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20 anos depois, a locomotiva OUT.FEST continua o seu caminho exploratório pelas várias paragens no Barreiro

20 anos depois, a locomotiva OUT.FEST continua o seu caminho exploratório pelas várias paragens no Barreiro

Redacção
Inês Barrau

Há 20 anos que o OUT.FEST leva à margem sul de Lisboa o que de melhor se faz na música exploratória, ao mesmo tempo que dá  a conhecer espaços, gentes e associações do Barreiro.

Numa altura em que tanto se fala na descaracterização dos grandes centros de Lisboa e do Porto, é urgente que público, autarquias e marcas apoiem festivais fora da caixa como o OUT.FEST, que se realiza no Barreiro. Este é um festival feito em comunidade, sem desprezar ou colocar de parte a comunidade em que se insere. Após uma edição, em 2023, que bateu recordes de público e de artistas, o festival regressa com a mesma missão: tornar o Barreiro, durante o primeiro fim de semana de Outubro, um ponto de encontro para dissidências, resistências e visões humanistas, progressistas e comunitárias em volta do Som.  Em 2024, o festival de música exploratória, organizado pela associação cultural OUT.RA, comemora a sua vigésima edição de 2 a 5 de Outubro.

A Música
O cartaz da festa de aniversário dos 20 anos do OUT.FEST já foi anunciado na íntegra e conta com várias estreias em Portugal. Destaque para o duo americano Armand Hammer, de Billy Woods e Elucid, que traz consigo a sua lírica inflamada e consciente – com o disco “We Buy Diabetic Test Strips”, amplamente aclamado como um dos melhores de 2023; o novo projeto que une Nídia à percussionista Valentina Magaletti, e cujo álbum de estreia chegou este mês de Setembro; a dupla norte-americana H31R, da gira-disquista britânica Mariam Rezaei; o duo japonês KAKUHAN, projeto de Koshiro Hino (goat jp); o trio France (apropriadamente nomeado) ou o ruído queer e catártico de Dreamcrusher

Não esquecer ainda Wolf Eyes & Anthony Braxton e Ulla & Perila, porque é quase impossível imaginar melhor concerto, do que Wolf Eyes & Anthony Braxton, para assinalar 20 anos de festival, reunindo no palco um dos nomes mais definidores da era que viu o OUT.FEST nascer, autores de um dos concertos mais míticos da história do festival (com direito a invasão de palco no Auditório Municipal Augusto Cabrita, em 2007) e banda em constante reinvenção, aqui reunida ao Sr. Anthony Braxton, nada menos que um dos maiores nomes vivos do jazz mundial. Ulla & Perila e a psicadelia balcânica de Lenhart Tapes com a convidada Tijana Stanković apresentam quatro walkmans e uma voz fora deste mundo que remetem para um universo paralelo em que a Eurovisão continuaria a ser o barómetro das vanguardas da pop.

No contingente nacional, destaque para o regresso ao Barreiro do celebrado saxofonista Rodrigo Amado com a sua nova formação Unity (juntamente com Gabriel Ferrandini, Rodrigo Pinheiro e Hernâni Faustino), do trio Inês + Arianna + Violeta (Inês Malheiro, Arianna Caselas e Violeta Azevedo), e das estreias de Tomé Silva e de Zancudo Berraco.

A performance de abertura A Viagem d’Os Heróis Indianos Romanos Africanos, um projeto especial coordenado por Alan Courtis em colaboração com a Associação Nós, do Barreiro, que presta testemunho ao poder da música na inclusão social e, em paralelo, aos contributos da neurodivergência e das necessidades específicas para a criação artística; Nu No, que promete desafiar convenções linguísticas e musicais num universo sonoro que resiste militantemente a categorizações, e Alfredo Costa Monteiro, figura discreta, mas com um papel indelével e de assinalável longevidade no panorama das explorações sonoras europeias.

