Depois de subir à vila, foi a vila a descer à praia fluvial no dia que acolheu exclusivamente artistas portugueses no abertura do Vodafone Paredes de Coura em 2022.
No dia 16 começou-se cedo. Além do destaque do artista luso, a organização também apostou na inclusão, com este a ser o dia com mais artistas a atuar, 20 atos subiram a palco. Às 14h já ecoavam pelo cenário natural as sonoridades dos The Lemon Lovers que abriram o festival. Não desfazendo ou retirando mérito das restantes atuações, este artigo vai focar-se em Linda Martini, Mão Morta, Sam The Kid com Orquestra e Orelha Negra e Conjunto Corona.
Correria e mais correria, ao final do dia cheguei pela primeira vez a Paredes de Coura. Na nacional 303, encontrei logo voluntários que me orientaram precisamente. Levantar credencial, reconhecer seguranças que também estiveram no NEOPOP, entrar e escassos minutos depois avistei os Linda Martini a subir ao palco.
Concerto festival. Sem demoras o quarteto dispara para ação, abrindo com “Eu nem vi”, primeira faixa de “ERRÔR” e o público retribuiu acanhado.
À segunda música, “Horário de Verão” projetavam-se mosh pits mas só em “Boca de Sal” é que se manifestaram, mas manifestaram-se bem, com os círculos a abrirem com cada vez maior diâmetro. Em “Super Fixe” surfava-se a multidão e assim foi durante o restante espetáculo. Intercalando moshes com palmas com, lá está, crowdsurfing.
Seguiu-se “Cem Metros Sereia”, quem diria que se passaram 12 anos desde a edição de “Casa Ocupada”. Aqui, percebemos porque é que não haviam muitos espaços livres em redor do palco Vodafone, pois, poucos foram os que não cantaram, muitos os que gritaram e alguns os que acenderam lanternas.
Depois, a banda de Hélio Morais, Cláudia Guerreiro, André Henriques e Filho da Mãe teve ainda espaço para “Taxonomia”, a faixa que fecha o álbum editado pela banda em 20222, “ERRÔR”, que também fechou a atuação da banda que foi acompanhada no ecrã gigante situado atrás de si por uma verdadeira tela. Nela, fomos observando tinta a escorrer lentamente culminando na imagem de capa do mais recente disco.
“Só mais uma” não se pediu muito, não tivesse a equipa de palco rapidamente entrado com o material de Mão Morta começando a levantar o dos Linda, não houve muita discussão. Ouviam-se 10 000 Russos e o público, não fosse mais que um concerto, invadiu o palco Vodafone FM.
A cinco minutos da hora marcada, surgem em palco os Mão Morta, o público aplaude e ouvem-se gritos, verificam-se relógios mas ninguém se queixa.
Sobre uma cama de guitarra ligeira com pequenos rasgos mais distorcidos Adolfo Luxúria Canibal abre com a introdução falada, quer dizer, contada, de “No Fim Era o Frio”. Os bracarenses tocaram de “fio a pavio” o disco de 2019.
“Tanto Frio” fazia-se sentir, contudo os gritos e grunhidos do vocalista no auge de “Um Ser Que Não Se Ilumina” dissiparam qualquer ausência de calor.
Em “Oxalá”, os Mão Morta manifestavam um amanhã melhor. Que “O futuro nos traga/a sorte” ouvia-se enquanto a multidão replicava os movimentos de Adolfo, oscilando os braços sincronamente de um lado para o outro.
Segue-se um mosh simpático e quando se ouvia o Outro de “Passo O Dia a Olhar Para o Sol” o público refletia calmamente, também não queria “sofrer mais”.
Estávamos a meio do espetáculo, mas o registo pouco mudou até ao final.

Sam The Kid foi o próximo a subir ao Palco Vodafone FM, com uma entrada a quatro tempos. Na realidade quem seguiu Mão Morta foi a orquestra liderado pelo maestro Pedro Moreira que entrou primeiro sozinha recolhendo grandes aplausos. Orelha Negra e Mundo Segundo apareceram depois e o terceiro elemento a subir a palco foi Napoleão Mira a entoar o poema “Santiago Maior”. Finalmente, aparece Samuel Mira sem vontade de “papar grupos” mas com a fome de quem atuou pela última vez no Vodafone Paredes de Coura em 2002.
Para render “Juventude é Mentalidade”, Sam The Kid, convida NBC, o são-tomense atuou assim pela primeira vez no festival.
O rapper aproveitou depois a presença do pai para também homenagear o seu falecido avô (incluído em várias faixas de Samuel), com “Hereditário” que atingiu o apogeu sob a vozes de David Cruz e Mala substituindo o final pesado da faixa editada por vocais fortes e sentidos.
Mundo Segundo vai da mesa de Cruzfader onde esteve a fazer backing vocals, até então, para a frente do palco apresentar ao festival “Tu Não Sabes” energeticamente.
Sem pausas, seguiu-se “Não Percebes” e a temperatura na praia Fluvial do Taboão continuava a aumentar. Poucas foram as vivalmas que não estavam de braço no ar a acompanhar o beat. Sam logo reconheceu, perguntou se o queriam ouvir sete minutos a cantar e entregou “Retrospectiva de um Amor Profundo”.
Num declarado momento de intimidade, Samuel tira o chapéu e, mantem a linha familiar do concerto e invoca novamente a palco o seu pai Napoleão. Recebido pelo público por efusivas palmas a acompanhar a sua performance, tal como em “Sofia”, a faixa que veio a seguir.
Houve espaço ainda para a dedicação ao falecido Barbosa, também conhecido por GQ, autor do refrão de “Poetas de Karaoke”. Como seria expectável, a faixa “bateu nas horas” e o público estava ao rubro. Por alguma razão é que ainda é trunfo em muito Dj sets nas discotecas deste país, passados todos estes anos.
Sam The Kid estabelece um paralelismo com o concerto dado há vinte anos atrás, remetendo para a “ausência de telemóveis”. E é sentado na borda do palco que conclui com “Sendo Assim”.
Seguido por outra vertente do género, o Conjunto Corona já se fazia ouvir no palco Vodafone FM ainda Sam The Kid estava em palco.
E foi para lá que a multidão se deslocou, o Conjunto Corona teve espaço temporal para relembrar o público porque é que têm marcado presença nos grandes festivais. Com os habituais momentos incluídos: distribuição de hidromel, cânticos gondomarenses e moshes, o conjunto da área metropolitana do Porto apresentou também “Sempre a Riffar”, “Mãe Virei Gandim” de “G de Gandim” editado em 2021.
Não incluída foi a faixa onde participa Kron Silva, “Olheira Negra”. Teria sido uma adição interessante ao reportório por terem procedido Orelha Negra.
Marcaram também presença no concerto, já clássicos da discografia do grupo: “Pacotes”, “Chino no Olho” e “187 no Bloco” que teve direito a repetição no final para o derradeiro mosh.
Um literal momento de tirar o chapéu, não o tivesse perdido no meio da desbunda.
