AS10 | Quando o Metal se encontra com a Orquestra
Do heavy metal clássico ao black metal, do thrash metal ao metalcore, passando, naturalmente, pelo metal sinfónico, são várias as bandas de música pesada que procuraram ao longo das décadas reinventar a sua música ao vivo através de concertos colaborativos com orquestras.
Que o heavy metal e a música clássica têm muito em comum, isso não é segredo. Subgéneros como o metal neoclássico e o metal sinfónico contribuíram para essa ligação, assim como aspetos técnicos e teóricos como o virtuosismo, a ornamentação elaborada, a criação de tensão e consequente libertação e o uso de acordes dissonantes como o trítono.
Desde os anos 60, bandas dos mais diversos subgéneros de heavy metal têm explorado essa ligação através de concertos com orquestras. O objetivo sempre foi o mesmo, criar uma moldura sonora épica, muitas das vezes com contornos cinematográficos, que eleve as obras musicais para um patamar de sublimidade.
Agora, na ressaca do anúncio do concerto dos Moonspell com a Orquestra Sinfonietta Lisboa, apresentamos aqui uma lista daqueles que, para nós, são os mais interessantes concertos colaborativos entre bandas de heavy metal e orquestras.
Deep Purple – Concert for Group and Orchestra (1969) | A 24 de Setembro de 1969, os Deep Purple subiram ao palco do Royal Albert Hall, em Londres, para apresentar um projeto inédito: um concerto orquestral composto por Jon Lord com letras escritas por Ian Gillan. Acompanhados pela Royal Philarmonic Orchestra, com direção a cargo de Malcolm Arnold, a banda interpretou os três movimentos da peça: um primeiro instrumental em Moderato – Allegro, um segundo com as letras de Gillan em Andante e um terceiro instrumental em Vivace – Presto. Além do “Concert for Group and Orchestra”, a setlist ainda contou com a Sinfonia Nº6 de Malcolm Arnold, interpretada exclusivamente pela Royal Philarmonic Orchestra, e com os temas dos Deep Purple “Hush”, cover de Joe South que a banda gravou para o álbum “Shades of Deep Purple”, “Wring That Neck” e “Child In Time”, as três tocadas só pela banda. Um segundo concerto com o mesmo repertório, mas com a Los Angeles Philarmonic Orchestra liderada por Lawrence Foster, aconteceu a 25 de Agosto de 1970 no Hollywood Bowl. Desde então os Deep Purple nunca mais recriaram este espetáculo porque a partitura perdeu-se nos anos 70.
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Metallica – S&M (1999) | A ideia inicial dos Metallica combinarem o seu thrash metal com uma abordagem clássica surgiu nos anos 80 através do baixista Cliff Burton, fã confesso da obra de Johan Sebastian Bach. Com alguns elementos melódicos de influência clássica a surgirem nas suas composições, a ideia ganhou novos contornos quando a banda colaborou pela primeira vez, em 1991, com o maestro Michael Kamem para adicionar um ensemble de cordas à gravação de “Nothing Else Matters”. Quando finalmente se conheceram em 1992 nos Grammys, Kamen sugeriu aos Metallica a realização de um concerto com orquestra. A proposta ficou no ar, mas apenas se concretizou em 1999, quando a 23 de Novembro a banda subiu ao palco do Berkeley Community Theater para tocar com a San Francisco Symphony sob a direção de Kamen. Gravado em áudio e vídeo, “S&M” revelou-se um sucesso tremendo, tendo conseguido alcançar a marca da RIAA (Recording Industry Association of America) de 5x Disco de Platina. Em 2019, os Metallica decidiram assinalar o 20º aniversário de “S&M” com uma recriação desse espetáculo único. Nas duas datas que marcaram a grande abertura do novo Chase Center de São Francisco os Metallica apresentaram-se com a San Francisco Symphony sob as batutas de Edwin Outwater e Michael Tilson Thomas. Este espetáculo foi mais tarde lançado com o titulo “S&M2”.
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Bring Me The Horizon – Live at the Royal Albert Hall (2016) | Em 2015, os Bring Me The Horizon foram convidados para fazer um concerto no Royal Albert Hall de beneficência para o Teenage Cancer Trust, uma instituição de caridade do Reino Unido. Cientes de que seria um espetáculo único e especial, a banda de Oli Sykes decidiu proporcionar aos fãs um concerto inédito em colaboração com uma orquestra. A escolha recaiu no maestro Simon Dobson e na sua Parallax Orchestra. Gravado a 2 de Abril de 2016, o concerto, que também contou com um coro, trouxe as estreias ao vivo de “Avalanche” e “Oh No” de “That’s The Spirit” (2015) e ainda o regresso à setlist de “It Never Ends” e “Empire (Let Them Sing)”. Simon Dobson compôs ainda a introdução do concerto, a “Overture: At the Earth’s Curve”, que colou harmoniosamente a “Doomed”. O trabalho de Dobson com os Bring Me The Horizon foi extremamente saudado e não tardou para que o maestro e a sua Parallax Orchestra fossem novamente requisitados para colaborar com outra bandas de heavy metal.