O cartaz apresenta também o regresso de outra banda fundadora e com impacto geracional no OUT.FEST, os CAVEIRA, nome que vem agraciando a programação do festival ao longo da sua história, e que em 2024 apresenta-se com formação consolidada e – finalmente – álbum na bagagem: “Ficar vivo”. Outras vozes, oito vozes, muitas vozes, ou LEIDA, órgão imaginado de laringes múltiplas por Mariana Dionísio, na companhia de luminárias como Leonor Arnaut ou Beatriz Nunes. Por fim, chega-se à sala de estar, com carolf, uma das DJs que mais se tem notabilizado no seio das Living Room Sessions, festas intimistas, ambient e mais além, que têm ocupado casas particulares de Lisboa ao longo dos últimos anos. Mas há muito mais para explorar e ouvir!

Podes consultar a programação completa, aqui.

Os Espaços

Ir ao OUT.FEST é também sinónimo de explorar vários locais do Barreiro, mesmo até para quem vive na cidade, pois alguns dos cerca de 80 locais “invadidos” pelo festival nestes últimos 20 anos, ou não são espaços públicos, como as oficinas da CP ou são locais onde o comum barreirense não costuma entrar, como igrejas.

Em 2024, quem for ao festival vai poder circular entre o Auditório Municipal Augusto Cabrita, a Sala 6, a Igreja Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Santa Cruz, o SIRB “Os Penicheiros”, a Biblioteca Municipal e naturalmente não podia faltar a ADAO, um dos espaços mais alternativos e versáteis da cultura barreirense e já um clássico no OUT.FEST.

Uma das grandes novidades para esta edição é a adição de um dia extra, com a tarde de domingo, dia 6 de outubro. O local escolhido para este dia é o SCR Paivense, uma associação cultural e desportiva, oferecendo uma oportunidade única de conviver de perto com a comunidade local. Esta matinée prolongada contará com os Ghosted (de Oren Ambarchi, Johan Berthling e Andreas Werliin), ojoo, sòn du maquís, Chuquimamani-Condori, DJ Anderson do Paraíso e carolf.

E para terem o papo cheio de boa comida para aguentar a maratona de concertos, podem consultar esta lista de restaurantes no Barreiro.

O Livro & A Fotografia
20 anos é um marco bem redondo que já merecia a edição de um livro para memória futura. O design e paginação ficou a cargo do designer gráfico da casa José Mendes e dos vários fotógrafos que também eles fazem parte da história do OUT.FEST, como a barreirense Vera Marmelo, que começou a fotografar concertos por causa do OUT.FEST.

«Quisemos criar um livro para fixar na História um lugar para o OUT.FEST nas suas primeiras décadas. Romantismo, talvez, de quem confere importância à palavra impressa, à fotografia, à ilustração, à reflexão, não tão diferente do romantismo de quem ainda e sempre acredita na Música como benção insondável no Estar Vivo. Nenhum livro pode conter vinte anos de estórias – este é apenas uma versão entre tantas outras possíveis, uma forma de contar que deixa tantas outras em aberto, mas é, tal como cada edição do OUT.FEST, um retrato de um momento que contém em simultâneo o agora, o então e o depois.» O livro será apresentado dia 2 de Outubro, antes do concerto de abertura do festival no AMAC. Estarão disponíveis para venda durante todo o festival, na zona de merchandise.

Por último, uma novidade que já está patente no centro do Barreiro e merece uma visita: a exposição de fotografia de Vera Marmelo, também ela sinónimo de OUT.FEST. A exposição pode ser visitada gratuitamente, na praça central da cidade, junto ao Mercado Municipal 1º de Maio, até dia 13 de outubro. «É possível resumir 20 anos de um festival de música em fotografias? Quantas? Quais?» Foi este o ponto de partida para a exposição que celebra os 20 anos do OUT.FEST, capturados pela objetiva da Vera Marmelo presença assídua e inseparável da história do festival. Na impossibilidade de uma resposta resumida e perante um arquivo tão vasto, a Vera propõe-nos uma viagem não cronológica, dividida em três blocos: “o espaço, a música e o público.” A fotógrafa aproveitou a sua ida ao baú para esta exposição, para colocar num site de forma organizada uma selecção de fotos de todas as edições em que participou. Mergulha no mundo maravilhoso da lente de Vera Marmelo, aqui.