Guimarães: Centro Cultural Vila Flor comemora 20 anos com programação diversificada
Dino D’Santiago, Liana Flores, Mão Morta, Sara Correia, Pedro Penim e Moritz Ostruschnjak são os primeiros nomes da programação regular do CCVF.
No ano em que completa 20 anos de atividade, o Centro Cultural Vila Flor (CCVF) celebra a forma como tem levado a cabo a sua missão e afirma a sua potência enquanto projeto artístico, social e comunitário, de cocriação, fruição e formação cultural, do território, do país e do mundo. A diversidade à luz da realidade em constante transformação marcará a programação regular do primeiro quadrimestre do ano, promovendo inúmeras possibilidades de relação com os contextos da criação contemporânea em concertos que certamente ficarão inscritos na memória, Dino D’Santiago, Liana Flores, Mão Morta e Sara Correia.
À programação regular dos primeiros meses do ano soma-se a realização de dois grandes festivais – GUIdance e Westway LAB – que são já um importante marco identificativo da pujança artística e cultural de Guimarães, tendo desenvolvido a sua notoriedade ao ponto de conquistar reconhecimento nacional e internacional.
Caminhando cronologicamente sobre a nova programação do CCVF, a música começa por entrar em cena com uma figura central da música portuguesa, não só pelo que compõe, mas também pelo seu papel como ativista em prol da igualdade e do diálogo cultural entre os povos de língua portuguesa.
É Dino D’Santiago quem surge no grande palco do CCVF a 18 de janeiro com a sua contagiante energia positiva que nos transmite uma intensidade e serenidade tão própria deste artista. Filho de pais cabo-verdianos, nasceu no Algarve e cedo se envolveu nos movimentos da música urbana globalizada, viajando com mestria entre estilos musicais, fundindo os universos do soul, hip-hop com o batuku e o funaná. Trabalhando a tradição musical cabo-verdiana com o peso contemporâneo da eletrónica global, Dino já ultrapassou, porém, qualquer fronteira musical e social, tendo já sido reconhecido e multipremiado (inter)nacionalmente pelos seus sucessivos trabalhos.
Também no âmbito da programação do CCVF, Liana Flores surge a 26 de fevereiro no palco do auditório do Teatro Jordão. Após digressões esgotadas nos EUA e no Reino Unido, a cantora e compositora anglo-brasileira Liana Flores embarca numa digressão por Espanha e Portugal, no decorrer da qual nos vai mostrar, nesta atuação em Guimarães, a beleza multifacetada do mundo aos seus olhos. Liana Flores combina apontamentos oníricos com melodias melancólicas de guitarra, interligando uma gama única e inebriante de influências estilísticas da folk britânica e do jazz clássico à bossa nova brasileira dos anos 60. Depois do sucesso global da sua canção “Rises the Moon”, o seu álbum “Flower of the soul” é uma estreia verdadeiramente envolvente, um disco que é uma clara declaração da sua intenção artística. Transformação é a palavra de ordem neste álbum de estreia de Liana Flores, seja a mudança das estações ou a natureza evolutiva do amor.
O concerto dos Mão Morta em Guimarães, no dia 1 de março, integrado na digressão “Viva La Muerte!”, promete agigantar o palco do Grande Auditório Francisca Abreu, no CCVF, com vários motivos de celebração (após o adiamento forçado da apresentação inicialmente prevista para novembro passado). Em 2024, comemoraram-se os 50 anos do 25 de Abril e os 40 anos da fundação dos Mão Morta, em novembro de 1984. Dois acontecimentos que aparentemente nada têm em comum, salvo o facto de que sem o 25 de abril, e a liberdade e democracia que trouxe para Portugal e para os portugueses ao pôr termo a 48 anos de ditadura, provavelmente os Mão Morta nunca teriam existido. E numa época em que o perigo do regresso do fascismo se torna palpável, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo democrático, os Mão Morta quiseram fazer um espetáculo sobre o recrudescimento das forças maléficas antidemocráticas e do seu comportamento arruaceiro, usando a democracia para a apologia do fascismo, deixando claro os perigos que corremos e em que a democracia (inter)nacional incorre.
