Quantos BPM’s tem Lisboa em 2025?
2025 começou a um ritmo acelerado para os amantes da música eletrónica em Lisboa. Ainda estamos no início do ano e a cidade já recebeu dois eventos marcantes: Charlotte de Witte, uma das maiores referências do techno atual, subiu à cabine do icónico Lux Frágil no dia 24 de janeiro, enquanto Sara Landry, uma estrela em ascensão, trouxe o Pavilhão Carlos Lopes abaixo (felizmente, no sentido figurado) a 1 de fevereiro. Estes dois eventos, ambos com lotação esgotada, são apenas uma amostra de como Lisboa se tem posicionado como uma paragem obrigatória no circuito internacional da música eletrónica (a par de cidades como Berlim, Barcelona ou Londres).

Como se não bastasse, o calendário cultural ganha ainda mais força com o regresso do Sónar Lisboa, cuja edição deste ano está marcada para os dias 11, 12 e 13 de abril. Este festival, que acontece também em Barcelona, reforça o papel da capital portuguesa como um dos grandes polos europeus para a música e cultura eletrónica, atraindo artistas, produtores e público de todo o mundo.
Se olharmos para a cena lisboeta, a resposta parece clara: a cidade pulsa com energia criativa e cultural, afirmando-se como um dos principais destinos para quem procura a fusão entre a música e a diversidade.
Entre eventos de grande escala e produções locais, Lisboa encontra-se numa fase vibrante. Mas será mesmo assim? Estaremos a viver um momento de ebulição na música eletrónica em Portugal, ou a minha perceção está toldada pelo primeiro nascer do sol do ano, a sair do Lux Frágil, e por aquele beat do novo single dos Karetus, com Vitorino e Iolanda, que não me sai da cabeça?
Se olharmos para a cena lisboeta, a resposta parece clara: a cidade pulsa com energia criativa e cultural, afirmando-se como um dos principais destinos para quem procura a fusão entre a música e a diversidade.
Nada começa do acaso
Começo já por pedir desculpa pelo meu centralismo ao apenas falar da capital, mas é a realidade que conheço e não me quero atirar para fora de pé. (Dito isto) A cena da música eletrónica em Lisboa não surgiu do nada pelo contrário, é o resultado de décadas de evolução e experimentação. Discotecas como o Frágil, fundado em 1982 por Manuel Reis, tornaram-se verdadeiros laboratórios culturais, onde a música eletrónica começava a ganhar espaço. Poucos anos depois, espaços como o Alcântara-Mar e o Kremlin, ambos inaugurados em 1988, consolidaram Lisboa como um destino para os amantes da noite e da música.
Estes clubes foram o epicentro de uma revolução musical, ao importarem tendências internacionais e ao mesmo tempo darem visibilidade à criatividade local. Durante os anos 1990, o movimento que ficou conhecido em Inglaterra como “A Paradise Called Portugal” popularizou raves em espaços não convencionais, como armazéns e edifícios abandonados, criando uma atmosfera de inovação.
Destes espaços, apenas conheci o Frágil, já muito mais tarde. Nos meus tempos de faculdade, na década de 2000, existiam espaços mais underground, que desempenharam um papel fundamental na criação de uma base sólida para a música eletrónica em Lisboa. Lugares como o Club Lua, no antigo Jardim do Tabaco, e as noites de drum and bass no Lontra, próximo à Assembleia da República, atraíam públicos específicos e apaixonados. Depois existiam, também, uma série de festas clandestinas (provavelmente herdeiras da primeira vaga de raves clandestinas, que aconteceu nos anos 90) como as que aconteciam em mansões abandonadas na serra de Sintra. Esses cenários improváveis alimentaram uma cultura de experimentação e comunidade, que seria essencial para o crescimento da cena eletrónica na cidade.
Este legado continua a influenciar Lisboa nos dias de hoje. Embora muitos desses locais já não existam, a energia e a criatividade que cultivaram abriram caminho para uma cidade que hoje se orgulha da sua diversidade musical e cultural. A música eletrónica em Lisboa tem, assim, uma base sólida para continuar a inovar e a crescer.
Lisboa: Um Melting Pot Cultural
Lisboa é um ponto de convergência de ritmos, culturas e influências, e essa dinâmica reflete-se na sua vibrante cena eletrónica. Ao longo das décadas, a imigração e a posição geográfica da cidade — entre a Europa, África e América Latina — formaram um terreno fértil para a criação musical. Este contexto singular impulsionou uma fusão de géneros e estilos que ecoa tanto nas pistas de dança como na identidade cultural da cidade.
A riqueza da música eletrónica em Lisboa é visível no aparecimento de algumas editoras, mas também nos eventos e festivais que refletem essa pluralidade. A cidade tornou-se uma plataforma para artistas de todo o mundo, e a sua cena musical é um reflexo direto da energia multicultural que a define. Lisboa é, hoje, um lugar onde as batidas do mundo convergem e se transformam em algo único, com uma identidade que é simultaneamente local e global.
Uma Nova Era para a Música Eletrónica
Na última década, a música eletrónica em Lisboa passou por uma transformação significativa, assumindo uma posição central na vida noturna da cidade. Espaços dedicados exclusivamente ao género surgiram em vários pontos da capital (especialmente na zona oriental da capital, muito devido ao processo de gentrificação do centro que o tem tornado inacessível em termos económicos), enquanto coletivos e produtoras começaram a diversificar os eventos, trazendo novas sonoridades e experiências imersivas para um público cada vez mais interessado. Este fenómeno pode ser visto como uma verdadeira “saída do armário” da música eletrónica, que hoje ocupa tanto os clubes mais prestigiados quanto locais alternativos.

