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Presente e Futuro: Quando os artistas são substituídos por Hologramas

Presente e Futuro: Quando os artistas são substituídos por Hologramas

António Maurício
Base Hologram

A BASE Hologram criou digressões com músicos falecidos através de hologramas 3D hiper-realistas. Roy Orbison, Maria Callas ou Amy Winehouse são alguns dos artistas incluídos.

Após a morte de um artista, a probabilidade de assistir a um concerto do mesmo torna-se nula, certo? Em 2018, não. Roy Orbison, falecido em 1998, está actualmente em digressão pelos Estados Unidos da América. Graças à tecnologia de hologramas 3D da BASE HologramRoy é realisticamente projectado por um laser que constrói uma imagem tri-dimensional em palco. Canta, toca guitarra e dança com um nível de realismo incrivelmente, real. É acompanhado em palco por uma orquestra (em carne e osso), que o acompanha na performance dos seus maiores hits.

A versão digital de Roy já conta com 28 concertos agendados por toda a América, e já passou pela Europa, onde vendeu 38,000 bilhetes em 15 localizações diferentes. O sucesso desta primeira digressão da BASE Hologram já garantiu um segundo renascimento, Maria Callas. Partindo do mesmo princípio, a cantora de ópera falecida em 1997, vai também entrar em digressão. Os preços variam de sala para sala, mas, por exemplo, o concerto holográfico de Maria Callas em Paris, dia 28 de Novembro de 2018, começa nos 42€ e chega até aos 110€. Amy Winehouse também já garantiu o seu próprio espectáculo virtual patrocinado pela BASE Hologram. Actualmente em fase de produção, o holograma da autora de “Rehab” ou “Back to Black” vai viajar pelo mundo durante três anos, com início no final de 2019. Neste caso específico, as receitas monetárias referentes à família de Amy vão ser directamente para a fundação Amy Winehouse – que ajuda e apoia jovens que lutam contra o abuso de substâncias.

Também Ronnie James Rio e Frank Zappa vão voltar à vida em 2019, nas mãos de uma outra empresa de produção de hologramas, a Eyellusion. O holograma de James Dio vai realizar mais de 100 concertos no próximo ano, relata a Billboard, e incluirá áudio de performances ao vivo do próprio. Por outro lado, a versão digital de Frank Zappa será sempre acompanhada pelos antigos colaboradores (ainda vivos) como Ray White, Mike Keneally, Scott Thunes, Robert Martin e Ed Mann e em alguns dos concertos, Steve Vai, Ian Underwood, Lady Bianca, entre outros, juntam-se ao espectáculo – “The Bizarre World of Frank Zappa”.

Esta não é a primeira vez que a tecnologia holográfica é utilizada. Aliás, de acordo com o TexasMonthly, a inspiração para a digressão de Roy Orbison surgiu na cabeça de Tudor, fundador da BASE Hologram, após assistir ao holograma de Tupac Shakur em 2012, no festival Coachella. Neste exemplo, a imagem do rapper foi projectado numa tela Mylar que reflectia a imagem no palco. Outro exemplo é o de Michael Jackson nos Billboard Awards, mas nenhum deste dois exemplos utilizava a engenharia actual. De acordo com Tudor, a tecnologia utilizada na BASE Hologram é secreta, mas garante que envolve um projecto laser Epson tão potente que se a intensidade for drasticamente aumentada tem a capacidade de furar uma parede.

Os bares, ou pequenos clubes, poderiam adquirir um dispositivo laser e apresentar diariamente performances holográficas de artistas?

Não é difícil imaginar um futuro repleto de concertos holográficos, à la Black Mirror. Com o avanço da tecnologia, a possibilidade de começarem a existir digressões com músicos já falecidos não parece um sonho tão distante. Por outro lado, existe a possibilidade da banalização de criar novas opções para o estado actual das digressões musicais. E se os Metallica, em vez de andarem em viagem por todo o mundo, mandassem uns quantos hologramas para as cidades mais distantes, ou menos rentáveis para pouparem custos? E se, bandas como os Gorillaz ou os Dethklok (conceptualmente virtuais), utilizassem estes métodos para criarem espectáculos que realmente se conjugam com os seus conceitos? Ou até mesmo para a entrada de convidados especiais? Os bares, ou pequenos clubes, poderiam adquirir um dispositivo laser deste tipo e apresentar diariamente performances holográficas de vários artistas? Dentro de uma cronologia onde o visual é quase tão importante como o som em concertos ao vivo, a tecnologia holograma tem várias hipóteses de expansão e desenvolvimento. Questões éticas? No caso das digressões com músicos já falecidos, existe um problema óbvio – não existe consentimento do artista em questão.