Quantcast
Tribulation & All Them Witches, Diferentes Fórmulas Mágicas

Tribulation & All Them Witches, Diferentes Fórmulas Mágicas

2019-12-10, Sala Tejo - Altice Arena
Nero
7
  • 8
  • 4
  • 5
  • 9
  • 8
  • 8

As bandas que abriram o concerto dos Ghost tiveram encantos diferentes. O romantismo e anti-machismo dos Tribulation sofreu bastante com um péssimo som. Os All Them Witches, através de voodoo e uma enorme parede de amplificação, conquistaram uma noite onde poderiam parecer mais deslocados.

Foi em 2015, com o álbum “Children Of The Night”, que os Tribulation renasceram. Abandonaram o death metal e passaram a passear numa míriade de esferas sónicas como o heavy metal tradicional, o hard rock, black metal, psicadelismo e rock gótico. Deixando de se levar tão a sério, a banda tornou-se um paradigma de reinvenção e transcendência, temas que servem de conceito às suas composições sobre ocultismo, esoterismo ou mitologia sobrenatural.

“Nightbound”; “Melancholia”; “The Lament”; “The World”; “Cries From the Underworld”; “The Motherhood Of God” e “Strange Gateways Beckon”. Número matemático sagrado. Número de encantamentos musicais lançados pelos Tribulation sobre uma Sala Tejo ainda muito despida de almas portadoras de luz, da centelha divina que cada ser vivo transporta em si.

O concerto curto, dividiu-se entre os dois últimos álbuns: o já referido “Children Of The Night”, com as brilhantes canções “The Motherhood Of God” e “Strange Gateways Beckon” a fecharem a sua parte no concerto que trouxe os Ghost de volta a Lisboa, e “Down Below”.

Em palco, a pose e indumentária dos suecos são fascinantes afirmações do estafado anti-machismo do viking metal e afins, coisas cada vez mais genéricas e enfadonhas. Os Tribulation são como Lord Byron se este tivesse usado guitarras. Prosseguem um caminho aberto pelo “Irreligious” dos Moonspell, porque não dizê-lo, e possuem o dom dos músicos suecos para evocar hostes harmónicas e fatais gumes melódicos.

Infelizmente, o romantismo da banda foi eclipsado pelo autêntico lodo sonoro que se ouvia na despida Sala Tejo. Reflexões por todos os lados, excesso de reverberação, uma enorme confusão quando a banda disparava samples ou quando carregava mais nos efeitos. Apenas os músicos se mantiveram inabaláveis, até diante de alguma incompreensão de que a sua “cena” terá sofrido.

Felizmente, o som melhorou substancialmente em All The Witches. A banda que poderia parecer deslocada no cartaz, devido à sua estética musical, acabou por ser estrondosamente aplaudida. Não vivem da fusão de sonoridades retro do heavy metal, mas o seu voodoo parte também de um complexo caldeirão de influências, onde o desert rock se mistura com referências como Dave Matthews Band, se cortarem os metais da equação e pensarem num tema como “Don’t Drink The Water” ou naquela fase do álbum “Big Whiskey & The GrooGrux King”, quando Tim Reynolds regressou à banda carregado de Mesa/Boogies. Claro que, a isto é presico acrescentar a imponência de volume e distorção do post doom. Até porque o guitarrista Ben McLeod e o baixista/vocalista Charles Michael Parks Jr. também se fizeram acompanhar de imponentes rigs…

O baixista usou uma monstruosa Hiwatt Custom 200 (DR201) e um “frigorífico” Ampeg 8×10, para sonorizar o seu excêntrico 1972 Rickenbacker 4001. Com o seu habitual Sovtek Mig 100 H, dos anos 80 ausente destas lides da estrada, o Hiwatt cumpriu bem o papel de puxar pelos agudos e dar um tremendo recorte aos imponentes graves. Já McLeod, reconhecido adepto de modelos black e silverface da Fender, recorreu a dois combos Hiwatt Custom 50 (SA212). McLeod usou uma Knaggs Sheyenne, que soava como uma rainha naqueles solos à Allman Brothers.

A exuberância técnica dos três músicos foi o constante fluxo de energia  que reanimou cada um dos temas, cujsa estruturas (quase invariavelmente) de crescendo sobre route notes estabelecia um repetitivo e hipnotizante ritual, propulsionado pela sóbria e ao mesmo tempo exuberante prestação do baterista Robby Staebler. Vimo-los a primeira vez em 2017, no Desert Fest, em Antuérpia, na altura com um teclista. Soa melhor em power trio.

SETLIST

  • TRIBULATION | Nightbound; Melancholia; The Lament; The World; Cries From the Underworld; The Motherhood Of God; Strange Gateways Beckon
  • ALL THEM WITCHES| Funeral for a Great Drunken Bird; 3-5-7; 1×1; Diamond; Charles William; Workhorse; Blood and Sand / Milk and Endless Waters; When God Comes Back; Swallowed by the Sea