Passadas duas décadas do lançamento do clássico “Ascendancy”, os Trivium decidiram ir para a estrada celebrar o álbum que não só catapultou a sua carreira, mas também revolucionou um género. A banda chega a Lisboa no dia 26 de Fevereiro para um concerto no Campo Pequeno onde o álbum será tocado na integra.
Descrito por muitos como um dos melhores álbuns de metalcore de sempre, “Ascendancy” (2005) é sem dúvida um registo que revolucionou todo um género que, até então, era menosprezado pelos puristas do heavy metal. Articulando na perfeição elementos de heavy metal clássico, thrash metal e death metal melódico, os Trivium conseguiram criar um espaço sonoro diferenciado na chamada nova vaga do heavy metal americano.
Vinte anos depois, os Trivium decidiram retribuir todo apoio dado pelos fãs com uma tour conjunta com os seus contemporâneos Bullet For My Valentine. Em regime de co-headline ambas as bandas estão a celebrar a efeméride dos seus dois álbuns mais emblemáticos: “Ascendancy” e “The Poison.
A tour vai passar por Lisboa, mais precisamente pelo Campo Pequeno, no dia 26 de Fevereiro e em jeito de antevisão, a Arte Sonora esteve à conversa com o guitarrista Corey Beaulieu sobre o processo de composição e de produção do álbum, o gear utilizado em estúdio, um concerto icónico em terras de sua majestade, um projeto único que juntou os Trivium a King Diamond e ainda um amigo muito especial que poderá comparecer no concerto de Lisboa.
“Ascendancy” foi o primeiro álbum dos Trivium a contar com o trio que forma o núcleo da banda, tu, o Matt Heafy e o Paolo Gregoletto. Sentiram logo que existia uma química musical forte entre os três?
Quando o Paolo se juntou à banda nós já tínhamos terminado o processo de composição do álbum. Mas quando começámos a tocar juntos e a fazer tours, ainda antes de gravar o “Ascendancy”, sentimos que tínhamos uma boa química e eventualmente isso revelou-se no processo criativo dos álbuns pós-“Ascendancy”. Assim que ele entrou na banda vimos logo que tinha o mesmo mindset, as mesmas influências e o mesmo percurso musical que eu e o Matt tivemos. Bem vistas as coisas estamos juntos há 20 anos, portanto definitivamente que tem resultado para nós.
Durante as sessões do álbum trabalharam com o produtor Jason Suecof. Ele já tinha produzido o vosso primeiro álbum de estúdio “Ember To Inferno” (2003). Porque é que o escolheram para produzir os vossos três primeiros álbuns e o que é que ele trouxe ao “Ascendancy”?
Ainda antes do “Ember To Inferno”, o Jason trabalhou com os Trivium na demo azul, também conhecida como “Caeruleus” (2003). Ele era um produtor em ascensão. Aliás antes do “Ascendancy” lançámos outra demo (Flavus “The Yellow Demo” (2004)) que nos levou a assinar com a Roadrunner Records e que tinha as versões originais da “Like Light to the Flies”, da “The Deceived” e da “”Blinding Tears Will Break the Skies”. Portanto, quando chegou a altura de fazer o álbum já tínhamos uma boa relação de trabalho com ele e então decidimos continuar. As pessoas não o conhecem muito bem, nem o seu trabalho, mas o Suecof é um excelente cantor, músico e compositor. Até então, nunca tinha gravado um álbum e tinha estado muito pouco tempo em estúdio, tê-lo ao nosso lado foi sem dúvida benéfico.
Recordo-me estarmos a tocar nessa tour a versão original da “Pull Harder On The Strings of Your Martyr”, que tinha um refrão diferente, e alguém da equipa dos Machine Head ter-nos dito que a música era boa, mas que o refrão não prestava.
“Pull Harder On The Strings Of Your Martyr” é uma das maiores músicas dos Trivium e, provavelmente, a que melhor define a sonoridade do álbum. Como é que foi o processo de composição dessa música? Começou com a icónica introdução de bateria?
Sei que o Matt tinha o riff que abre a música. Muitas das coisas do “Ascendancy” surgiram na nossa sala de ensaios. Sempre que começávamos um ensaio, antes de tocarmos o material do “Ember To Inferno”, aquecíamos e alguém tocava algo até se transformar numa jam. Músicas como a “Rain” ou a “Like Light to the Flies” surgiram assim. Lembro-me do Travis (Smith) (baterista original dos Trivium) tocar uma versão da introdução, não sei se já era a versão final do álbum, e do Matt dizer que tinha um riff. O resto da música surgiu nas jams. Lembro-me também quando fizemos a Roadrunner Roadrage Tour a abrir para os Machine Head, antes de irmos para estúdio gravar o “Ascendancy”, usámos essa tour como ensaio. Não tocámos nada do “Ember To Inferno”, só material do “Ascendancy” com as versões que tínhamos na altura. Recordo-me estarmos a tocar nessa tour a versão original da “Pull Harder On The Strings of Your Martyr”, que tinha um refrão diferente, e alguém da equipa dos Machine Head ter-nos dito que a música era boa, mas que o refrão não prestava. Então quando fomos para estúdio reescrevemos o refrão com a ajuda do Jason Suecof.
Para os videoclipes dos singles do “Ascendancy” usaste uma Jackson DX10D, uma KV2 King V e uma Ibanez RG1527. Lembras-te qual foi o gear que usaste para gravar o álbum?
