sonic blast 2022 dia 3

Fotoreportagem Sonic Blast Fest 2022: Em Destaque Pentagram, Orange Goblin, Weedeater, Mdou Moctar, Mr. Miyagi

21/08/2022

No último dia, já todos tinham percebido ser a melhor edição de sempre do Sonic Blast, num décimo aniversário atrasado, mas que valeu como tal.

Foi o último dia, aquele em que a praia e a foz do rio Âncora puderam ser aproveitados mais em pleno. Muitas das bandas da tarde acabaram escutadas nas areias da Praia da Duna do Caldeirão, pelos vistos, a linha de costa com festivaleiros, vai passar a ser imagem de marca do festival, agora a realizar-se em Âncora, concelho de Caminha, distrito de Viana do Castelo.

Cinco mil pessoas por dia, apenas dois quintos dessas entradas para portugueses. A Galiza ainda fornece muito dos estrangeiros que por cá passam, mas percebe-se facilmente existirem holandeses, alemães, franceses e até há quem venha da Nova Zelândia.

Curiosamente, o último dia foi aquele que mais perturbações teve no cartaz, com Mythic Sunship a ser substituído por Deathchant e El Altar del Holocausto a cancelar a actuação no próprio dia. Tudo começou, no entanto, com os berlinenses Samavayo. The Black Wizards, a concluírem mais uma digressão em Portugal, a segunda neste ano, actuaram praticamente em casa. Festival e banda, evoluíram juntos. O rock psicadélico dos britânicos Psychlona teve direito a uma assistência significativa, beneficiando também do fenómeno The Black Wizards.
Repetente no festival, aliás como quase todos neste dia, Bala é um duo que não deve passar ao lado. A força deste duo galego é enorme. Pena que as suas actuações se verifiquem essencialmente a norte, e, pese já irem no terceiro disco, não possuem o protagonismo merecido cá por Portugal. Anxela Baltar e Violeta Mosquera estão entre o melhor que a Galiza tem para oferecer. Não foi de estranhar que, num festival com tanta presença galega, afinal o território é a escassos quilómetros, muitos estivessem presentes para as aplaudir.

Da Galiza para Agadez, na Nigéria. Ou melhor, do palco 2, com Bala, para o palco 1, com o rock tuareg de Mdou Moctar. O autor de “Afrique Victime” trouxe música de fusão, entre o rock e o som do Saara, à semelhança de Tinariwen. Pese os nomes do cartaz para este dia, quem presenciou a actuação de Mahamadou Souleymane e seus músicos, certamente levou uma recordação para muitos anos. A vibração positiva, com acordes primários, gerada em palco, alastrou a todos e no final eram milhares a dançar, cantar e até, alguns, no mosh.

Com o final da tarde, o Rock voltou aos caminhos tradicionais. The Atomic Bitchwax, todos eles membros de Monster Magnet, banda que urge aparecer no Sonic, fizeram a festa. Chris Kosnik foi o comunicador de serviço, num trio que praticamente repetiu a visita anterior em termos de temas, inovando apenas com momentos de “Scorpio”.

Não eram a banda cabeça-de-cartaz, mas foi tratada como tal, não só pela assistência, um dos números maiores do festival, mas também pelos seus pares, sendo o grupo com mais músicos presentes à beira do palco. Afinal são cinco décadas na estrada. Trata-se de Pentagram, claro está. Ou melhor, de Bobby Liebling e seus comparsas. Tudo começou com “Run My Course” do primeiro trabalho e prosseguiu com temas como “The Ghoul” ou “Sign Of The Wolf”. Quase no final a icónica “Last Days Here”, que deu título ao célebre documentário, que catapultou a banda. Sempre dramático, Bobby elogiou os presentes, pois esta poderia ser das últimas vezes que o poderiam ver. Na realidade, Pentagram vive muito da actuação de Bobby, das suas caretas e maneira singular como aborda os temas. No final, ainda houve tempo para ir junto do público distribuir autógrafos e tirar selfies.

É muito interessante a forma como os gregos 1000Mods têm evoluído. Hoje são uma banda rock bastante sólida e que merece mais protagonismo. A sua ligação ao festival, tem permitido que visitem Portugal regularmente e isso é saudável. Hoje já possuem bastantes fãs em Portugal e, talvez por isso, tiveram direito a uma invasão de palco sui generis, por parte de uma fã. O stoner destes gregos, começa hoje a ter de coabitar com um post-rock que torna tudo bem mais saudável em termos sonoros.

Lá pelo meio, o cartaz, de tão rico que foi, lá teve mais um regresso, neste caso, de My Sleeping Karma. Adorados pelos fãs. Banda de músicos, com um post rock enérgico e positivo, embora por vezes algo repetitivo. Foi interessante ver como moveram tanta gente. Pela prestação, bem podiam ter trocado de lugar com 1000Mods, mas claramente ganharam a estes em termos de assistência.

Orange Goblin, visto no alinhamento, pode destoar, pois são bem mais metal que stoner, um género que está bem no passado deste quarteto inglês. Acontece que Ben Ward e seus rapazes, em palco, fazem a festa. Isto inclui o novo elemento, o baixista, Harry Armstrong, única novidade neste concerto. São muitos os que seguem a banda. Mesmo sem nada de novo desde 2018 e com uma actuação similar à de 2019, também como cabeças de cartaz no Sonic, o facto é que Orange Goblin ofereceu um concerto impressionante. Rolaram temas como “Sons of Salem”, “Made of Rats” ou “The Filthy & the Few”, enquanto imagens alusivas aos discos, apareciam no palco. Ficou a promessa de um novo disco para 2023, mas espera-se que não regressem já, pois há mais bandas interessantes para ocupar o lugar.

Weedeater já actuou para menos de metade da lotação e foi pena. Dave “Dixie” Collins é toda uma figura, porventura mais pantomineiro que Bobby Liebling. Alucinado, encenando todo um jogo com a garrafa de Jack Daniels e o copo, Dave conseguiu tirar um som monstruoso do seu baixo. Devidamente secundado por Dave “Shep” Shepherd na guitarra e Ramzi Ateyeh na bateria, Collins entrou numa viagem pelo stoner hillbillie, por vezes sem controle, outras parecendo não estar ciente do momento do concerto, como quando se despediu do público ao fim de escassa meia-hora, num concerto que acabou a ir bem para lá do previsto. «Jason… The Dragon» tem já onze anos, mas foi de lá que foram extraídos mais temas, três no total. Lynyrd Skynyrd teve direito a homenagem através da versão de “Gimme Back My Bullets”, numa actuação que terminou com “Weed Monkey”, de “God Luck and Good Speed”. Estranhamente, ou talvez não, o último álbum, “Goliathan”, ficou de fora do concerto.

Atrasados, devido a Weedeater, chegaram Mr. Miyagi. Foi um fecho de festival com bastante mais público que seria de esperar, visto de fora, para a banda vianense. No entanto, é preciso lembrar como a banda sempre foi acarinhada e esta actuação era especial, pois, apesar do caos vivido em palco e no público, esta era uma forma de actua Jaime San, malogrado guitarrista da banda. Entre caos e desacertos próprios de músicos que há algum tempo não actuavam juntos, veio a homenagem perfeita. E um excelente encerramento para a melhor edição do Sonic, e aquela que colocou o festival entre os maiores nacionais, quer em cartaz, quer em audiência.

PRÓXIMOS EVENTOS