Após a surpresa inicial, o segundo dia formal do SonicBlast, foi o momento oportuno para descobrir a envolvente do mesmo.
O mar a escassas dezenas de metros, o rio e toda a envolvente verde, a menos de um quilómetro da vila piscatória. Quanto ao cartaz, o ecletismo habitual.
Rosy Finch, trio espanhol de grunge e stoner arrancou a tarde, num palco 3 que, só por si, dava um excelente festival de iniciantes. À banda de Alicante, seguiram-se as berlinenses 24/7 Diva Heaven. Recentemente gravaram um tema com Lupus Lindemann, de Kadavar e fizeram questão de o apontar. Já no placo 2, outro nome espanhol, os estranhos Luna Vieja. O psicadelismo negro do quarteto, merecia outro horário, eventualmente em cenário nocturno, para poderem invocar todos os espíritos necessários.
Quando The Machine chega palco 1, há um recuo na originalidade. Os holandeses arrancam, e bem com uma longa jam, parecendo que o concerto ia até ser promissor, mas depois mergulhavam ocasionalmente em temas cantados e num formato mais normalizado de stoner, perdendo toda a mística atingida com a jam. Um trio que acabou a soar mais convencional e inserido no que se fizera no mesmo palco, no dia anterior.
Da Svart Records, um dos selos que mais se aproxima do som do festival, vieram os britânicos Green Lung. Olhando para o cartaz deste festival, podia fazer-se a comparação com Orange Goblin. Ambos os nomes são britânicos e este quarteto, pode bem tornar-se no Heavy Metal das ilhas, aquilo que representa hoje Orange Goblin. Tal como estes, no início de carreira, também Green Lung apresenta um doom metalizado. Tom Templar carrega um timbre de voz peculiar, que traz à memória Greta Van Fleet. Percebe-se que, apesar de já haver vários títulos, tudo ainda é embrionário, mas o potencial está lá.
Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs não são novidade por cá, mas o seu vocalista, Matthew Baty é o centro das atenções e motor do grupo. Claramente se percebe que, ao contrário de outras formações, há no grupo de Newcastle-upon-Tyne, uma capacidade musical acima da média, para a qual muito contribui Adam Ian Sykes e John-Michael. Acontece que a loucura e capacidade musical destes, consegue ser ofuscada por um Matthew e sua linguagem, seja corporal, seja vocal. «Se um desmaiar neste calor, temos uma regra, prosseguir. Se desmaiarem dois, prosseguimos na mesma. Se desmaiarem três, começamos a considerar», foi a forma como Baty se referiu ao calor, ou melhor, ao calor para um britânico, em Portugal. “Reducer” e “Rubbernecker” foram só alguns dos temas que colocaram todos ao rubro, num concerto que levou mesmo Matthew a mergulhar no público.
De seguida, no placo 2, El Perro souberam redimir-se do concerto da noite de arranque. Resultaram melhor como grupo, serviram para acalmar as hostes depois da eletricidade dos britânicos no palco 1. No final, vários instrumentos de percussão em palco, criaram uma jam session interessante com percussão em que metade dos elementos participaram. Seguiu-se, no palco 1, Frankie and The Witch Fingers. Por vezes rock, por vezes mais stoners, oscilaram na qualidade da música oferecida. Sentia-se que o palco era demasiado vasto para o quarteto. No fundo, revelaram-se uma boa oportunidade para jantar, já que o espaço permitia fazer as refeições sem perder a música no palco.
A calmaria musical estabelecida por El Perro e Frankie and The Witch Fingers foi obliterada pela distorção sonora de Conan. Sem as habituais hoodies, com Jon Davis sorridente, usando uma guitarra com corpo transparente, apresentando pelo menos um tema do novo disco, intitulado “Evidence of Immortality”, Conan surgiram mais próximos da audiência que o habitual. Temas como “Satsumo” ou “Battle in the Swamp” compuseram um alinhamento que soube a pouco.
Witch era o segundo nome do cartaz, muito por causa do baterista J Mascis, guitarrista de Dinosaur Jr, acontece que nesta digressão europeia do quarteto de Vermont, EUA, o músico foi substituído por Mario Rubalcaba, de Earthless. Uma substituição estranha e que fez Mario tocar pela terceira vez consecutiva no festival. Restou a Kyle Thomas carregar a banda, num concerto morno, mas que agradou a quem estava por eles. O final do concerto, remetendo para temas mais antigos, fez a actuação subir muitos furos acima do que estava a acontecer até aí. Apesar da curta discografia, é ainda o álbum homónimo que claramente se destaca no trabalho da banda e percebeu-se isso ao vivo.
Moura, vindos da vizinha Galiza, foram a surpresa para muitos e mais um exemplo da programação fora da caixa que percorre o festival. Diego Veiga traz consigo uma trupe de músicos e explora uma mistura de prog, folk e rock, muito à imagem do que se fazia nos anos 70, mas transportado para os anos 20. Com novo disco, “Axexan Espreitan”, já deste ano e segundo do grupo, assentaram o concerto nele, afinal ambos os trabalhos resultam como novidade por cá. Espera-se que regressem mais vezes a território português.
Apesar de toda a qualidade do cartaz, a presença de Electric Wizard era a maior atracção da data. Foram mesmo o grandes cabeças-de-cartaz de todo o festival, mesmo que, estando esgotado, não se sentisse mais gente que nos restantes dias. Jus Oborn tema actuado mais regularmente que nunca e hoje nem se escondeu com cortinas de escuridão. Bem visível no palco, com as habituais projecções vídeo, secundado por Liz Buckingham, na guitarra, com o baixista Haz Wheaton, apesar de jovem, já um ex-Hawkwind, e o baterista Simon Poole. Com um som irrepreensível, mesmo que a qualidade sonora fosse uma das características de ambos os palcos, Jus Oborn foi desfilando clássicos atrás de clássicos, desde o início com “Return Trip”, a outros como “Black Mass”, ou “Incense For The Damned”, terminando com “Funeralopolis”, antecedida pelo maior hino do grupo, “Chosen Few”. Pelo público presente, sentiu-se que foi o dia mais extremo do festival. Já se foi o melhor, dependerá do gosto pessoal de cada um. Certo é que Electric Wizard esteve a anos-luz de tudo que passou pelo festival nestes dias.
No bolso, ou melhor, no canto do cartaz, a organização reservava uns Kaleidobolt. Vindo da Finlândia, ainda este ano, o trio tinha estado presente em Portugal. Inscritos no stoner, possuem uma vertente virtuosa que os coloca no campo do prog. Das cordas de Sampo Kääriäinen e Marco Menestrina fluem catadupas de notas. É imaginar uns Rush em versão stoner e pode estar-se perto do que é Kaleidobolt, ou, ainda melhor, do que eles transmitem. Completa antítese sonora dos britânicos Electric Wizard que seguram a nota até à máxima distorção. Após a sua actuação, The Goners ainda subiram ao palco 3, palco demasiado tardio para realmente ser apreciado.