Em Fevereiro, a SMUP, ZDB, Universidade NOVA e TBA recebem o Festival Rescaldo
O festival que é, desde 2007, um dos espaços privilegiados para celebrar a vitalidade e pluralidade da música aventureira nacional, está de volta para mais uma edição.
Na sua 14.ª edição, o Rescaldo apresentará 8 concertos, que acontecem no TBA – Teatro do Bairro Alto, SMUP, ZDB – Galeria Zé dos Bois e na Universidade NOVA de Lisboa, de 7 a 10 de Fevereiro
O Rescaldo tem início dia 7 de Fevereiro, quarta-feira, na SMUP, com os concertos de TRiSTE, artista DYI com referências à IDM, à hiper-realidade e ao ambientalismo como revisto à luz de Future Sound of London ou The Orb, que se refractam num movimento mutável, que tanto escapa como se entrega a impulsos mais rítmicos, numa busca constante por identidade que é processo e resultado em si mesma. A noite termina com o ritual de Ben Yosei, das entidades mais honestas a surgir neste país em bastante tempo. Yosei cria uma música desarmante na sua concepção e entrega, que o próprio assume – e nós concordamos – como sendo devocional. Lançou no ano transacto o maravilhoso “Lagrimento”, que o levou a palco por diversas vezes, e foi alvo de deslumbramento em muitas mentes. Disco de crença e fé, conseguido através de uma música etérea, onde loops luminosos e gravações de campo tecem loas ao canto despojado e revelador de Yosei.
No dia 8 de Fevereiro, passará para a ZDB, com Lantana, conjura invocada por Anna Piosik, Carla Santana, Helena Espvall, Joana Guerra, Maria do Mar e Maria Radich, cuja presença tem sido notória, não só pela parca presença feminina dentro desse meandro, como também pela encantatória música que fazem nascer nas suas aparições e no muito recomendável “Elemental”. Música orgânica que bebe desde a canção esotérica ao jazz, da experimentação mais abstracta à hipnose do drone. A noite fecha com Catarata, congregação de actividade formada por André Tasso, Bruno Humberto e João Ferro Martins. Três artistas cuja presença nos elos de ligação entre a música, teatro, cinema ou a instalação tem sido recorrente e sempre válida, com um afinado sentido de exploração sonora e visual. Nesse movimento, de progressão actuante, vão adoptando técnicas do ambient, noise ou música concreta num mesmo plano contemplativo e pleno de mistério.
Na sexta, 9 de Fevereiro, é a vez do Auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa acolher o Rescaldo. A sessão começa com Folclore Impressionista, colectivo que opera em torno de uma ideia de desvanecimento – da memória, da paisagem, daquilo que se encontra oculto além do visível. Têm sido dos mais ávidos cultivadores da “hauntology”, arquitetando uma música e devida correspondência visual informada pela library music, kösmiche, folk e utopias working-class, num tempo-espaço escapista em que passado e futuro se confundem. Seguir-se-á o fundamental Tó Trips. Senhor de uma presença substancial mas nunca impositiva na movida musical deste país, Tó Trips amealha já praticamente quatro décadas de labuta à guitarra, num caso raro de resiliência e constante reinvenção. Com uma linguagem quase intuitiva ao instrumento, capaz de abarcar diversas histórias e latitudes que vão da memória do mestre Paredes às paisagens de Ry Cooder, dos espaços de Ennio Morricone à ginga de Marc Ribot, a esta Lisboa que vai desaparecendo.
Sábado, 10 de Fevereiro, o TBA – Teatro do Bairro Alto, é o palco escolhido para o encerramento da 14.ª edição do Rescaldo, com duas combinações pensadas especificamente para esta parceria entre o Rescaldo e o TBA. Para abrir a cerimónia propomos Sofia Borges & Marta Warelis, encontro pleno de sentido entre estas duas artistas cujo trabalho tem sido continuamente reconhecido e reconhecível. Sofia Borges tem trilhado um fascinante percurso em torno de uma prática exploratória da percussão, e das electrónicas. Marta Warelis tem sido unanimemente considerada como uma das mais brilhantes pianistas da actualidade, absorvendo lições do jazz, da música contemporânea e da improvisação não-idiomática. Para acabar em esplendor Lula Pena & António Poppe & Carlos Santos, encontro entre estas três figuras maiores, na procura de um espaço e tempo comuns para uma ação que se prevê tão surpreendente quanto perfeitamente idealizada. Expectativas muito elevadas para este trio aparentemente adverso. Enquanto Lula e Poppe partilham um pleno sentido de espiritualidade, transcendência e enigma, Carlos Santos opera em territórios tão metódicos e minuciosos como livres, o que certamente irá elevar todo o encantamento para uma nova dimensão. Absolutamente imperdível.
Os bilhetes custam entre 8€ e os 12€. Mais informação, aqui.