AUDIOGEST | A relevância e os desafios dos prémios play para a indústria musical em Portugal
Poucas semanas após ter-se tornado público que a próxima edição dos Play – Prémios da Música Portuguesa, será promovida exclusivamente pela AUDIOGEST e acontecerá no dia 3 de abril de 2025, faz sentido olhar para a relevância do seu formato.
A fase de candidaturas decorreu até ao dia 15 de janeiro e o Regulamento pode ser consultado aqui.
Estes prémios, cuja primeira edição aconteceu em 2019, tornaram-se numa marca de referência no panorama musical português, refletindo não apenas o talento dos artistas nacionais, mas também a capacidade do país em reconhecer-se e celebrar a sua própria produção musical.
Sob a gestão da AUDIOGEST (Entidade de Gestão Coletiva de Direitos dos Produtores Fonográficos, representando também os direitos e interesses da Indústria da Edição Musical em Portugal), os prémios buscam realçar a importância da música portuguesa e fortalecer uma indústria que enfrenta desafios num mercado cada vez mais globalizado e dominado por produtos culturais internacionais. No entanto, para além do valor de celebração, os Prémios Play também suscitam reflexões críticas sobre o seu papel e impacto real no fortalecimento da música portuguesa e na diversificação do mercado nacional.
Desde a primeira hora que a missão dos Prémios Play tem sido celebrar a música portuguesa, tendo-se tornado, sem dúvida, um elemento fundamental para a preservação e promoção da mesma.
Mas, ano após ano, surge a questão: até que ponto os prémios conseguem equilibrar o foco na valorização artística com a valorização do êxito que os artistas tiveram junto do público? Em primeiro lugar, com a elaboração de listas de indicados onde são aplicados critérios volumétricos para selecionar os 30 artistas com melhor desempenho no ano anterior. Obviamente que este método não é perfeito e poderá deixar sempre muito talento “de fora”, mas, por outro lado cria identificação com o público, que reconhece os artistas que estão nomeados.
Obviamente que este método não é perfeito e poderá deixar sempre muito talento “de fora”, mas, por outro lado cria identificação com o público, que reconhece os artistas que estão nomeados.
Por outro lado, ao longo das 6 edições passadas, tentaram criar-se categorias que celebrem vários estilos musicais, tornando os Prémios Play cada vez mais abrangentes. Caso disso foi a adição da categoria “Prémio Canção Ligeira e Popular”, em 2024, que reconhece a importância cultural (e também económica) deste género, tantas vezes menosprezado por alguns setores. Nesta edição há até um certo equilíbrio entre as categorias que têm o acesso determinado por critérios volumétricos (6 categorias) e as que estão apenas sujeitas a candidatura (7 categorias).
Visibilidade e Impacto: Os Limites da Exposição Mediática
Os Prémios Play atingem um amplo público através da sua transmissão televisiva pela RTP, que alcança cerca de 420 mil espectadores por ano, para além de campanhas promocionais em rádio, televisão e até nas ruas. Contudo, a visibilidade mediática dos prémios levanta uma questão central: qual é o impacto real desse alcance na carreira dos artistas e na indústria discográfica como um todo? Para alguns dos vencedores e nomeados, estar nos Prémios Play pode impulsionar a popularidade e traduzir-se em maior visibilidade e um aumento temporário de “plays” nas plataformas de streaming. Porém, a persistência desse efeito depende de estratégias de longo prazo que vão além de um evento anual.
Num mercado onde o sucesso é cada vez mais volátil, os Prémios Play enfrentam o desafio de ser mais do que um momento de celebração isolada, precisando encontrar formas mais consistentes e duradouras, com uma presença mais consistente no panorama musical nacional. Assim, a estrutura atual dos Play tem procurado questionar-se sobre qual a forma de tornar este projeto em algo mais robusto.
Representatividade e Inclusão: Um Espelho da Comunidade ou da Indústria?
Com uma Academia composta por cerca de 200 membros dos setores da música e da cultura portuguesa, os Prémios Play possuem uma base de votação bastante representativa da comunidade artística e cultural, que visa sobretudo garantir a qualidade e seriedade do evento.
Por outro lado, houve a preocupação de possibilitar ao público uma participação ativa na escolha, pelo que se abriu a votação na categoria “Canção do Ano”, o que criou um elemento de proximidade com aqueles que, todos os dias, ouvem a música que se faz em Portugal.
Finalmente, ao posicionarem-se como os únicos prémios exclusivamente dedicados à música portuguesa, os Prémios Play assumem uma responsabilidade única para com a indústria musical nacional. É frequente, em conversas com pessoas fora da estrutura organizativa, ouvir falar da falta de representatividade nos Play – mas será mesmo assim? Em 2024 o Prémio Artista Revelação foi atribuído a Leo2745, reafirmando o crescimento do Hip-Hop consciente no cenário português. Ele junta-se a uma extensa mostra de artistas, muito eclética, nos estilos e nos públicos, que têm vindo a ser galardoados nas várias categorias, dos Play, como Diabo na Cruz (2019), Conan Osíris (2019), Capitão Fausto (2020), Lena d’Água (2020), Branko (2020), Clã (2021), Capicua (2021), Paulo Flores (2022), Ana Moura (2022/2023), Calema (2023), Nena (2023), Slow J (2023/2024) só para citar alguns.
O Futuro dos Prémios Play e a Sustentabilidade da Música Portuguesa
Os Prémios Play representam uma importante iniciativa de valorização da música nacional. Não temos ilusões: o seu impacto na indústria discográfica precisa de ser constantemente avaliado e aprimorado, continuando a adaptar-se às necessidades do público. Dessa forma, os Prémios Play poderão não apenas celebrar os sucessos do presente, mas também ajudar a construir um futuro mais dinâmico e sustentável para a indústria musical em Portugal.