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Terceiro dia de Marés Vivas

Nero

No terceiro dia de Marés Vivas, os VIRGEM SUTA encerraram o palco Random com o público do seu lado e com uma prestação fulgurante apesar dos constantes feedbacks que pontuaram todo o concerto. Ver a banda a combater para ajustar o som de palco, ajustar-se ao som de frente e ainda assim manter todo o entusiasmo do público foi algo digno de ser visto e muito do mérito no sucesso que tiveram deve-se ao frontman descontraído e divertido que é JORGE BENVINDA. “Beija-me na Boca”, “Cruza os Dedos” (dedicado à mais famosa licenciatura do ano), “Luso Gentleman” ou a divertida “Maria Alice” foram temas bem acolhidos do novo álbum, ainda que de forma natural “Linhas Cruzadas” tenha sido cantado em coro pelos presentes. Um bom começo.

Infelizmente, por maior que tenha sido o seu esforço no sentido contrário, EBONY BONES nunca conseguiu esse tipo de reacção com o espaço do palco principal ainda muito vazio à sua frente e com um som sem expressão de output no PA para chamar o público. Da mesma maneira que o som pareceu sempre muito baço, um aspecto que nunca foi corrigido na mistura – foi uma das excepções neste festival o mau som deste concerto. Visualmente, actuar durante o dia também não ajudou a trupe sediada em Londres e assim a beleza da frontwoman esteve sempre bastante discreta – um autêntico pecado. Com músicos muito jovens: a dupla feminina nas baterias, SARAH LEIGH SHAW e HOLLY HARDY, começou por pecar um pouco na sincronização, o que foi sendo corrigido com o tempo; o guitarrista STEVE LOMBARDI também iniciou timidamente a actuação. A banda terá que ganhar mais calo para manter a mesma força de atitude de início ao fim. Contudo, o maior problema parece ter sido a pouca aposta nos valores de produção que acompanham Ebony Bones – com o tempo isso irá crescer e a expressão do projecto ao vivo ganhará com certeza outra dimensão.

Os AZEITONAS gozaram já do dia que teve mais pessoas no festival e tinham uma verdadeira maré viva à sua frente. A actuação viveu essencialmente da boa banda que serve os mentores do projecto, especialmente do guitarrista. E ganhou uma dimensão à altura da plateia quando o “velho amigo” RUI VELOSO subiu ao palco. “A Paixão” é mesmo uma das grandes músicas do panorama nacional – haverá quem não saiba a letra de Carlos Tê?

Estava toda a gente preparada. “Ready, Steady, Go” abriu o concerto de BILLY IDOL! O que se viu logo aí haveria de traduzir todo o restante concerto, Billy está com a voz algo acabada, ainda que nunca se esconda a cantar os temas e com a evolução do set tenha ficado “mais quente” e acabado por chegar ao seu típico registo vocal roufenho, e STEVE STEVENS foi dono e senhor de todo o set! Desde o primeiro riff até ao fim do concerto Stevens veio para dar show, jogar para a Bola de Ouro – em “Dancing with Myself” usou até o malabarismo de tocar parte do tema com a guitarra por detrás dos ombros. Do princípio ao fim, não foi possível discernir uma falha de execução no guitarrista e a forma com que se apresentou a solar… havíamos afirmado que Billy Duffy havia conseguido uma das melhores prestações de guitarra este ano no nosso país, dizê-lo foi um acto de canalhagem crítica, pois nesse caso Stevens conseguiu uma das prestações da década! “Stand in the Shadows” seguiu-se e a essa “Postcards from the Past”, onde houve um enorme “fuck up”, com Billy a cantar fora de tom, o que obrigou a recomeçar o tema.

Pouco importava Billy, o frontman era Stevens. E quando surgiram as guitarras acústicas adivinhava-se “Sweet Sixteen” e no final o primeiro solo de acústica de Stevens, ainda sem mostrar todos os ases, pois seguiu-se “Eyes Without a Face”.

A partir daqui a setlist tornou-se difícil de seguir, Ebony Bones havia chegado à zona VIP do festival e as suas bateristas tornaram-se o maior assunto de interesse, foi difícil conciliar profissionalismo no seguimento do concerto e procurar descobrir os talentos de Sarah e Holly com as baquetas nas mãos. A verdade é que, à conversa com mulheres atraentes ou não, coisas como a versão de “L.A. Woman” e aquilo que Stevens fez no solo de acústica que seguiu o tema são a cena! Poderão facilmente ver no YouTube o guitarrista a exibir-se com uma guitarra semi-acústica para perceberem o que aconteceu.

Deste momento em diante o próprio público parece ter percebido quem era o dono do palco e as intervenções do guitarrista passaram a ser ovacionadas regularmente. Um concerto que foi ganhando cada vez mais dimensão e teve um final explosivo com “Rebel Yell”, “White Wedding” e, claro, “Mony Mony” (cover de Tommy James & The Shondells). Se me perguntarem, diria que “Hot in the City” e “Shock to the System” faltaram ao setlist, mas, e parafraseando o Daniel Mendonça (fotógrafo da AS), só há uma coisa melhor que uma mulher baterista que é… duas mulheres bateristas! Há que dar atenção ao talento!

Talento é coisa que não abunda nos GOGOL BORDELLO. Toda a gente vibra e pula do início ao fim, mas depois das duas ou três primeiras canções começa tudo a tornar-se igual e a autêntica cacofonia que a banda promove em palco passa de extravagante a saturante. Ou talvez seja apenas uma questão de compreensão. Com certeza muitos dirão que foi o melhor concerto do Marés Vivas.