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Jack Gibson, baixista dos Exodus: «Sou um vendedor de t-shirts. Não sou um músico.»

Jack Gibson, baixista dos Exodus: «Sou um vendedor de t-shirts. Não sou um músico.»

Rodrigo Baptista

«Se não sairmos para vender t-shirts, não ganhamos dinheiro. Sou um vendedor de t-shirts. Não sou um músico. Sou literalmente um vendedor ambulante de bugigangas. É isso que fazemos.», reflete Jack Gibson sobre o rumo que a indústria da música tomou.

Jack Gibson, baixista da banda de thrash metal Exodus, recentemente deu uma entrevista a Danielle Bloom onde abordou temas como quais os conselhos que dá a jovens músicos que estão a começar e como é que músicos com uma longa e exaustiva carreira se mantêm à tona nos tempos que correm.

Pleno de honestidade e falando com conhecimento de causa, Jack Gibson acabou por desabafar todas as suas incompreensões relativamente à descaracterização da indústria da música e de como todo o negócio à volta da música está completamente diferente daquele que conhecera nos anos 80.

«Não sei o que dizer aos jovens músicos hoje porque estou cansado. E não é que esteja apenas cansado, é que não existe mais negócio musical», reflete Gibson. «Quando eu era jovem, havia um caminho, havia passos a seguir. Criavas a tua banda, escrevias a tua música, começavas a procurar concertos, e se conseguisses atrair pessoas para os teus concertos, então o próximo passo seria atrair a atenção das editoras. Depois era preciso criares o teu pack promocional para entregar às editoras que se interessassem. A seguir tentavas conseguir um contrato e gravar e vender discos. E essas etapas já não existem. Agora, o passo é formar uma banda – ou nem sequer formar uma banda. Vamos apenas ficar virais. Eu não sei fazer isso. Não me perguntem como fazer isso. Estou na casa dos cinquenta. Eu não sei como fazer essa merda. É totalmente um mistério para mim. Não sei como é que as coisas se tornam populares agora, a não ser por pura sorte.»

«Aqui em Nashville, os jovens músicos perguntam-me isso o tempo todo. E sinto-me um idiota quando respondo, porque fico tipo, “Pessoal, não sei”. Não sei o que faz as coisas funcionarem», refere Gibson. «As bandas que são realmente populares, não sei porque é que essas bandas são populares. E não estou a dizer que elas não sejam boas. São os que se destacam dos outros. Tudo parece-me igual, acho que provavelmente é porque estou velho, mas não sei que direção dar a ninguém.»

Continua reflectindo: «Desde que começaram a dar a música de graça, deixou de haver negócio. Não vendemos discos nenhuns. Se não sairmos para vender t-shirts, não ganhamos dinheiro. Sou um vendedor de t-shirts. Não sou um músico. Sou literalmente um vendedor ambulante de bugigangas. É isso que fazemos.», diz Gibson sobre as adaptações que os artistas têm que fazer para sobreviver nos tempos que correm. «Se não consegues encher uma sala, ter 50.000 streams na internet, então eles não querem falar contigo. E a qualquer momento, todos nós vamos perder os nossos empregos para esses malditos robôs que querem realmente fazer música que as pessoas gostem, eles não vão pagar-nos para fazer merda nenhuma

Quando questionado sobre a longevidade dos concertos e da contínua procura por música ao vivo, Jack Gisbon respondeu: «Neste momento, a maior parte do negócio da música não é assim; a maior parte é licenciamento e jingles comerciais, edição e gravação de música. Tudo isso vai simplesmente desaparecer. Haverá 50 pessoas por aí que farão músicas que interessam às pessoas e que não podem ser reproduzidas. E então o resto… Tipo, quem vai pagar a alguém para escrever música para um filme? Ou pagar a uma orquestra, pagar a 60 pessoas para entrar e tocar quando um tipo pode simplesmente pressionar umas teclas no computador e ela sai. E não vamos saber a porra da diferença. As coisas estão a mudar tão rápido que eu realmente não sei o que dizer.»

Jack Gibson fez uma grande reflexão sobre a indústria da música, que infelizmente é a realidade. Podes ouvir a entrevista na íntegra em baixo.


arda