Espaços como o Harbour Music Shelter, com o seu ambiente intimista, e programação voltada para um público dedicado, e A Outra Cena, que explora o cruzamento entre música eletrónica e artes visuais, ilustram a inovação que caracteriza a cena lisboeta atual. Esses locais não só diversificam a oferta cultural, mas também oferecem oportunidades valiosas para talentos emergentes. E, já quase na periferia da cidade, a zona do Prior Velho (onde ainda é possível encontrar espaços de grande dimensão fora dos valores da cidade gentrificada) transformou-se num novo polo de clubes dedicados ao género – Nada 3.0 ou Komplex, apenas para referir alguns.
A diversidade de estilos musicais tornou-se uma das maiores forças da música eletrónica em Lisboa. Do afro house aos sons industriais do techno, passando por fusões experimentais, a cidade oferece um palco onde artistas têm liberdade para explorar novas sonoridades. Este dinamismo reflete a identidade multifacetada de Lisboa como um ponto de encontro cultural. A Made Of You, uma das produtoras que mais se destacou nos últimos anos, tem desempenhado um papel fundamental na profissionalização e na curadoria de eventos de qualidade. Lisboa já não é apenas uma cidade que consome música eletrónica – é um local que a exporta para o mundo, afirmando-se como uma referência no cenário global.
Este crescimento não se limita ao número de eventos ou espaços; ele reflete uma mudança cultural. A capital abraçou a música eletrónica como parte da sua identidade contemporânea, um género que antes era considerado alternativo e agora está no centro da cultura noturna da cidade. É uma nova era para a música eletrónica em Lisboa, e parece que este ritmo só tende a acelerar.
Obviamente que Lisboa está longe de se transformar em Barcelona, onde nasceu o Festival Sónar, ou Berlim, epicentro da música eletrónica e com espaços lendários como o Berghain ou o KitKat Club, que atraem milhares de pessoas todos os fins de semana. Mas este momento vibrante que se vive em Lisboa é a prova de que a música eletrónica não é apenas uma tendência passageira, mas sim um elemento emergente na identidade cultural contemporânea da Lisboa de hoje.
A música que define uma cidade
A música eletrónica tornou-se, nos últimos anos, um dos fenómenos culturais mais marcantes em Lisboa, acompanhada por um aumento notável no número de adeptos. Hoje, a cidade acolhe um público diversificado e entusiasta, disposto a investir em experiências musicais únicas. Este crescimento reflete-se na popularidade crescente de eventos – como o Lisb-On Jardim Sonoro ou o Brunch Electronik, até noites regulares em clubes e espaços alternativos. O público, mais consciente da qualidade e da relevância da música eletrónica, demonstra cada vez mais disponibilidade para pagar bilhetes de entrada, valorizando o trabalho dos artistas e a produção dos eventos.

Outro aspeto que merece destaque é o surgimento de talentos nacionais, especialmente mulheres, que têm vindo a consolidar os seus nomes no panorama eletrónico. Artistas como Stëh ou Caroline Lethô destacam-se não apenas pela qualidade das suas produções, mas também pela energia que trazem às pistas de dança. Para além disso, coletivos como o Planeta Manas ou o Dengo Club (coletivo LGBTQIA+), ou eventos como o Riktus, no Ministerium Club, têm sido fundamentais na promoção da igualdade de género, do consentimento e respeito e celebração da diversidade no cenário musical, criando igualmente oportunidades para DJs emergentes e procurando promover espaços seguros para todos os públicos.
Lisboa consolidou-se, assim, como um local onde os artistas, tanto locais quanto internacionais, encontram um público recetivo e entusiasmado. Esse entusiasmo reflete-se na crescente profissionalização da cena eletrónica, que não apenas atrai um público cada vez maior, mas também estimula o crescimento de talentos locais e a criação de novas oportunidades.
Obviamente que Lisboa está longe de se transformar em Barcelona, onde nasceu o Festival Sónar, ou Berlim, epicentro da música eletrónica e com espaços lendários como o Berghain ou o KitKat Club, que atraem milhares de pessoas todos os fins de semana. Mas este momento vibrante que se vive em Lisboa é a prova de que a música eletrónica não é apenas uma tendência passageira, mas sim um elemento emergente na identidade cultural contemporânea da Lisboa de hoje.