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Fotoreportagem Coliseu de Lisboa: Caetano Veloso é f*da!

Fotoreportagem Coliseu de Lisboa: Caetano Veloso é f*da!

Redacção
Inês Barrau

Aos 81 anos, Caetano Veloso regressou a Portugal para cinco concertos esgotados. A lente da Arte Sonora marcou presença no primeiro.

Caetano Veloso voltou a Portugal com a tour “Meu Coco”, o último disco de originais editado em 2021, apresentando-se ao vivo nesta nova digressão homónima, depois de nos últimos anos ter actuado ao lado de Gilberto Gil, com os filhos Moreno, Zeca e Tom e por fim a solo, apenas ele e o violão.

Veloso deixou no ar que a digressão “Meu Coco” poderá ser a última vez que o vemos num palco português. O músico com 81 anos, em entrevista ao jornal uruguaio “El Observador”, afirmou que «esta turnê pode ser a última que faço voando pelo mundo. Quero voltar a viver na Bahia e cantar lá toda semana — e que venha à minha terra quem quiser me ver e ouvir.» Se estes cinco concertos esgotados em Portugal forem mesmo a despedida ao vivo do público português e da comunidade brasileira em Portugal, podemos afirmar que foi uma despedida triunfal e emotiva e que já nos deixa com saudades.

Em “Meu Coco” os batuques da Baía, que têm em si a africanidade e a pulsão da mãe terra, flertam com orquestrações delicadas, tornadas poéticas graças à lírica das canções, onde tantos companheiros, amigos e irmãos de Caetano são nomeados direta e indiretamente, com requintada finura. A digressão concebida em torno deste disco é a manifestação concreta da elegância e da vitalidade que Caetano Veloso continua a demonstrar, já com mais de 80 anos e a voz e a curiosidade de sempre. Fazer um concerto para divulgar um disco novo, como o próprio diz, é um hábito velho. Felizmente, há hábitos que não mudam.

O que muda, sim, é a forma como Caetano olha para cada espetáculo, sempre com uma sensibilidade cinematográfica própria de alguém que admite ter alma de cineasta.

É importante destacar aqui o papel das novas gerações na forma como o músico baiano se deslumbra com a excitante possibilidade de redescoberta. Não por acaso, chamou Lucas Nunes para a produção do álbum, músico de alguns dos projetos revelação mais entusiasmantes do Brasil, como os Dônica e os Bala Desejo. Pretinho da Serrinha também participa dos arranjos. «Passei quase todo o tempo dos ensaios seguindo as sugestões que vinham deles. Devo confessar que me sinto deslumbrado e intimidado pela musicalidade deles.» Que alguém como Caetano Veloso, com o peso que tem na música e na cultura brasileira, diga que se sente intimidado por músicos bem mais novos do que ele, mostra toda a grandeza da sua personalidade e a abertura e a liberdade com que encara a criação artística.

Em Lisboa, apresentaram um belíssimo concerto, com uma cenografia e jogos de luzes irrepreensíveis. Apesar de fisicamente já apresentar algumas maleitas próprias da idade, a voz contínua incrível e ouvir as suas histórias é simplesmente delicioso, poderíamos ficar ali horas a ouvi-lo.

No alinhamento ouviram-se as novas como “Anjos Tronchos”, “Não Vou Deixar” ou “Meu Coco” e claro que não faltaram as míticas “O leãozinho” ou “Menino Do Rio”. Houve ainda tempo para temas como “A bossa nova é foda”, “Muito romântico”, a inglesa “You Don’t Know Me”, as homenagens a Augusto de Campos, «o maior poeta vivo brasileiro», em “Pulsar” e a Gal Costa com “Baby”.

O nosso Fado ouviu-se pelas mãos do guitarrista André Dias e pela voz de Carminho, com o lindíssimo “Você-Você”, incluído em “Meu Coco”. Carminho não poderia estar mais feliz, e não é para menos.

Em baixo podes ver a fotoreportagem.