Mudando a trilha da programação, mas mantendo a ótica na liberdade de abril, “Quis saber quem sou” foi a primeira frase de pendor revolucionário do início da democracia em Portugal, ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22h55, nas ondas dos Emissores Associados. O primeiro verso da canção “E Depois do Adeus”, pleno de questionamento individual e coletivo, cantado por Paulo de Carvalho, marca o momento histórico do arranque da revolução, tornando uma canção de amor num símbolo da liberdade. A meio caminho entre o concerto e a peça de teatro, “Quis saber quem sou – um concerto teatral”, criação de Pedro Penim, revisita as canções da revolução, as palavras de ordem, as cantigas que são armas, mas também as histórias pessoais das gerações que fizeram o 25 de Abril, trazendo para o palco jovens atores/cantores, escolhidos numa audição a nível nacional, e colocando nas suas vozes e nos seus corpos de hoje, e do futuro, a memória das palavras da liberdade.
Com apresentação no CCVF marcada para 15 de março, esta produção do Teatro Nacional D. Maria II, com conceção, texto e encenação de Pedro Penim, conta com a interpretação de Ana Pereira, Bárbara Branco, Eliseu Ferreira, Francisco Gil Mata, Inês Marques, Jéssica Ferreira, Joana Bernardo, Joana Brito Silva, Manuel Coelho, Manuel Encarnação, Pedro Madeira Lopes, Rafael Ferreira, Rute Rocha Ferreira e Vasco Seromenho.
Sara Correia é quem se segue no grande palco do CCVF, a 22 Março, numa altura em que abraça uma nova digressão com o justo estatuto de fenómeno: cruzou o mundo sempre sob aplausos; lançou dois álbuns aclamados pelo público, elogiados pela crítica e premiados pela indústria; foi nomeada para um Grammy Latino; reuniu à sua volta alguns dos melhores letristas e compositores da atualidade e afirmou o fado como a sua casa. É Sara Correia quem diz: “Liberdade”, o seu terceiro disco, é o “mais fadista”. À linguagem melódica fadista, de portugalidade vincada, vestiram-se depois as melodias de arranjos distintos e sonoridades mais ecléticas, livres, sem estereótipos. Em conjunto com a sua banda, Sara Correia apresenta em Guimarães um espetáculo uniforme e coeso, mas tingido por muitas cores distintas e texturas que resultam de subtis experiências e influências captadas noutros géneros. Tudo isso cabe no fado de Sara Correia, tudo isso ressoa na sua alma que vive plena nesta Liberdade.
No último sábado de Março, dia 29, “Cry Why” assinala o regresso do coreógrafo alemão Moritz Ostruschnjak a Guimarães, depois de já ter estado na cidade berço em 2022, no GUIdance, para estrear “Tanzanweisungen (It won’t be like this forever)”. “Cry Why” funde dois solos que se entrelaçam e se tornam num dueto, onde Miyuki Shimitsu e Guido Badalamenti protagonizam uma história íntima e intensa entre duas pessoas que expressam o seu amor através de um conjunto de patins em linha, elemento que surge como uma extensão do corpo e das emoções, num espetáculo que cria seres, mundos e histórias bizarras, onde o sentimental, o romântico e o melodramático se interligam com a destruição, a violência e a crueza. A música interpretada por Reinier van Houdt, através de dois pianos verticais colocados em cena, amplifica as emoções e define também o espaço pelo qual o pianista e os dois bailarinos movimentam-se, por vezes amplo, quando estão distantes, outras vezes confinado, quando estão próximos.
Os espetáculos da programação regular referidos têm todos início marcado para as 21h30 e realizar-se-ão todos no Grande Auditório Francisca Abreu (CCVF) com exceção do concerto de Liana Flores que decorrerá no auditório do Teatro Jordão. Os bilhetes para os espetáculos estão disponíveis online em oficina.bol.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG), a Loja Oficina (LO), ou o CAO dos Fornos da Cruz de Pedra, bem como nas lojas Fnac, Worten e El Corte Inglés.
Neste mesmo quadrimestre, o CCVF e Guimarães contarão também com a energia e potência da 14ª edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea (6 a 15 de fevereiro); e da 12ª edição do Westway LAB (9 a 12 de abril), que nos fará mergulhar num universo musical vasto, livre e criativo, com novos nomes da música (inter)nacional e outros com reputação já confirmada; sempre com a tónica da descoberta presente.
A informação relativa a toda a programação promovida pel’A Oficina encontra-se disponível em www.aoficina.pt.