banda não voltou enfezada: sai o tema “The Clarity” e os fãs de banda rejubilaram com o retorno. «Agora só falta mesmo é vê-los ao vivo». E daí a um ano a espera chega ao fim, com o anúncio de que os Sleep vinham ao Reverence. Era a confirmação do ano.

Concerto arranca com a guitarra de Mike a soar na mesma nota por uns bons 5 minutos, o mood e o ritmo são estabelecidos, é necessário sincronizar as batidas do coração com os bpm’s, limpar a cabeça e abrir o espírito para os desígnios superiores da música dos Sleep. Al Cisneros e Jason Roeder (baterista dos Neurosis), juntam-se à guitarra e entram com a “Sonic Titan”. Segue-se “Holy Mountain” e uma versão da “Dopesmoker”, as que todos queriam ouvir. O baixo de Al Cisneros com o timbre e estilo inconfundível a servir locomoção à caravana canabinóide que prossegue viagem, com as suas espaçadas vocalizações: «Follow the smoke toward the riff filled land, drop out of life with a bong in hand». Mas querem algo mais stoner que isto?

Se pensarmos nos projectos em que os três músicos assinam mais vezes os seus nomes, talvez o concerto tenha sido mais “Ómico” que “Fogo”, o que é o mesmo que dizer ter sido mais mântrico e menos eléctrico e devastador. Mas ao mesmo tempo, Roeder é mais propulsivo que era Hakius, que flutuava mais pelos temas, e se há uma atenuação da parede de amplificação, a cadenciação rítmica refinou-se e com isso redefiniu o peso sonoro dos Sleep. Mais três do álbum “Holy Mountain” e chega a hora de mostrar material novo. “The Clarity” é uma malha-redenção que faz abanar cabeças e dá esperanças para o que poderá vir a seguir da banda. Chegada ao fim da viagem, os sorrisos saltavam da cara dos presentes e a comunhão mantinha-se em altas-frequências. Era disto que precisávamos, foi isto que os Sleep deram.

Foto: Tiago Martins

SETLIST

  • Sonic Titan
    Holy Mountain
    Dopesmoker
    From Beyond
    Dragonaut
    Aquarian
    The Clarity
    Cultivator / Improved Morris