White Lies, O Amistoso Jack Lawrence-Brown
O baterista da banda indie inglesa conversou com a Arte Sonora sobre “Friends”, o novo disco, influências, o processo criativo do grupo e perspectivas para o concerto em Portugal.
O londrino, de 28 anos, esteve de visita a Lisboa com a mulher. Jack Lawrence-Brown é o prodigioso baterista dos White Lies e, com “Friends” editado no dia 7 de Outubro, prepara-se para um concerto no CCB a 18 de Novembro. Em entrevista à Arte Sonora, fala de tudo um pouco: peculiaridades dos seus títulos, virtudes de Lisboa, entusiasmo pelo público português e técnicas pouco convencionais de gravação.
Qual a origem do nomo do novo disco, “Friends”?
O último álbum, “Big TV”, foi uma espécie de álbum conceptual, havia um tema que se estendia pela duração do disco. Neste as coisas foram diferentes, mas muitas das canções acabaram por ser sobre relações e a mudança nas relações entre nós e as pessoas que conhecemos e com quem crescemos. Começámos a banda com 18 anos, tenho agora 28. Passam, mais coisa menos coisa, 10 anos desde que começámos os White Lies. E as pessoas que conhecíamos na altura, muitas das relações que mantínhamos com elas mudaram com o tempo. Para além disso, acho que é um bom título. Muitas das pessoas com quem falei perguntaram-me o motivo do nome do disco, e acho que é um bom começo. O mesmo aconteceu com “Big TV” – é um nome estúpido para um disco, não significa nada, é só um título parvo. Mas eu garanto que em todas as entrevistas que dei para “Big TV” a primeira pergunta era «Porque é que o teu álbum se chama “Big TV”?». E, imediatamente, consegues que as pessoas fiquem a pensar no disco, no «porquê isto e não aquilo». E em “Friends”, queríamos ter um título que fosse bastante ambíguo, que pusesse as pessoas a questionar-se sobre aquilo.
Houve uma forma de pensar diferente na forma de escrever canções ou gravá-las?
Acho que uma das grandes diferenças foi o facto de o termos produzido nós próprios. Antes trabalhámos com produtores diferentes, que nos ajudaram com o processo, mas desta vez sentimos que era uma boa oportunidade de fazer algo novo. Foi a primeira vez que o fizemos, e foi uma experiência completamente diferente de várias formas. Fizemo-lo em Londres, com Brian Ferry, dos Estúdios Roxy Music, e pudemos brincar com uma série de sintetizadores, divertimo-nos imenso. Demorou muito tempo, o que foi bom. Normalmente, temos de nos despachar porque temos sempre a editora atrás de nós, mas escrevemos o disco todo sem a ajuda da editora, então não tínhamos pressão para o lançar depressa.
O tempo que demoraram teve um efeito positivo na forma como as músicas se desenvolveram?
Antigamente, tínhamos uma ideia bastante formada daquilo a que deveria soar uma canção dos White Lies e tentávamos sempre atingir esse som, porque também trabalhámos com pessoas que tinham essa opinião sobre a música. Desta vez, como tínhamos mais tempo, se a canção não soasse a uma canção tradicional nossa não nos preocupámos, simplesmente a empurrávamos e desenvolvíamos até à sua conclusão lógica. Por exemplo, há temas neste novo álbum que têm uma influência clara do disco dos anos 70 e antigamente acho que não teríamos deixado essas músicas dessa forma, tê-las-íamos mudado para que soassem mais a rock ou algo do género. Desta vez não tivemos de fazer isso, pudemos simplesmente deixá-las ser. E isso foi algo novo para nós, ter mais tempo significa que há mais liberdade para fazer as coisas exactamente como as queremos, e foi o que conseguimos fazer, ficámos muito contentes com a forma como todas as canções saíram depois de as gravarmos.
Há várias partes deste disco que vêm directamente de demos.
O single “Come On” introduziu batidas electrónicas ao vosso som. Estás a cargo de todas as componentes rítmicas da banda ou foi mais um esforço colaborativo?
Na verdade, estamos todos a cargo de pensar em tudo na banda. A forma como o Charles e o Harry escrevem as canções é pegando num padrão básico de bateria e juntando-lhe acordes por cima. Depois livramo-nos do loop e introduzo a linha de bateria final. Mas nesta música gostámos imenso do drum loop e acabou por ficar, pensámos que ficaria bom e que podíamos usá-lo como o início da canção e construí-la a partir daí. Mas os White Lies são muito democráticos, quando alguém tem uma ideia pode expressá-la livremente, mesmo que não tenha nada a ver com nada. Eu e o Charles passamos metade do tempo a dizer ao Harry como deve soar a sua guitarra, o Harry está sempre a dizer ao Charles como deve soar o seu baixo, e toda a gente está sempre a dizer-me que batidas usar.
Então o drum loop em “Come On” foi parte de um demo que acabou por integrar a versão final?
Sim, foi um demo. E isso foi outra coisa em que melhorámos muito. Há várias partes deste disco que vêm directamente de demos. Há uma parte de guitarra no final de “I Don’t Want to Feel it All”, que é uma linha de guitarra muito estranha que soa a… soa um bocado m*rdosa, na verdade (risos). O Harry tocou-a no seu quarto e quando chegámos ao estúdio ele não a conseguia tocar da mesma forma, não fomos capazes de perceber como é que ele a fez soar daquela forma, naquele momento. Então, simplesmente dissemos «que se lixe, vamos deixar a versão demo». Fazemos isso muitas vezes, com vocais também – os vocais que ficam são muitas vezes gravados no quarto.
