Fotoreportagem Nouvelle Vague: 20 Anos a Fazer o Post-Punk Dançar ao Ritmo da Bossa Nova
Na celebração dos seus 20 anos de carreira, os Nouvelle Vague trouxeram a Lisboa uma performance que provou, mais uma vez, a sua capacidade única de transformar canções clássicas do post-punk e new wave em experiências completamente novas.
A digressão, que celebra os vinte anos do lançamento do primeiro álbum de estúdio homónimo que os tornou mundialmente conhecidos, passou por Portugal, com sete concertos marcados do norte a sul do País, incluindo os Açores. A tour nacional foi apresentada pela Symbiose.pt, a editora independente e loja de discos online mais antiga de Portugal, responsável pela edição mundial dos dois únicos álbuns ao vivo do coletivo: “Aula Magna” (2008, 2xCD e DVD) e “Acoustic” (2009).”
A lente da Arte Sonora esteve presente pelo olhar de Inês Barrau num concerto no Lisboa ao Vivo – LAV que decorreu a 13 de Dezembro de 2024.
Vinte anos após o lançamento do primeiro álbum, os Nouvelle Vague estão de volta aos palcos com uma digressão especial. Marc Collin, cofundador do movimento francês, com o falecido Olivier Libaux, referiu que nunca pensou que da ideia ousada de fazerem um tributo à escrita de canções da era pós-punk com bossa nova, nascesse um verdadeiro fenómeno de reinvenção e criatividade global como aconteceu. A influência dos Nouvelle Vague é inegável, com as suas versões de canções a encontrarem novos públicos e a inspirarem outros artistas. O projeto fez nascer uma nova forma de se ouvir e interpretar clássicos do pós-punk, algo que dura até aos dias de hoje, razão que levou Collin a voltar a estúdio para a gravação do quinto registo do projeto,“Should I Stay Or Should I Go?”, editado no passado mês de Fevereiro.
Mais do que covers, os Nouvelle Vague reinventam os clássicos do pós-punk desde o início dos anos 2000, mantendo a sua melancolia e infundindo-lhes um ar de Bossa Nova, revelando pelo caminho cantores que se tornaram icónicos, como Camille, Melanie Pain ou Phoebe Killdeer. Parte da sua longevidade deve-se ao facto de os Nouvelle Vague raramente se repetirem. Há muito que alargaram o seu mandato para incluir diferentes estilos de música, diferentes tipos de canções, mas sem nunca perderem a essência: não ter medo de arriscar, testar, explorar qualquer estética musical que surja numa sessão de estúdio.
A celebração de 20 anos não é apenas um marco temporal, mas uma reafirmação da relevância cultural dos Nouvelle Vague. O concerto em Lisboa foi uma amostra dessa longevidade, uma noite em que a banda não apenas revisitou a sua história, mas também renovou o seu compromisso com a experimentação musical.
A primeira parte do espetáculo ficou a cargo de Nadéah, a artista convidada da digressão comemorativa. Australiana de origem, mas parisiense de coração, Nadéah, que já foi uma das vocalistas dos Nouvelle Vague, e que saiu do projecto para se dedicar à maternidade, trouxe a sua marca inconfundível de teatralidade e intensidade ao palco. Alternando entre baladas introspectivas e momentos de puro electro-pop, Nadéah cativou o público com a sua presença vibrante e irreverente, enquanto apresentava as suas novas músicas.
No palco do LAV, os Nouvelle Vague fizeram jus à proposta artística que os define e apresentaram-se para um público entusiasta, levando-o numa viagem musical repleta de nostalgia, criatividade e reinvenção. Mélanie Pain, Phoebe Killdeer e Shanice Sloan são as cantoras que deram voz aos temas do álbum de 2004, como “Too Drunk to Fuck” (Dead Kennedys), “This Is Not a Love Song” (Public Image Ltd.), “A Forest” (The Cure), “I Melt With You” (Modern English), “Friday Night Saturday Morning”, (The Specials). Claro que não podiam faltar “Love Will Tear Us Apart” (Joy Division), “Just Can’t Get Enough” (Depeche Mode), “Should I Stay or Should I Go” (The clash) e “In a Manner of Speaking” (Tuxedomoon).
Os Nouvelle Vague não são apenas intérpretes de versões: são artistas de reinvenção. E, em Lisboa, deram ao público a certeza de que, mesmo após 20 anos, o movimento francês ainda tem muito para oferecer.