North Festival: o festival citadino agora em ambiente mais campestre
O ano de 2024 foi o de estreia do North Festival no Parque de Serralves.
O evento decorreu nos dias 24, 25 e 26 de Maio e, como já vem sendo hábito, contou com um cartaz bastante eclético com temáticas diárias mais ou menos vincadas e apresentou nomes sobejamente famosos como Alejandro Sanz, Tom Odell, Keane, Cláudia Leitte e Nelly Furtado como cabeças de cartaz.
O primeiro dia do North Festival, 24 de maio, abriu com um dos maiores nomes da actualidade musical portuguesa: Nininho Vaz Maia. O artista sensação, presente pelo segundo ano consecutivo no evento, deu especial foco ao seu novo álbum de originais “Aparentemente”. Os fãs estavam presentes e animados e um fã júnior ainda teve a oportunidade de cantar no palco com o seu ídolo.
Num recinto, onde se ouvia maioritariamente a língua espanhola, seguiu-se Iñigo Quintero, que assumiu as luzes da ribalta com o êxito “Si No Estas”. Chegado da nossa vizinha Galiza movimentou o seu grupo de fãs e, apesar dos seus apenas 22 anos, suportou um público que crescia nos relvados do anfiteatro de Serralves. Espaço este pontuado, aqui e além, por bandeiras da argentina de fãs que aquém mar aguardavam a estrela conterrânea do reggaeton, Maria Becerra, que fez jus à sua fama e aqueceu o fim de tarde com a sua batida forte e ritmos quentes e animados junto com um corpo de bailarinos que puseram o público aos saltos e a ensaiar os passo de “la cumbia”. Hits como “Corazón Vacio” e “Te Cura” retubaram numa plateia já bastante animada.
Hora de receber um dos momentos mais aguardados da noite, Myke Towers, a estrela porto-riquenha do rap, que se tornou rapidamente um dos artistas mais apreciados da música latina contemporânea, conquistando fãs em todo o mundo. Sozinho em palco mostrou o que vale ao colocar um recinto cheio a vibrar com a sua actuação entregando sucessos como “Novato”, “Mi ninã”, “La la” terminando com o tema viral “La falda”.
A encerrar em cheio uma primeira noite de North Festival, o cantor espanhol Alejandro Sanz, artista bastante acarinhado pelo público português, subiu ao palco acompanhado de guitarra e foi brindado com coro do público em temas como “Amiga Mía” ou “Cuando Nadie Me Ve”. Num recinto à pinha, o entusiasmo sentia-se, e a entrega foi total ao fechar com chave de ouro com “Corazón Partío” despedindo-se com “Viva a vida, viva a música”, nesta primeira noite do já emblemático festival da cidade de Porto.
Humidade? É só passar uma tintazinha ou uma boa Brit Pop Indie Rock.
O segundo dia de festival, sábado 25 de maio, foi marcado por comemorações de 20 anos. A banda nacional Plaza e os 20 anos do lançamento do seu álbum “Meeting Point” que abriram o palco principal que iria fechar com Keane a celebrar as duas décadas do seu primeiro álbum “Hopes and Fears”, que será reeditado este ano.
Neste dia dedicado à música das terras de sua majestade, o Porto fez questão de apresentar a sua melhor interpretação do “british weather” para que todos se sentissem em casa. Os segundos a ocupar o palco principal foram os The Reytons que, sabendo que poderiam não ser muito reconhecidos por cá, estavam visivelmente emocionados com a recepção dada a uma banda britânica independente que trabalhou muito para alcançar o sucesso tal como frisou o vocalista, Jonny Yerrell, que se mostrou bastante disponível para tomar uma cerveja com os seus fãs após o espectáculo.
Em seguida, debaixo de uma chuva persistente e chata, mas sem se deixar abater, a já reconhecível e reconhecida cantora Birdy apresentou o seu mais recente álbum “Portraits”, lançado em 2023, percorrendo, no entanto, todos os seus êxitos que a tornaram tão acarinhada como o melancólico “People Help the People” ou “Keeping your Head Up”.