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Dimmu Borgir – Forces of the Northern Night (2011) | Dentro do black metal, os Dimmu Borgir são os principais representantes da vertente sinfónica. A entrada do teclista Mustis para a banda, em 1998, é considerado o momento transição entre os Dimmu Borgir mais agrestes de “For All Tid” (1995), “Stormblåst” (1996) e os Dimmu Borgir mais refinados de álbuns como “Puritanical Euphoric Misanthropia” (2001) e “Death Cult Armageddon” (2003). Ambos gravados com o auxilio da Gothenburg Symphony Orchestra e da Prague Philharmonic Orchestra, respetivamente, era apenas uma questão de tempo até os Dimmu Borgir conseguirem replicar fielmente ao vivo toda a magnitude sonora dos seus álbuns. Estávamos então a 28 de Maio de 2011 quando a banda se apresentou no Oslo Spektrum com a Norwegian Broadcasting Orchestra e o Schola Cantorum Choir. O concerto, que foi transmitido em direto no canal de TV nacional da Noruega, NRK, foi posteriormente editado em DVD e Blu-ray sob o nome “Forces of the Northern Night”. Já em 2012, num concerto especial para o festival Wacken Open Air, os Dimmu Borgir apresentaram um espetáculo semelhante, desta vez com a colaboração da Czech National Orchestra.
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Dream Theater – Score (2006) | Inserido na tour “A Very Special Evening with Dream Theater”, que assinalou o 20º aniversário da banda, os Dream Theater colaboraram no seu espetáculo final, no Radio City Music Hall, em Nova Iorque, com a The Octavarium Orchestra sob direção do maestro Jamshied Sharifi. “Six Degrees Of Inner Turbulence”, “Vacant”, “The Answer Lies Within”, “Sacrificed Sons”, “Octavarium” e “Metropolis” foram as faixas que receberam o tratamento sinfónico, num concerto que contou ainda com clássicos como “The Root of All Evil”,” Under a Glass Moon” e “The Spirit Carries On”.
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Alter Bridge – Live at the Royal Albert Hall (2017) | Estávamos em 2016 quando os Alter Bridge se apresentaram pela primeira vez na O2 Arena de Londres. O momento era de celebração, mas Tim Tournier, manager da banda, já estava com os olhos virados para a próxima meta: um concerto dos Alter Bridge com uma orquestra. Tournier fez a proposta à banda e esta aceitou, apesar de achar que era algo que estava completamente fora do seu alcance. Certamente fãs do concerto que os Bring Me The Horizon tinham dado no Royal Albert Hall naquele mesmo ano, os Alter Bridge optaram por marcar os seus dois espetáculos para a mesma sala e recrutar Simon Dobson e a sua Parallax Orchestra para os acompanharem. O resultado foram dois concertos, nos dias 2 e 3 de Outubro de 2017, que elevaram a música dos Alter Bridge para níveis de epicidade estratosféricos. Faixas raras na setlist como “The End Is Here” e a estreia ao vivo de “Words Darker Than Their Wings” foram dois dos momentos de maior destaque.
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Septicflesh – Infernus Sinfonica MMXIX (2019) | Captado no Metropolitan Theatre na Cidade do México diante de 3 200 fãs, “‘Infernus Sinfonica MMXIX” apresenta os deuses gregos do death metal sinfónico, Septicflesh, com a Experience Symphony Orchestra, guiada pelo maestro Gerardo Urbán Y Fernández, e o Children and Youth Choir of the National University of Mexico. O concerto em si já era digno de registo, mas a banda grega ainda quis oferecer mais aos fãs e trouxe a palco o colaborador de longa data, vocalista e cofundador da banda Sotiris Vayenas, naquela que foi a sua primeira presença na América do Norte com a banda.
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Architects – For Those That Wish To Exist at Abbey Road (2022) | “For Those That Wish To Exist at Abbey Road”, capta um concerto histórico nos icónicos estúdios Abbey Road: lar espiritual de lendas como os The Beatles e Pink Floyd. Depois terem editado “For Those That Wish to Exist” em 2021, os Architects decidiram oferecer algo mais aos fãs para ajudar a superar o período pandémico. Com composições e arranjos, mais uma vez, de Simon Dobson e com a participação da Parallax Orchestra, os Architetcs regravaram o álbum “For Those That Wish to Exist” ao vivo com uma reinterpretação orquestral.
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TÝR – A Night at the Nordic House (2020) | Mesmo antes da pandemia fustigar a Europa, os TÝR deram o concerto mais significativo da sua carreira. Na The Nordic House, na sua cidade nativa de Tórshavn, nas Ilhas Faroé, a banda juntou-se à Symphony Orchestra of the Faroe Islands e apresentou de forma gloriosa as suas músicas sobre as grandes lendas da mitologia nórdica.
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Epica – Retrospect (2013) | Os Epica são uma das bandas que mais se destacaram no subgénero do metal sinfónico, e as suas composições, carregadas de elementos orquestrais, fazem precisamente jus ao seu nome. A primeira experiência dos Epica a tocar ao vivo com uma orquestra foi em “The Classical Conspiracy”, de 2008, onde tocaram na Hungria com a Extended Hungarian Remenyi Ede Chamber Orchestra e o Choir of Miskolc National Theatre. Em 2013, a banda decidiu voltar a fazer-se acompanhar da mesma orquestra e coro para um concerto de celebração do seu 10º aniversário, que decorreu em Eindhoven, nos Países Baixos. Além do repertório da banda neerlandesa, também foram tocados, tal como acontecera em “The Classical Conspiracy”, vários excertos de peças de música clássica e de bandas sonoras de cinema, como foi o caso do Presto das “Quatro Estações” de Antonio Vivaldi, do “Stabat Mater Dolorosa” do “Stabat Mater” de Giovanni Battista Pergolesi e as “Battle of the Heroes e Imperial March”, ambas composições de John Williams da banda sonora de “Star Wars”.