Mark Lanegan e o Silverface de Jeff Fielder

16/03/2015
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O carisma de Lanegan é inegável, mas o músico, que nunca foi do tipo comodista, parece estar a mudar a sua linguagem sonora. O resultado foi um concerto cheio de oscilações emocionais.

Mais que intimista, o primeiro bloco do concerto foi arrasador na beleza. Mérito de Jeff Fielder e de um dos mais belos sons de guitarra eléctrica que já tivemos oportunidade de testemunhar. Naqueles primeiros momentos de “When Your Number Isn’t Up”, “Judgement Time”, “Up” e “Morning Glory Wine”, a SG de Fielder, a ecoar sozinha, através de um Fender Twin Reverb, na sala esgotada, foi uma extravagância de amplitude harmónica, o epítome do que é um “Silverface”, e a semente de uma insatisfação consequente quando a banda surgiu em plenitude, na melancolia electrónica de “Bells On Sunday”.

Aí a mistura deixou-se escravizar pela sintetização que, na verdade, também é algo predominante em muitos (demasiados) momentos de “Phantom Radio”. A forma como a mistura, ao precisar de acolher toda a instrumentação, embotou os instrumentos e retirou dinâmica às canções foi deveras frustrante. A proximidade emocional, dessa primeira parte, entre auditório e um Lanegan num registo quase confessional, foi-se esbatendo, tal como o som. O carisma de Lanegan é inegável, mas o músico, que nunca foi do tipo comodista, parece estar a mudar a sua linguagem sonora, ao ponto de, no encore, “Methamphetamine Blues” ter soado como um corpo estranho ao concerto. Concerto que acabou por reflectir o sentido dicotómico do próprio álbum que pretendia apresentar.

“Phantom Radio” é, por um lado, mais pop que experimental em temas como “Harvest Home”, “Floor Of The Ocean” e a referida “Bells On Sunday”, por outro, possui as incursões Waitsianescas como “I Am The Wolf” e “Killing Season” que, num mood bem mais próximo do início do set, encerraram a noite.

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