Já dia feito húmido breu, Tom Odell, conhecido por hits como “Another Love” e “Heal”, brindou o festival com a sua mistura única do pop, rock e indie que levou o público ao rubro com uma energia e capacidade de comunicação contagiantes de quem sabe como chamar e manter a atenção. Dominou o palco, o piano e a narrativa em tom crescente e envolvente num estilo arrebatador e quente num concerto que vai ficar bem marcado na memória de quem lá estava e respondeu entusiasticamente.
Uma massa de gente encharcada, com apontamentos de moda contra a chuva bem divertidos, recebeu Keane, cabeça de cartaz deste “very british day”. Estes habitués dos palcos nacionais tocaram pela primeira vez neste que é o primeiro festival da temporada. Tom Chaplin, que sabe como animar uma plateia, manteve o público aconchegado apesar da chuva desagradável que já tinha tomado o corpo a quase todos. Com uma lista de sucessos como “Somewhere Only We Know”, “Everybody’s Changing,” e “Is It Any Wonder?” proporcionaram uma viagem através da carreira da banda.
Com uma base de fãs bem coesa em Portugal as letras foram acompanhadas em coro e com momentos emotivos como aquele em que, sempre comunicativo, o líder da banda apresentou o tema “She Has No Time” primeira música que escreveram para o primeiro álbum, uma altura em que os smartphones não eram comuns, e pediu que acendessem as lanternas cuidando, com um toque do humor que o caracteriza, para terem a atenção de manter bateria suficiente pra conseguirem voltar para casa.
Ela tem raízes portuguesas, ela atrai, ela brilha!
Num dia dedicado especialmente à música brasileira recebemos a maior voz do trap brasileiro da atualidade Wiu, que fez a sua estreia no último dia do North Festival, a 26 de maio, seguido pelo Grupo Menos é Mais, conhecido pelos seus ritmos de pagode. O ritmo aqueceu com a atuação do maior puxador de trio elétrico do Brasil e lenda viva do axé, Bell Marques, e com uma das artistas mais carismáticas do cenário musical brasileiro, conhecida pela sua energia contagiante e presença única em palco: Claudia Leitte, que transportou uma plateia sedenta de Brasil para o seu Carnaval da Bahia extemporâneo com muito axé e ritmo no corpo envolvendo ainda a plateia com uma interpretação emotiva de “Sozinho” de Caetano Veloso.
A sexta edição do North Festival encerrou da melhor forma possível com o espetáculo de Nelly Furtado. A artista esteve afastada das luzes da ribalta por uma temporada e regressou recentemente, como uma força, a prometer tudo. E entregou. Voluptuosa e com a voz cristalina que tão bem recordamos, a cantora luso-canadiana regressou a Portugal, e ao Porto, 20 anos depois de lançar “Força”, hino do Euro 2004.
Nelly, confiante, madura, sensual, num figurino inspirado nos lenços minhotos, revisitou os seus maiores sucessos enquanto os videoclipes passavam no ciclorama. Podemos ouvir “I’m Like a Bird”, “Promiscuous”, “Turn off the lights” e “Maneater” intercalados das faixas do seu álbum mais recente que não só piscam o olho como caem directas na música de dança com rap a apimentar. Uma plateia de jovens de meia idade acolheu com amor aquela por quem gritavam “Nellyzinha”.
Como disse, a pedido de muitos que não a deixariam sair do palco sem o fazer, Nelly Furtado acedeu a cantar o hino do Euro 2004, “Como Uma Força” recebendo em palco uma convidada muito especial, Ana Moura.
Terminou de forma doce o primeiro festival da temporada de verão, no novo bucólico espaço de acolhimento, com uma artista tão acarinhada e que se orgulha da sua história e evolução musical sempre sem medo de se reinventar.