Para gravar solos e leads acho que usei uma Ibanez JEM de sete cordas do Jason, uma daquelas guitarras icónicas com o acabamento preto e os pickups verdes. Ele tinha uma dessas e por uma razão qualquer, quando estávamos a gravar, ele disse-me para usá-la. Já as partes de ritmo, essas foram gravadas com uma guitarra feita de forma artesanal, não era de marca. Em relação aos amplificadores não me lembro com o que é que gravámos, mas sei que quando fizemos a mistura o Andy Sneap reamplificou algumas coisas com um velho Peavey 5150 Block Letter.
Em 2005, os Trivium foram convidados para abrir o palco principal do festival Download, em Donington, no Reino Unido. O que é que esse concerto significou para vocês enquanto banda em ascensão?
Naquela altura não ficou assim nada registado. Morando na América não ouvíamos muito falar dos festivais europeus. Para nós foi mais um dia no escritório. Aliás, só começámos a ter percepção desse concerto quando começámos a fazer o circuito dos grandes festivais. Na altura não tínhamos quaisquer expectativas sobre o que iria acontecer. Fomos directamente do terceiro palco para o palco principal e a quantidade de pessoas que apareceram tão cedo naquela manhã e a reação que tivemos foi incrível. Acho que entretanto alguém nos colocou no top 10 dos melhores sets de sempre do Download. Sem dúvida que foi um grande momento para nós, especialmente no Reino Unido. Tudo estava a acontecer muito rápido e esse momento foi o culminar de tudo.
No mesmo ano também foram convidados para participar no projeto Roadrunner United, com o Matt a ser o capitão de uma das equipas. Como é que foi essa experiência?
Eu só apareci e toquei. O Matt esteve obviamente mais envolvido como capitão. Compôs muita coisa. Ele também foi o último a ser chamado, então teve que trabalhar mais rápido. O pessoal da Roadrunner não queria ter os mesmos músicos a tocar em todas as músicas, queria uma certa diversidade e no meio disto tudo viraram-se para o Matt e disseram-lhe que ninguém tinha chamado o King Diamond para gravar uma música. Então incentivaram-no a fazê-lo. Lembro-me de estar no Ozzfest a falar com o Matt quando ele pediu-me umas quantas músicas do King Diamond para saber o que compor, pois não estava familiarizado com a música dele. Então dei-lhe algumas sugestões e no fim acho que ele fez um trabalho fantástico. Quando chegou o momento da gravação nem estava à espera de tocar, mas o Monte (Conner) (Presidente de A&R da Roadrunner Records entre 1988 e 2012) começou a falar que a música do King Diamond pedia uma banda com guitarras em harmonia, então chamaram-me para aparecer no estúdio para gravar umas partes. No vídeo que capta o making of do Roadrunner United é possivel verem-me a gravar os solos num único take. Não me lembro de ter tocado mais do que isso.
E como é que foi o concerto do Roadrunner United? Tocaram a “Pull Harder On The Strings of Your Martyr” com o Robb Flynn, certo?
Sim, isso foi muito fixe. Adorava também ter tocado a música que gravámos com o King Diamond, mas ele não pôde estar presente. Então acabámos por tocar com o Robb. Acho que já tocámos a “Pull Harder On The Strings of Your Martyr” com ele algumas vezes. Eu sei que há uma gravação em dvd desse concerto e lembro-me de estarmos no Japão, no Rock Rock Bar, em Osaka, e isso começar a dar na televisão do bar. Nunca tinha visto essa gravação e nem sequer sabia que o concerto tinha sido captado então ficámos a olhar para a televisão meio surpreendidos sem saber se eramos nós que estávamos a tocar. Uma coisa que as pessoas não sabem é que o Joey Jordison (ex-baterista dos Slipknot) quase que tocou connosco nessa música. Foi assim uma coisa de última hora.
Nesta tour estão a tocar a “In Waves” no encore. Porém, sempre que vêm a Portugal acrescentam uma música muito especial à setlist. Posto isto, podemos esperar ouvir a “Coração Não Tem Idade” com o Toy? E podes falar-nos um pouco sobre a experiência de tocar com o Toy em Lisboa no VOA Heavy Rock Festival de 2019?
Toda essa história foi, e tem sido, uma loucura. O Toy é incrível. Na última vez que tocámos em Lisboa falámos com ele para vir a palco tocar connosco, mas acho que ele estava em tour. Mas sei que o Matt tem estado a trocar mensagens com ele para fazermos algo. Ele na altura cantou a “Until The World Goes Cold”, mas visto que esta tour é dedicada ao “Ascendancy” não estamos a tocar os outros álbuns. Acho que o Matt falou com ele sobre cantar a “Dying In Your Arms” e ele mostrou-se receptivo. Nesta tour estamos a alternar a abertura e o fecho dos concertos com os Bullet For My Valentine. Em Portugal vamos fechar a noite, portanto estamos a tentar pensar numa forma de encaixar a nossa versão da “Coração Não Tem Idade”. Porque a única vez que o fizemos foi nesse festival. Nunca tinha ouvido a música e o Toy estava no nosso camarim, então tentámos rapidamente criar uma versão metal e foi isso que motivou depois a gravação em estúdio. Desde então, sempre que nos preparamos para tocar em Portugal todos perguntam se o Toy vai lá estar. É uma espécie de cameo que está agarrado a nós. Mas é divertido, porque é uma combinação sonora muito interessante e que entusiasma toda a gente.