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ENTREVISTA | DJ Diego Miranda: Tensão, Energia e Emoção

ENTREVISTA | DJ Diego Miranda: Tensão, Energia e Emoção

Nuno Sarafa

Com um trajecto assinalável e que teve início aos 14 anos de idade, o DJ Diego Miranda desde cedo ganhou preponderância no panorama português, ao lado dos melhores nomes nacionais e internacionais, tanto que recentemente foi considerado, pela conceituada revista britânica DJMAG, o 47º melhor DJ do mundo.

De regresso ao Rock in Rio no dia 26 de Junho, para actuar no Galp Music Valley, e ao O Sol da Caparica no dia 14 de Agosto, conversámos com Diego Miranda sobre várias das suas proezas, entre as quais o facto de ser considerado o 47º melhor do mundo e ser o primeiro português a subir ao palco principal do festival Tomorrowland, na Bélgica, considerado o maior evento de música electrónica do mundo.

O DJ português, que tem como principais cartões de apresentação os temas “Nashville”, em colaboração com a famosa dupla Dimitri Vegas and Like (pela Smash The House), e “Boomshakalak” (pela Revealed Records), chegou também ao primeiro lugar de vendas da beatport, o maior portal de vendas especializado em música electrónica.

Um dos seus temas mais recentes, “With U” feat. Mia Martina, já atingiu mais de 1 milhão de streamings no YouTube e o vídeo foi gravado em Portugal, numa actuação de Diego Miranda no forte da Nazaré, com imagens do nosso país que estão a correr mundo.

Diego Miranda, que criou o seu próprio caminho como produtor, foi também o único DJ português nomeado pela MTV como Melhor Artista Português, por dois anos consecutivos, e é ainda responsável pela editora digital “Less is More Records”, que promove vários talentos nacionais e internacionais.

A Arte Sonora quis perceber a fórmula do sucesso de Diego Miranda e espreitar um pouco do gear que o DJ e produtor utiliza em estúdio e em palco.

Tinhas 14 anos quando começaste. Como chegaste à música electrónica e logo tão jovem?
O interesse por electrónica começou aos 14 anos. Dois dos meus melhores amigos eram DJs de techno e admirava-os bastante. Com o Michael Angelo e o John-e comecei a praticar, a produzir em estúdio, ganhei o gosto e desde aí nunca mais parei. A primeira festa que toquei foi na Ericeira, onde passei a adolescência, na antiga discoteca Virtual. Tinha 16 anos e foi um festão, gostaram tanto que me convidaram logo para outro grande evento com artistas internacionais, como o lendário Carl Cox, através do visionário empresário Nuno Carvalho, que produziu eventos como o Olá Love 2 Dance.

Quando começaste, imaginavas a carreira que virias a construir entretanto? O que imaginavas vir a fazer, naquela atura?
Quem me conhece sabe que sou uma pessoa persistente, lutadora e exigente! Logo, assim que comecei a ganhar paixão por esta profissão, não sabia onde ia chegar mas comecei a delinear certos objectivos que queria para mim e sempre que alcançava um, os desejos multiplicavam-se. Tocar no Rock in Rio é exemplo disso. Esta é talvez a minha quinta actuação no RIR e já toquei no Rock in Rio Brasil por três vezes. No entanto, tocar no MainStage do Palco Mundo continua a ser um objectivo por alcançar! Mas havemos de lá chegar. [risos]

Qual a sensação de ser o primeiro português a subir ao palco principal do festival de música Tomorrowland e logo pela quinta vez consecutiva?
Esta é a minha quinta actuação embora as outras vezes todas tenham sido noutros palcos este será o primeiro ano que efectivamente um português sobe ao palco do MainStage do Tomorrowland. É uma sensação indiscritível, primeiro porque era um dos meus maiores sonhos desde o inicio. Segundo, porque, devido à pandemia, esta ansiedade de subir ao palco foi adiada por 2 anos. Por isso, o feeling e a motivação é ainda muito maior.

Para tal deve ter também contribuído o 47º lugar no ranking anual do DJMAGTOP100, da conceituada revista britânica DJMAG. Claramente um motivo de orgulho…
Sem dúvida! Tenho muito orgulho em ter chegado ate aqui e claramente estar nesta lista é muito gratificante e tem as suas vantagens. É uma boa montra poder consagrar neste ranking.

