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Xutos e Pontapés na MEO Arena: Um X cravado na alma do rock português

Xutos e Pontapés na MEO Arena: Um X cravado na alma do rock português

Redacção
Nuno Cruz

A tour de celebração de 45 anos de “Vida Malvada” chegou a Lisboa e mais uma vez arrastou cerca de 15.000 pessoas que encheram a MEO Arena.

Os Xutos e Pontapés voltaram a convocar a grande família do “X” para mais um encontro, desta vez na capital. Como era de esperar, a adesão foi massiva, e a maior sala de espetáculos do país encheu-se para entoar, em uníssono, um poderoso “Olá, Vida Malvada”. Dos miúdos, alguns, provavelmente, a viver a experiência do seu primeiro grande concerto, aos cabelos brancos dos veteranos que já perderam a conta às noites passadas ao som dos Xutos, todos se juntaram para celebrar uma das maiores bandas de sempre do rock português.

Mas falar de um concerto dos Xutos & Pontapés é quase redundante. Poderíamos contar “tintim por tintim” tudo o que aconteceu no dia 22 de fevereiro na MEO Arena, poderíamos revisitar, ao estilo Wikipédia, cada capítulo desta vida malvada, mas não o vamos fazer. Porque, no fundo, não é preciso: os Xutos sentem-se, vivem-se, gritam-se a plenos pulmões.

Meu General foi o projecto, com aquele rock clássico tuga, que teve a responsabilidade de abrir as hostes. É sempre uma difícil tarefa ser os primeiros, ainda com uma sala vazia, Gilberto Pinto e companhia fizeram o que lhes competia, mostrando a sua atitude rock ‘n’ roll. João Cabeleira, que participa na malha “A Vida Está Lá Fora” do álbum “Coração Máquina”, editado em 2024, subiu a palco para tocar “Isso” com o projecto do portuense.

Meu General foi um dos projetos escolhidos para abrir as hostes, trazendo consigo aquele rock clássico bem à portuguesa. A tarefa de dar o pontapé de saída nunca é fácil, especialmente quando a sala ainda está a compor-se, mas Gilberto Pinto e companhia cumpriram a missão com atitude e energia rock ‘n’ roll. O momento alto da atuação chegou com a subida ao palco de João Cabeleira, que se juntou à banda para interpretar “Isso”, reforçando a ligação já criada no tema A Vida Está Lá Fora, do álbum “Coração Máquina” (2024).

A seguir, os Conjunto!Evite subiram ao palco para provar que reduzi-los à “banda dos filhos do Tim” é uma visão demasiado limitada. O quinteto de Rock Progadélico traz uma fusão poderosa de elementos psicadélicos, a ousadia do rock progressivo e uma boa dose de ritmo, exploração e aventura musical. Com Vicente Santos nos teclados e voz, Fábio Neves na guitarra elétrica e lap steel, Manuel Belo na guitarra elétrica e efeitos, Sebastião Santos na bateria e voz, e Zé Devesa no baixo, a banda entrega um som cantado em português, experimental e eclético. Instrumentalmente muito bons e a viagem em “Se7e”, extraída do EP homónimo, mostra tudo o que conseguem fazer. Tim subiu a palco para acompanhá-los em “Preciso de um copo”. A sua identidade musical remete para referências como King Gizzard & the Lizard Wizard, Ozric Tentacles e Porcupine Tree, com camadas sonoras ricas e imprevisíveis.

Debaixo do imponente “X” suspenso sobre o palco, o público da MEO Arena fez aquilo que sabe fazer melhor: celebrou os Xutos & Pontapés com a entrega de quem sente cada acorde na pele.

O arranque fez-se ao som de Vida Malvada, o tema que dá nome ao espetáculo e que já se tornou um hino para a nova geração de fãs. Tim prometeu e cumpriu: «Vamos tocar até doer.» E assim foi. Durante mais de duas horas, o desfile de malhas fez-se sem grandes conversas – havia demasiadas canções que, num concerto de comemoração dos 45 anos, simplesmente não podiam ficar de fora.

O alinhamento percorreu diferentes fases e álbuns da banda, e já se sabe a festa que se instala quando ecoam os primeiros acordes de “Ai Se Ele Cai”, “Dia de S. Receber“, “Chuva dissolvente“, “Maria“, “Contentores”, “Mariaou “Minha Casinha“. Negras Como a Noite” soou magnífica, com João Cabeleira a esgalhar na sua fiel Washburn.

Kalú e a sua “Xaron” marcaram o ritmo com a mestria de sempre e Gui, continua a ser o membro mais discreto, mas essencial no som dos Xutos. Tim é o valente timoneiro, e mesmo com as partidas que a idade vai pregando, leva a sua voz sempre a bom porto. Já Tiago Ferreira cumpre exemplarmente a missão de perpetuar o legado de Zé Pedro, que, aliás, nunca deixou de estar presente.

Tim relembra que “Mar de Outono”, tem as últimas linhas de guitarra que Zé Pedro gravou com a banda. A dada altura, Zé Pedro aparece nos ecrãs a agradecer todo o carinho dos fãs e relembramos o seu espírito punk com “Submissão”.

Claro que não faltaram algumas das mais belas canções que os Xutos escreveram: “Não sou o único”, “Circo de Feras”, Para Sempre” e o “O Homem do Leme“.

A vida pode ser malvada, mas sob o signo do X, tudo se esquece ou tudo se dissolve.