Warpaint em caça ao coelho branco

As californianas mostraram mais ambição do que capacidade. Foram um espelho daquilo que têm feito em disco.

Emily Kokal, Theresa Wayman, Jenny Lee Lindberg e Stella Mozgawa iniciaram o concerto da mesma forma que o seu álbum homónimo. De “Warpaint”, com “Keep It Healthy”, viajou-se logo para “The Fool”, através de “Bees” e “Undertow”, e a sensação é a mesma: que o concerto reflecte presicamente aquilo que são os discos. Ideias interessantes, mas desfocadas. Uma banda incapaz de manter intensidade e focagem nos próprios temas em si.

Ideias interessantes, mas desfocadas. Uma banda incapaz de manter intensidade e focagem nos próprios temas em si.

O núcleo central do set, com “Biggy” e “Disco//Very”, parecia mostrar a banda a conseguir contornar essa sua tendência, mas “No Way Out”, com aquele contratempo de tarola excêntrico apenas porque si, foi suficiente para tornar a separar cada uma das músicas, perdidas no tempo, nas estruturas e na dinâmica. Uma banda a soar sem vida…

Entre a noção triste de estarmos a ver uma versão pobre de Jefferson Airplane e Grace Slick, que o psicadelismo de “Surrealistic Pillow”, em vez de objecto de culto, é dessacralizado, as californianas ainda serão capazes de demolir outro ícone – a cover de “Ashes To Ashes”, de Bowie. Tocaram esse clássico com a graça de um elefante numa loja de loiça. Assim se despediram do Primavera, com “Elephants”.

Fotos: Nos Primavera Sound | Hugo Lima