No palco era um sonho ter a minha própria cabine de som personalizada, ecrãs led gigantes, onde a imagem estaria sincronizada com o som, bocas de co2, fogo, e que fosse móvel

No meio deste percurso surge ainda a editora digital “Less is More Records”. Esse projecto está a correr bem? E que papel tem a editora na tua carreira e na carreira dos artistas representados?
Cada vez melhor! Anteriormente não tinha muito tempo para me dedicar à editora, mas devido à pandemia, mais uma vez, consegui estar mais próximo dos produtores. Temos descoberto vários novos talentos que se encaixam no estilo de música que a editora procura. O que tento fazer é promover esses artistas, lançar os seus temas em todas as plataformas. Já se deu o caso de gostar muito de um produtor e de querer fazer uma colaboração com ele. Portanto, é um leque de oportunidades e possibilidades de crescimento que se lhes é dado. Também me dá a possibilidade de lançar os meus próprios temas sem ter de depender de outras editoras. Se a editora crescer, será bom para a minha carreira e cada vez que o meu nome cresce, a editora cresce também, é uma boa sinergia.

Entrando no capítulo da produção, como vês o mercado do equipamento musical hoje comparado com o início da tua carreira?
A evolução da tecnologia e do digital tem estado em permanente crescimento. Cada vez os equipamentos são muito mais simplificados e funcionais. Hoje em dia já tudo é possível. É possível, por exemplo, produzir o som de uma guitarra ou bateria com a melhor acústica possível e no entanto não foi preciso tocar esses instrumentos físicos, o computador já faz isso.  Mas como todo esse processo é mais simplificado, o produto final também é muito mais exigente, para poder se conseguir destacar dos demais, criar algo novo!

Utilizo muito software. Hoje em dia, o digital reina em todas as frentes. Já lá vai o tempo quando o meu estúdio tinha km de cabos todos enrolados e cheios de pó

E como é o teu processo de criação? Quando inicias um tema, tens um formato específico de arranjo que segues ou este vai surgindo aos poucos e ao longo do processo?
Não tenho nenhuma fórmula. Normalmente, já tenho uma ideia preconcebida do que quero ou que estilo pretendo, depois, ao longo do processo de construção, as ideias vão surgindo. Às vezes, é o contrario, começa por uma brincadeira, a experimentar varias sonoridades e ver qual o caminho a seguir. As vozes são normalmente a última coisa que procuro, o que posso encaixar, que artista combina com aquela melodia e de que tema queremos falar para a construção da lírica. Procuro que os meus temas causem os três elementos fundamentais da música electrónica: Tensão, Energia e Emoção.

Utilizas muito software ou o teu processo passa mais por maquinaria ou instrumentos?
Utilizo muito software. Hoje em dia, o digital reina em todas as frentes… já lá vai o tempo quando o meu estúdio tinha km de cabos todos enrolados e cheios de pó [risos]. Óbvio que gravo guitarras e até bateria às vezes para algumas músicas mais pop, mas já se consegue fazer tudo no computador e quase com a mesma qualidade… e se utilizares UAD, então…

@eduardo_ramos_fotos

@eduardo_ramos_fotos

Como definirias o teu gear e quais as peças absolutamente fundamentais para o teu som?
Para mim é essencial que tenha um bom sistema de som, 4 cdjs 3000, a mesa de mistura tem de ser Pioneer V10, levo também sempre os meus phones V-Moda personalizados, mas o que não pode mesmo faltar é o party people!

Qual o setup de sonho para ti, tanto em estúdio como em palco?
No palco era um sonho ter a minha própria cabine de som personalizada, com o setup de som que já referi, ecrãs led gigantes, onde a imagem estaria sincronizada com o som, bocas de co2, fogo, e que fosse móvel, ou seja, que pudesse transportá-la para todos os meus shows. É um pouco ambicioso, mas ia resultar numa experiência única em pista. Já na produção, o meu estúdio de sonho, felizmente, ja construí. Portanto, os meus sonhos passam mais pela minha música chegar a mais pessoas ainda e trabalhar com outros artistas e cantores de forma a evoluir sempre!  Porque para mim “The Best is Yet To Come”.

Para terminar, como analisas a nova geração na música electrónica?
Acredito que não seja o estilo de música que mais consomem no dia-a-dia e apesar de hoje existirem milhares de opções, muitos géneros musicais, nos clubs e nos festivais é com a musica electrónica que o público mais vibra! Por isso, a música electrónica veio para ficar!