O primeiro concerto da farewell tour de Roger Waters foi triunfal e retumbante em Lisboa
Uma deslumbrante produção audiovisual, metade de “The Dark Side Of The Moon” e o magnetismo e imponente presença de um dos músicos mais importantes do último século. Na Altice Arena, o arranque da leg europeia da digressão “This is Not a Drill”, a primeira farewell tour de Roger Waters, foi um triunfal e retumbante concerto.
[nota: não foi permitido à Arte Sonora fazer a habitual reportagem fotográfica]
Depois de uma pausa de 4 anos, Roger Waters regressou no Verão passado à estrada com a digressão “This Is Not A Drill” que, depois do seu périplo pelos Estados Unidos, avançou para a Europa e arrancou precisamente em Lisboa, a 17 de Março de 2023, na Altice Arena. Grandiosa, como habitualmente, acontece com tudo o que rodeia os Pink Floyd e os seus membros, dissidentes ou não, a digressão “This Is Not A Drill” é uma inovadora e cinematográfica extravagância rock, uma apresentação 360ª. É uma óbvia mensagem indirecta à, refere o próprio Roger Waters, «distopia corporativa na qual todos lutamos para sobreviver e um apelo ao AMOR, PROTEÇÃO e PARTILHA do nosso precioso e tão precário planeta terra. Este espectáculo inclui dezenas de grandes canções da era dourada dos Pink Floyd e também algumas novas canções, letras e músicas – todas do mesmo compositor, do mesmo coração, mesma alma, do mesmo homem. Pode ser o seu último grito. Wow! A minha primeira farewell tour! Não percam. Com carinho, R».
Foi o regresso de Waters ao nosso país, depois da aclamada digressão “Us+Them”, que esteve na estrada em 2017 e 2018 e passou também por Lisboa. Passou por muitos sítios. Composta por um total de 156 concertos perante 2,3 milhões de pessoas a nível mundial, incluiu temas clássicos dos álbuns “The Dark Side of the Moon”, “The Wall”, “Animals”, “Wish You Were Here”, dos Pink Floyd, bem como temas do álbum, “Is This The Life We Really Want?”, de Waters. A digressão motivou a realização de um filme documentário que passou nas salas de cinema e, já em Maio de 2020, chegou às plataformas home video. Realizado por Sean Evans e Roger Waters, o documentário é um retrato visceral do ambiente destes concertos. Ao recorrer à mais inovadora tecnologia digital e áudio disponível, este espectáculo topo de gama incorpora várias experiências visuais, sensoriais e de áudio impressionantes. Capta os lendários concertos de Waters e transporta o público para uma viagem estimulante e de grande carga emocional.
Como era esperado, tudo isso foi transposto para o regresso de Roger Waters a Lisboa, que foi uma grande noite de música e de harmonia entre o desempenho dos músicos e o impacto audiovisual. «Se és um daqueles tipos que adora Pink Floyd, mas não suportas as opiniões políticas do Roger Waters, está na altura de ires até ao bar», uma mensagem estampada nos ecrãs da produção e narrada pelo mestre de cerimónias, momentos antes de tudo começar.
Nas mensagens que acompanham “Another Brick In The Wall” (as partes 2 e 3), lê-se: «Controla a narrativa, governa o mundo». E na Altice Arena é Waters quem controla a narrativa e, ainda que o faça com verdade, fá-lo de forma unilateral e polarizada. Aliás, Waters impôs uma estranha configuração de palco, uma cruz a meio do pavilhão, que começa por bloquear a percepção tridimensional dos espectadores. Cada um vê apenas um lado ou lado e meio da verdade, cada um é apenas mais um tijolo na parede. Há muito que o sabemos ou pensamos que o sabemos. A verdade é que, de uma ou de outra forma somos esbofeteados com a noção de que neste mundo de aparências, estamos “Comfortably Numb”. O único desconforto, pelo menos para este romântico que vos escreve, era o condicionamento sensorial imposto por esse monstruoso muro. Quando a cruz começou a subir e nos mostrou todo o palco, todos os músicos, todas as pessoas, a ideia tornara-se bastante clara. Parafraseando o célebre e pitoresco momento televisivo de José Milhazes, os muros que vão para o cacete!