Quantcast

Supernada @ Lux [29.03.12]

Nero

Fotos: Carlos Caixado

Eram 22:00 quando foi autorizada a entrada no Lux. Os quase 100 metros de fila à porta desapareceram rapidamente; afinal não seria preciso comprar bilhete! Os Supernada ofereceram o concerto a quem se deixasse acompanhar de um simples comprovativo de compra do álbum – único, da história da banda.

Alguma demora, alguma impaciência. Pessoas de todo o género, de diferentes gerações, ansiosas por ver o Manel, o Ruca, o Miguel, o Eurico e o Francisco. Batiam então as onze. Era tempo para a apresentação de “Nada É Possível”, disco de estreia dos Supernada.

É estranho dizer que este disco é uma estreia… Os Supernada existem há uma década, e contam com vários concertos na bagagem, acompanhados de músicas que ficarão na memória de quem acompanha o projecto desde então. Mas só agora, passados 10 anos, surge o primeiro (e único) disco da banda.

23h15, e os Supernada sobem finalmente ao palco. Muitos aplausos, seguidos de “Manel, és o maior!”, deram lugar ao que viria a ser uma noite de partilha musical, de entrega ao rock em português. Uma sala composta, com um som perfeito (definido, inserido, moderado, limpo) e um jogo de luzes deslumbrante, foram os ingredientes para finalizar a receita da noite.

Em todos os projectos em que Manel Cruz participa, há uma certa inevitabilidade em lhe dar o protagonismo quase total. Supernada vem mostrar que o Manel é apenas um elemento da banda, e que tal como os outros, funde-se como um instrumento que resulta naquele misto de rock com funk mais punk e palavras – coesão! E ainda bem que assim é, pois dessa forma é possível deixarmo-nos levar pelas frases quentes do baixo de Miguel Ramos, bem como pelos teclados psicadélicos de Eurico Amorim, em harmonia com o desempenho de cada um dos membros.

“És o maior cara**o!!!”, o tal palavrão tão nosso, que se deixou ouvir dezenas de vezes. “Só neste concerto já ouvi mais vezes essa palavra, do que na minha vida toda! À nossa!”, responde o Manel, despindo a t-shirt – qual marca de identidade em palco. Siga!
Ritmos funk, acelerados; a bateria do Francisco com o baixo do Miguel em sintonia, fazendo lembrar alguns temas de RATM, mas com um traço tão português que só a “escola do Porto” sabe desenhar.

Há que dar valor ao que tem valor, e de valorizar está o facto de haver bandas que conseguem surpreender ao fazerem rock em português. Não é fácil. Supernada já tinham dado cartas neste aspecto, mostrando uma perspectiva diferente na abordagem ao “rock tuga” – a força, o peso da guitarra de Ruca, com o encaixe das palavras de Manel. Dizer as coisas certas, ao ritmo certo, criando temas com peso, contratempos, linhas funk, com pés e cabeça, que satisfazem os ouvidos de quem gosta da boa música que se faz por cá. “Tens de entender o invisível…”, ficou na memória como a frase da noite. A música de Supernada não se vê; faz-se sentir. Temos de a entender. Temos de entender que o (Super)Nada é (mesmo) Possível – porque em português também se faz rock, e com identidade.

Poderia escrever-vos, descrevendo tema a tema: como foi, como soou, como resultou ao vivo. Mas muito sinceramente, não valeria uma única palavra. Basta ouvir o disco, e imaginar que o tocam na vossa sala – foi assim mesmo. Perfeito.
Para todos os que gostam de rock, e desafiando até os mais reticentes, fica o conselho: Supernada – “Nada é Possível.” Rock 100% português. O melhor de 2012, até ver.

Um grande disco, um grande concerto e uma grande noite.