Desde que lançaram o vosso primeiro LP, “To Lose My Life”, tornaram-se numa das novas bandas inglesas mais conhecidas, inclusivamente por cá. A que é que atribuem esse sucesso?
Acho que muito do sucesso inicial dos White Lies teve a ver com algo que fizemos e que recomendaria a qualquer banda que está a começar: andámos pela Europa em digressão antes de lançar o primeiro álbum, e quando o disco saiu já tínhamos uma pequena base de fãs em países como a Holanda e a Bélgica. É melhor que começar do zero. Sempre estivemos interessados em encontrar sucesso fora do Reino Unido. Estávamos bastante confiantes de que seríamos bem-sucedidos em casa porque tivemos muita atenção da imprensa quando começámos, e tínhamos a editora a investir na comercialização do disco. Achámos que iria correr bem no Reino Unido, e correu bem, mas foi muito importante o facto de termos estado em digressão na Europa, à procura de reconhecimento em outros países também.
Os White Lies têm sido, por vezes, comparados a outros grupos britânicos de sucesso, como Editors ou Interpol, ou mesmo a bandas como The Killers nos Estados Unidos. Vês alguma razão de ser nestas comparações, e achas que se relacionam com a forma como têm sido tão bem recebidos internacionalmente?
Não me incomodo particularmente com comparações e até acho que são úteis, para que as pessoas compreendam música nova. Às vezes até fico surpreendido com algumas bandas com que as pessoas acham que nos parecemos, mas com certeza uma banda como The Killers é inegável, nós crescemos a ouvir The Killers… Quando tínhamos 16 ou 17 anos eles estavam a lançar a “Mr. Brightside”, e eram uma das maiores bandas do mundo, o mesmo passou-se com Interpol. Ouvíamos essas bandas, e exerceram influência sobre nós. Mas acho que, como banda, crescemos para além disso com o tempo. É especialmente relevante quando uma banda é recente, as pessoas têm de ter um ponto de partida por onde se orientar, nesse sentido é bastante útil. Seria muito pior se fosse uma banda que odiasse, mas houve muito poucas vezes que nos compararam a bandas que acho que são completamente m*rda e isso é bom [risos].
O modo como as canções de White Lies são escritas tem sempre outras canções como ponto de partida
De qualquer forma, nunca é um processo directo, o da influência. Não é como se pensassem em recriar um determinado tipo de som…
Não, de todo. Para ser honesto, o modo como as canções de White Lies são escritas tem sempre outras canções como ponto de partida, mas de coisas como o groove. Para este disco, se encontrássemos um padrão rítmico de que gostássemos ou o sentimento de uma música, pensaríamos que seria uma ideia interessante a explorar. A questão é que acaba por nunca soar muito ao ponto de referência, alguém de fora nunca adivinharia o ponto de onde começámos. Mas acho que todos os músicos são inspirados por outros músicos e outra música e o que é preciso é certificares-te que o resultado final é teu, é fiel àquilo que queres ser como banda.
Qual o material que geralmente usas como baterista dos White Lies?
Muda um pouco de cada vez que o uso, acho que isso é uma forma de irmos mudando um pouco o nosso som, ir experimentando componentes diferentes em cada álbum que fazemos. Nesta digressão, tenho dois Rototoms dos anos 80, são pedaços de plástico muito finos e claros que soam um bocado mal para ser honesto [risos]. Mas vamos “ligá-los” e usá-los para outros sons. No geral, tenho um kit bastante normal. Tenho tendência a investir em muito boas tarolas e o resto são só coisas a que estou habituado… Geralmente da Yamaha, pratos e coisas do género. Há componentes electrónicos também, que se relacionam com a música deste álbum.
Toda a gente diz que Lisboa é o melhor sítio da Europa para se estar neste momento e concordo bastante com isso
Passaram-se mais de cinco anos desde a última vez que tocaram por cá. Porquê a demora? O que esperam deste retorno ao país depois de tanto tempo?
Não faço ideia do motivo pelo qual demorámos tanto tempo a voltar cá. É estranho para mim, e ainda mais estranho o facto de nunca termos tocado em nome próprio. Estou muito entusiasmado para o fazer… Toda a gente diz que Lisboa é o melhor sítio da Europa para se estar neste momento e concordo bastante com isso. É um excelente núcleo cultural e continua a ser bastante acessível financeiramente – podes sair à noite e não gastar 300 libras a tentar embebedar-te [risos]. Acho que vai ser um momento muito emocionante para nós e para as pessoas que esperaram tanto tempo para nos ver ao vivo. Estou bastante zangado , na verdade, com o facto de não termos vindo cá em 5 anos… Tocámos na grande maioria das grandes cidades europeias neste tempo, mas às vezes as coisas simplesmente acontecem assim, e a minha esperança para este concerto é que depois dele sejamos imediatamente confirmados para voltar cá no próximo verão e ir a alguns festivais. É o que mais quero fazer: voltar a Portugal e dar uma série de grandes concertos ao ar livre.