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O Super Bock Super Rock está de volta ao Meco, e nós agradecemos (mais ou menos)

O Super Bock Super Rock está de volta ao Meco, e nós agradecemos (mais ou menos)

Maria Brito
Música no Coração

The Offspring, Franz Ferdinand, Black Country New Road foram alguns dos nomes que marcaram o primeiro dia de Meco, Sol e Rock ‘n’ Roll.

Passou o primeiro dia da 27ª edição do Super Bock Super Rock e houve realmente espaço para rock. Tal como prometia o cartaz, e não fosse esse o nome do festival que se desviou do Meco o ano passado por circunstâncias alheias, a festa do primeiro dia entregou as melhores e mais estridentes guitarras, baterias e baixos, vozes potentes e um som de qualidade a partir de Franz Ferdinand – porque quem tocou antes dessa hora não teve a mesma sorte, infelizmente.

Mas não se iludam: se o Rock (e o punk) estão vivos e até se recomendam, todos os seus descendentes, influentes e primos degenerados encontraram um lugar, ainda que mais modesto, neste dia que, apesar de ser o primeiro, prometia a apoteose.

Assim como qualquer cartaz que se preze, a diversidade também teve espaço, não tivesse este primeiro dia acolhido também nomes como The Legendary Tigerman, 070 Shake, Black Country, New Road ou Father John Misty nas suas peculiares entregas.

Franz Ferdinand foram aqueles amigos com quem fizemos a festa 

Foi uma noite de real partilha para e com Franz Ferdinand. Partilha de energia com um público que tão bem reagiu e fez sua a já conhecida disposição de uma banda escocesa que realmente representa a nostálgica escola das primeiras bandas de indie rock para uma geração. E quando a energia é recíproca logo de início metade do trabalho está feito. Não será certamente assim que pensam Alex Kapranos, Robert Hardy, Julian Corrie, Dino Bardot and Audrey Tait, que mantiveram o entusiasmo do início ao fim, entregando todos os hits que queríamos ouvir, tal como bem enuncia o nome da tour Hits to the Head. A noite de Franz Ferdinand, fez-se de êxitos como “The Dark of the Matineé”, “No you Girls”, “Michael”, “Evil Eys Ulysses” e “This fire”.

 

Black Country, New Road: a banda que ficou sem vocalista, mas que não perdeu a voz

Depois de uma passagem por Lisboa no dia 12 de julho na Galeria Zé dos Bois, casa a que deviam dois concertos por terem cancelado no ano passado, os Black Country, New Road estrearam-se num dos palcos do festival que os decidiu albergar um ano depois do que muitos anteciparam ser o grande acontecimento das suas vidas.

Mas se isto era o que se pensava há uns meses atrás, antes da banda lançar o seu primeiro álbum pós-Isaac, essa crença está hoje irrevogavelmente abalada.

E se dúvidas houvesse sobre o que aconteceria à banda a propósito da perda, achávamos nós também, colossal, de Isaac Wood, o vocalista e frontman de voz sofrida e letras intensas, nada há a temer: o caminho dos Black Country, New Road parece estar a recomeçar.

Porque apesar de terem perdido o vocalista no ano passado para o bem da sua saúde mental, os BCNR não perderam a voz. Nem as letras, nem a técnica, nem a originalidade das composições que denunciam a formação clássica (e as outras influências) do grupo de rock experimental inglês.

Em palco encontrámos May Kershaw nas teclas, o violino por Nina Lim, Tyler Hyde no baixo (e não só), Lewis Evans com o saxofone e a flauta e Luke Mark na guitarra, com todos os elementos a emprestarem a voz.

Faltou apenas Georgia Ellery, elemento de outro projeto, Jockstrap, que teria já marcado a sua presença mais a norte de Portugal, no Primavera Sound, num concerto que não beneficiou nem do espaço, nem do tempo, nem do contexto.

Quase que como no Bush Hall Theatre, o teatro histórico onde foi gravado ao vivo o álbum que a banda lançou este ano, o alinhamento foi feito de pequenos momentos que tanto gritam, “Look at what we did together/BCNR friends forever”, e celebram o grupo como um todo, como de pequenas demonstrações do talento particular de cada elemento.

As palavras quase que escasseiam para um momento daqueles para o qual o melhor mesmo é fechar os olhos e viajar dentro dele. Uma obra-prima a ter o seu lugar num palco demasiado modesto para a grandiosidade que testemunhámos na noite passada.

 

The Offspring: com a nostalgia sempre presente, quem venceu foi a energia caótica dos clássicos do punk rock americano

Se ainda há quem pense que o punk morreu, a noite passada provou o contrário. Neste público encontrámos de tudo: os fãs da nostalgia, os que revisitam a banda com frequência, e até os que chegaram há menos tempo.

E se o espetáculo não se fez só de hits como “Pretty Fly (For A White Guy)”, “The Kids Aren’t Alright”, “You’re Gonna Go Far”, “Kid” e “Self Esteem”, estrategicamente posicionados já para os finais do concerto, The Offspring vieram com tudo: artifícios de palco, pausas de largos minutos de interação com o público, tanto de uma forma irónica ou sarcástica, mas também pateta e estranhamente calorosa por parte, principalmente, dos espirituosos Dexter e Noodles, até aos medleys que entretém até aqueles que não vieram por sua causa.

O que também não é fácil é ficar-se indiferente a uma banda que foi um sucesso completo dos anos 90 e que continua a entregar uma energia estrondosa a partir dos riffs agressivos, da bateria rasgada (uma nota de reconhecimento a Brandon Pertzborn, um baterista que de novo apenas tem o seu tempo na banda) e das linhas de baixo arrepiantes, juntamente com os coros em quase todas as músicas que escolheram partilhar com o público. A banda californiana de punk-pop-rock – não necessariamente por esta ordem – não traz, nem nunca prometeu, novidades, mas também nunca desilude.

 

A propósito da logística, por onde começar? 

Segundo a organização, faltaram “apenas” 2000 pessoas para a casa estar cheia. Num recinto de 20 000 pessoas, 18 000 estiveram neste primeiro dia de festival.

Mas tal como a sensação térmica engana, a sensação desta multidão foi também muito menor que a que os números ditam. Vimos um recinto razoavelmente vazio para o que o festival nos tem habituado, com um campismo também ele mais abandonado que o normal, mas calmo, sossegado e com bastante espaço para quem decidiu basear-se na Herdade do Cabeço da Flauta.

Este foi para nós, que chegámos ao recinto numa tarde de sol tórrida, o primeiro parágrafo da noite de ontem, e não necessariamente o melhor dos inícios.

Depois de uma revista exagerada à entrada, transformada numa procura incessante por algo maior que ela própria, quando colocamos o pé no recinto do festival que já quase nos habituou ao pó, sentimos a desorganização. Da falta de sinalização à de informação por parte do staff, das condições curtas dadas à própria imprensa e ao estado das casas de banho – sem papel nem reposição ao início da tarde – são sinais que estão longe de um festival que vai na sua 27ª edição.

Já sabemos que o ar selvagem e a envolvente natural que caracterizam o Super Bock Super Rock no Meco tem um preço a pagar: se o pó não é novidade, os campos de terra inacabados pelos tractores que se cruzam com a palha, são. E até o que parecia organizado ao início do dia, o estacionamento, acabou por se revelar um pesadelo para quem abandona o recinto pela hora em que James Murphy ainda tocava. Sair do festival demorou uma eternidade maior que o tempo.

Valha-nos o sol, e o rock ‘n’ roll.