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David Lynch, o músico por trás do cineasta

David Lynch, o músico por trás do cineasta

Redacção

David Lynch, um dos mais extraordinários cineastas do nosso tempo, faleceu aos 78 anos. Para além de ser um visionário do cinema, Lynch era pintor e músico, tendo lançado álbuns tanto em nome próprio como em colaboração com outros artistas.

David Lynch é amplamente reconhecido como um dos mais inovadores realizadores de cinema contemporâneos. É do conhecimento geral que assinou obras como “Dune” (1984), “The Elephant Man” (1980), “Mulholland Drive” (2001), “Blue Velvet” (1986) ou “Twin Peaks”, mas o seu gosto pela música é igualmente assinalável.

A sua faceta enquanto músico revela um lado igualmente fascinante e profundamente ligado à sua visão artística. Tal como nos seus filmes, a música de Lynch é um convite a mergulhar num universo de sonhos, sombras e emoções intensas, explorando territórios sonoros que desafiam as convenções e evocam atmosferas oníricas e inquietantes.

A banda sonora do imaginário de David Lynch é uma extensão directa da sua estética cinematográfica. Sons sombrios, hipnóticos e muitas vezes perturbadores, combinam elementos de blues, rock, música ambiente ou eletrónica experimental. Ao longo da sua carreira, o compositor Angelo Badalamenti, foi o seu braço direito musical e ajudou a definir o ambiente sonoro de obras icónicas como “Twin Peaks”, “Blue Velvet”, “Mulholland Drive” e “Lost Highway”.

Mas não só de bandas sonoras se constrói a obra musical de Lynch. A solo, na voz, na guitarra ou nos synths editou os álbuns “BlueBOB” (2011), “Crazy Clown Time” (2011) e “The Big Dream” (2013). Sobre “Crazy Clown Time”, afirmamos que se David Lynch é considerado um cineasta de eleição, podemos dizer que este álbum está à altura dessa reputação se o virmos como músico – e esse era realmente o desafio: provar que este disco não era um exercício insubstancial de ego. Se nunca o ouviram, façam-no.

Na sua discografia colaborativa, destacam-se álbuns como “Lux Vivens” (1998), gravado com Jocelyn Montgomery, uma reinterpretação musical das obras de Santa Hildegarda de Bingen; “Polish Night Music (2007), uma colaboração atmosférica e minimalista com Marek Zebrowski; e “Thought Gang (2018), um projeto experimental e profundamente intrigante com Angelo Badalamenti, que reflete a sua longa parceria criativa no cinema.

Embora, o trabalho musical de Lynch não tenha alcançado o mesmo reconhecimento do seu percurso no cinema, é uma parte essencial do seu universo artístico. A sua música não só complementa os mundos cinematográficos que cria, mas também se destaca como um corpo de trabalho autónomo, profundamente enraizado na exploração das emoções humanas e do inconsciente.

Em Agosto de 2024 editou, via Sacred Bones Records, um álbum em conjunto com uma das suas musas preferidas, Chrystabell. Com origem numa visão de David Lynch, durante um passeio por uma floresta de árvores altas, por cima das quais viu uma luz brilhante, “Cellophane Memories” é a terceira colaboração entre a vocalista e o lendário realizador norte-americano. Uma coleção nocturna, misteriosa e atmosférica, que está de acordo com o repertório de ambos, lembrando, a espaços, a banda sonora de “Twin Peaks”, “Cellophane Memories” conta com arranjos, sintetizadores e mistura do gigante Angelo Badalamenti.

Podes consultar no discogs.com a obra musical do génio inigualável de David Lynch.