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Mais 20 nomes no alinhamento do Tremor 2020

Mais 20 nomes no alinhamento do Tremor 2020

Redacção
Fernando Resendes

São mais vinte nomes aqueles que se juntam hoje ao alinhamento de concertos e clubbing do Tremor deste ano.

Do funaná dos Ferro Gaita, até à linguagem audiovisual de Push 1 stop & Wiklow, passando pelos cruzamentos de géneros de Anna Meredith, 33EMYBW e Ko Shin Moon, as reflexões para violino de Samuel Martins Coelho e o regresso a Portugal de Warmduscher e do brasileiro GIO (Giovani Cidreira), começa a ganhar formato final a proposta de música para o festival açoriano. Nos nomes nacionais, adicionam-se ainda Gonzo e os açorianos Luís Gil Bettencourt e Mário Raposo (AV Cactus Sessões). No universo do clubbing, escolha a propor diversas viagens ao tropicalismo e psicadelia mundial com La Flama Blanca, Instituto Fonográfico Tropical, DJ Fitz, a dupla Milhafre e Gaivota e Goldfish, Good in Da’Hood e Huntz Huntz.

Os novos nomes juntam-se aos já anunciados Lena D’Água, Solar Corona, Angélica Salvi, Conferência Inferno, The Dirty Coal Train, Juana Molina, Kathryn Joseph, Föllakzoid, Gabber Modus Operandi, Larry Gus, MadMadMad, MC Yallah & Debmaster, Pelada, RomeroMartín, Sessa, Vanishing Twin, Lil Kyra e In Peccatvm.

Devedor de ritmos populares portugueses (e oriundos de outros países europeus), assim como de músicas ancestrais africanas, o funaná é uma espécie de crioulo musical que apela à dança no seu estado mais natural, terreno e primário. Música de festa ligada à alma atlântica de um povo, une os centros urbanos à periferia, reflectindo, não raras vezes, a vida, o sofrimento, a alegria ou a realidade sócio-política dos que o interpretam. É, ao lado da morna, da coladeira e do batuque, uma mais difundidas marcas culturais cabo-verdianas e é neste universo de nomes que são hoje referências mundiais que encontramos estes Ferro Gaita, embaixadores (ao lado de uns Bulimundo ou Finaçon) de uma herança que se faz de engenho, emoção, sensualidade e visceralidade. Fundu Baxu, Rei di Tabanka ou Rei di Funaná serão alguns dos eixos que marcarão, nos Açores, mais uma viagem ao lado mais cru e vibrante deste jogo inebriante entre o ferro e a gaita.

Ao longo dos seus primeiros quinze anos de actividade, Anna Meredith construiu uma carreira a tempo inteiro a escrever música para outros. Aceitando encomendas de orquestras internacionais, óperas e instituições culturais, compondo sinfonias, músicas e partituras para quartetos de cordas, explorando beatboxing e percussão corporal, a sua música podia ser ouvida em qualquer lado, desde a mais banal estação de serviço até às salas mais eruditas. Em 2016 lança “Varmints”, um disco de estreia em que justapunha ritmos cruzados, electrónica, melodias confessionais e laivos de uma pop irresistivelmente viciante. Foi aí que se assumiu como uma compositora na fronteira entre o que sabemos e não sabemos classificar. Com FIBS, lançado na recta final de 2019, volta a apresentar-nos um conjunto de canções corajosamente idiossincráticas, 45 minutos de maximalismo multicolor e reinvenção rítmica perpétua, que apresentam a mais impressionante e visceral riqueza e acessibilidade musical da sua carreira.

Cadie Desbiens-Desmeules (Push 1 stop) e Michael Dean (Wiklow) são uma dupla canadiana cujo trabalho explora os pontos de contactos entre o som e a imagem. Tendo como habitat natural a performance ao vivo, a dupla procura a criação de experiências audiovisuais intensas e orgânicas, assentes numa estética minimalista que alterna entre a ilusão e o físico, celebrando as frequências puras e a beleza visual das suas ondas. Os seus trabalhos têm sido apresentados em festivais como o Sónar e eventos artísticos na América do Norte, México, Europa, Médio Oriente e Ásia. Aos Açores trazem “Membrane”, uma performance audiovisual que tem como epicentro uma instalação artística tridimensional activada ao vivo e que propõe um ambiente imersivo ao público presente na sala.

O “império” dos Fat White Family dá sinais de expansão até ao infinito. Ao lado de Insecure Men ou The Moonlandingz, Warmduscher são outros dos filhos mais novos da “Família”. Composta por The Saulcano (Saul Adamczewski), Mr. Salt Fingers Lovecraft (Ben Romans-Hopcraft) e vários ex-membros dos FWF, o colectivo parece seguir as imposições genéticas da sua ascendência: pegar num género de música tradicional e fazerem tudo o que está ao seu alcance para o destruir. Foi assim com “Khaki Tears” e voltou a sê-lo em “Whale City”, uma espécie de ópera-rock que, de acordo com a banda, serve de parque de diversões para todos os que já conseguiram fugir da sua zona de conforto. Em “Tainted Lunch”, o mais recente disco, juntaram dois cozinheiros extra, Quicksand e Cheeks, e os melhores ingredientes importados que o dinheiro pode comprar, Iggy Pop e Kool Keith, servindo a mais quente refeição de funk, punk, hip-hop e lounge rock. Se não conseguirem aguentar o calor, o melhor é saírem da cozinha.

Luís Gil Bettencourt é indubitavelmente um dos nomes maiores do imaginário musical do arquipélago açoriano. Dono de uma base musical bastante eclética que tem no rock a sua pedra basilar, tem desenvolvido um percurso que mantém viva a memória e usos da Viola da Terra de Dois Corações, instrumento ligado à etnografia local. Com ela compôs a banda sonora da série televisiva Xailes Negros e de um documentário sobre a vida de José Saramago. Actualmente leva a viola da terra até aos palcos de Hollywood, Londres e Nova Iorque. Também oriundo dos Açores, Mário Raposo faz música com sintetizadores desde os anos 90, abarcando diversas influências. Ainda nessa década integrou o duo Art & Soul e fez arranjos em discos de figuras proeminentes da música açoriana como Aníbal Raposo e Luís Alberto Bettencourt, bem como composições para documentários e publicidade. Com uma discografia assinalável desde 2007, Mário Raposo apresenta pela primeira vez no Tremor alguns temas do seu repertório num cruzamento entre o new age, a música ambiental e estéticas da ficção científica, num espectáculo que contará com uma criação audiovisual das Cactus Sessões. A curadoria da música açoriana é do realizador Diogo Lima.

A ter lugar entre os dias 31 de Março e 4 de Abril, o festival açoriano volta a ter como ponto central a ilha de São Miguel, propondo uma experiência que, ao longo de 5 dias, integra concertos em salas e natureza, residências artísticas, performances surpresa e o diálogo entre artistas locais e convidados, música e outras formas de arte. O Tremor anunciará mais nomes nos próximos meses.

Os bilhetes para a sétima edição do Tremor já se encontram à venda na BOL, FNAC, Worten, CTT e La Bamba Bazar Store, em Ponta Delgada, por 50 euros. O festival anunciará nas próximas semanas a programação para as residências artísticas, exposições e criações especiais.


arda