Photo Rick Mav

Glastonbury 2022: Artistas Unidos Contra Decisão do Supremo Tribunal Americano

27/06/2022

No Festival Glastonbury vários artistas utilizaram os seus sets para condenarem a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de reverter o caso Roe v Wade e a favor do aborto.

Amy Coney Barrett, Samuel A. Alito, Jr., Brett Kavanaugh, Neil M. Gorsuch e Clarence Thomas foram os juízes do supremo tribunal dos Estados Unidos (Supreme Court of The United States – SCOTUS) que votaram a favor de reverter a decisão.

A jurisprudência é o conjunto de decisões judiciais dos tribunais superiores, isto é, decisões tomadas no passado por tribunais superiores, como o caso do SCOTUS, servirem para decidir casos do presente. Nos EUA, a jurisprudência tem um elevado peso na decisão de um juiz sendo muito difícil a um juiz de baixa instância contorná-la. Ora, com a revisão do SCOTUS da decisão no caso Roe v Wade o direito constitucional à proteção para abortos perde-se, não torna o aborto ilegal, contudo sem a proteção constitucional cada estado pode legislar como entender a matéria. Mais de duas dezenas de estados podem e muito provavelmente vão banir o aborto sendo que 13 deles já têm em prática leis que seriam ativadas assim que houvesse decisão, as chamadas “trigger laws”.

Do outro lado do atlântico, na irmã Grã-Bretanha, artistas norte-americanos e não só, não ficaram indiferentes à situação respondendo à mesma com uma só opinião. Mais concretamente em Glastonbury, o maior festival do Reino Unido, reuniu grandes nomes da indústria musical mundial no que marcou o “takeover” da geração Z, segundo a NME.

Segue-se uma sequência dos momentos de revolta em relação à decisão por artistas no festival. Joe Talbot, frontman da banda de Bristol, IDLES, antes da faixa “Mother”, do primeiro álbum “Brutalism”, dedicou a canção às mulheres na sequência da decisão nos Estados Unidos «esta é para todas as mães, e todas as mulheres e direito delas de serem ou não uma mãe.».

A Neozelandesa Lorde começou com por perguntar «querem saber um segredo». apenas para imediatamente responder: «O vosso corpo é destinado a ser controlado e objetificado desde antes de nascerem» e continua «querem saber outro segredo? Esse horror é o vosso direito de nascença mas fica aqui outro segredo, vocês possuem força ancestral, conhecimento ancestral, conhecimento que moveu mulheres antes de vocês e esse conhecimento também é o vosso direito de nascimento, peço-vos hoje que façam do aceder a esse conhecimento o vosso trabalho de vida, porque tudo depende dele, Fuck the supreme court.»

A cantora de apenas 19 anos, Olivia Rodrigo fez questão de mencionar cada nome de cada juiz do supremo tribunal antes de cantar com a sua convidada Lily Allen a música “F*** You” dedicando-a assim aos juízes.

Megan Thee Stallion é originária do Texas o que normalmente ostenta com orgulho, mas este não foi o caso, começando mesmo por aí dizendo que o estado a envergonha. Incentivou o público a gritar «my body, my motherfuckin’ choice», que é como quem diz «o meu corpo a minha p*ta de escolha» assim como a levantarem o dedo do meio para os juízes que tomaram a decisão polémica.

Também a cantautora Phoebe Bridgers já tinha revelado aquando das primeiras notícias da intenção do supremo de rever o caso que tinha feito um aborto durante a tour, «fui a uma consulta de planeamento familiar e deram-me o medicamento. Foi fácil, toda a gente merece este acesso a saúde“, contou a artista. No seu concerto em Glastonbury perguntou: «Quem quer dizer que se f*da o tribunal supremo no 3? 1…2…3! Que se f*da o supremo tribunal».

Billie Eilish foi headliner na segunda vez que participou no festival e a mais nova de sempre a fazê-lo, contudo não deixou escapar o momento e, em referência à decisão do SCOTUS referiu ser um «dia muito escuro para as mulheres nos Estados Unidos» antes de cantar com o irmão e colaborador Finneas “Your Power”, uma canção «sobre o conceito de poder e que se deve sempre lembrar que não se deve abusar dele.»

Kendrick Lamar, o rapper de Compton estava destinado a fechar o festival. Ao surgir com uma coroa de espinhos com 8 mil diamantes e a pingar sangue os fãs souberam imediatamente que estavam a ver história a ser feita, mas o momento mais marcante da sua performance foi mesmo a maneira como terminou. Gritando a um ritmo cada vez mais rápido e com cada vez mais ímpeto «eles julgam-te, eles julgam cristo» num repto pelos direitos das mulheres que sofreram um duro golpe com esta decisão.

Sobre o assunto poderás ver o documentário da Netflix “Caso Roe: O Aborto nos EUA”.

PRÓXIMOS EVENTOS