Live Aid: Queen e os 20 Minutos que Ficaram na História do Rock
Estamos a 13 de Julho… de 1985 e o músico Bob Geldof decide reunir 76 personalidades da música em dois estádios para angariar fundos para o combate à fome em África. Entre os grandes concertos, destaque para o dos Queen, com o carismático Freddie Mercury a dominar e a surpreender mais de 70 mil em delírio. Mas nem tudo eram rosas.
Dois estádios, Wembley, em Londres, e John F. Kennedy, em Filadélfia, mais de 70 super estrelas do rock, 200 mil espectadores num mega espectáculo de caridade, talvez o mais importante e carismático da história. Uma maratona que conseguiu arrecadar cerca de 100 milhões de dólares e que foi seguida pela televisão em 72 países, com uma audiência de 1.500 milhões de espectadores. Foi obra!
Entre os nomes que compunham o cartaz estavam, por exemplo, Paul McCartney, Mick Jagger, Keith Richards, Bob Dylan, Led Zeppelin, Black Sabbath, The Who, The Beach Boys, David Bowie, Elton John, Eric Clapton, Madonna, U2, Wham!, Duran Duran, Spandau Ballet, Boy George, Sting e… os Queen.
Na altura, estes eram artistas que só apareciam ao público através dos videoclipes, a nova indústria do momento, mas no Live Aid, que por estes dias comemora a vetusta idade de 35 anos, estavam em carne e osso, para delírio do público.
Entre os cartões postais de arte mais memoráveis está a performance dos Queen, considerada por muitos como uma das melhores actuações ao vivo de uma banda de rock de sempre. Num estádio de Wembley a rebentar pelas costuras, o grupo inglês assinou um recital inesquecível, que mais tarde seria retratado de forma idêntica no filme “Bohemian Rhapsody”. Mas, ao contrário do que nos é mostrado no filme de 2018, o quarteto nunca se separou, sendo que Freddie Mercury não sabia sequer da sua doença, até dois anos depois, em 1987.
Mas voltemos a Wembley e ao Live Aid e a 1985. Freddie Mercury entra em palco efusivo e arranca, ao piano, com a icónica “Bohemian Rhapsody”, em versão reduzida e que a banda colaria, depois, com “Rádio Ga Ga“. E seria depois deste último hit que se escreveria mais um pedaço de história. Que Freddie Mercury era um performer nato, já se sabia, mas provou nesse dia o seu enorme talento para ultrapassar problemas, ao comunicar com o público com o famoso “Eh-Oh”, uma série de cânticos acapella que serviram, em primeira instância, para… testar os monitores e o microfone, técnica que havia de mudar, para sempre, a forma como os frontmans das bandas interagem com a audiência.
Rezam as crónicas que, devido ao grande número de actuações, cada artista tinha pouco tempo para fazer soundcheck. Mas Mercury queria testar a sua monição. Então, o vocalista dos Queen decidiu brincar com a plateia enquanto se aquecia e pediu aos espectadores que imitassem as melodias que cantava. E assim fez o dois em um, ou três em um para ser mais preciso, já que, em escassos minutos, não só testou o equipamento, como conquistou o público, marcando também a história da música.
Seguir-se-ia “Hammer To Fall” e, antes de se lançar a “Crazy Little Thing Called Love“, Mercury deixaria uma dedicatória: «Esta música é dedicada apenas às pessoas maravilhosas que estão aqui hoje. Quero dizer, a todos vocês. Obrigado por terem vindo». A banda de Brian May, Freddie Mercury, John Deacon e Roger Taylor terminaria a curta mas histórica actuação com mais duas pérolas: “We Will Rock You” e “We Are The Champions“.
Após o concerto, Freddie Mercury reconheceria: «É algo para se orgulhar. Estou aqui com todos os `grandes´ da música e pude fazer algo que vale a pena. Sim, eu estou mais orgulhoso do que qualquer outra coisa». Foi um dia (20 minutos) em cheio, com o carismático cantor a correr pelo palco, entre o microfone e o piano, e a dançar efusivamente. «O que mais gostei foi ver a plateia sentir-se parte do espectáculo. Quando cantei, foi incrível», disse o artista no final.
Segundo o guitarrista Brian May, Mercury conseguiu alcançar cada pessoa que estava presente no estádio. “Freddie era nossa arma secreta. Ele tinha capacidade de alcançar facilmente cada um naquele estádio, e eu acho que realmente foi a noite dele”.
Mas se, por um lado, este concerto foi tão incrível quanto inesquecível, desengane-se quem pensa que a banda vivia, naquela altura, uma lua-de-mel. Bem pelo contrário. O concerto de Wembley vem no seguimento do fracasso comercial do álbum “Hot Space“, de 1982, e numa altura em que algumas vozes declaravam a separação do quarteto inglês, não só devido a um intenso conflito de egos (mais ou menos admitido/disfarçado pela banda em algumas entrevistas), mas também porque Mercury havia lançado o primeiro álbum a solo, “Mr. Bad Guy“, poucos meses antes do Live Aid.
Analisados a esta distância, aqueles 20 minutos foram, então, apenas uma excelente forma de Freddie Mercury e seus pares calarem os detractores e assinarem um dos mais importantes, memoráveis e arrepiantes capítulos da história do rock.
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