“Rui Veloso não esteve no início do rock português”
“Por Detrás Do Pano”, o primeiro livro em prosa de António Manuel Ribeiro, foi ontem apresentado na Livraria do Desassossego e a Arte Sonora esteve presente para falar com o músico dos UHF.
Um dos maiores protagonistas da música portuguesa contemporânea meteu as mãos à obra, a tinta a escorrer no papel e o resultado está à vista: “Por Detrás Do Pano” revela 35 episódios da vida interior dos UHF. Eram «histórias longas demais para rádio», explica o artista à Arte Sonora. O programa de rádio que inspirou o livro foi emitido pela Antena 1, com a ajuda do sonoplasta António Santos, o qual foi elogiado pelo vocalista e guitarrista. «Não me é difícil apresentar um disco novo, mas é difícil apresentar um livro novo», disse em jeito de brincadeira o líder dos UHF que já lançou antologias de poesia.
“Os Filhos do Rock” e a verdade histórica: «O Rui Veloso não esteve no início do rock português»
António Manuel Ribeiro foi um dos consultores da série “Os Filhos do Rock” emitido pela RTP, mas foi logo bombardeado pelos fãs e conhecidos da indústria por causa das incongruências históricas: «eles ouviram muitas pessoas e acho que eles fizeram uma grande mistura», explica à Arte Sonora. «O aparecimento do rock português é como está aqui factualmente apresentado: com datas, locais, acontecimentos, lançamentos discográficos (…) está tudo no livro exposto de forma matemática», refere o membro dos UHF, banda que tem tudo documentado, segundo o próprio, servindo este livro como um breviário.
«A série do rock começou de forma errada, mas também temos de dar um desconto porque é uma obra ficcionada, não é uma obra histórica dos factos», considera o músico, referindo no entanto que Rui Veloso não esteve no início do rock português, atribuindo esse papel à sua banda e a José Cid. «O Rui Veloso não esteve no início do rock português. O Rui Veloso aparece em 1980, portanto em 78 e 79 o Rui Veloso não esteve a lado nenhum (…) Há aqui um capítulo, que para mim é o mais importante para definir este livro: ‘O que fica é canções e rugas’ e aqui é que eu ponho os pontos nos i’s», explica António Manuel Ribeiro, dizendo que «as histórias foram mal contadas e passaram a ser verdade».
E até ironiza: «o primeiro rei de Portugal não foi D. Dinis, foi D. Afonso Henriques».
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Os ensinamentos de ‘Por Detrás Do Pano’: «é preciso ter um bom treino mental»
Os UHF ajudaram várias bandas a começarem em Portugal, principalmente a nível técnico, como recorda António Manuel Ribeiro: «no LP 78/82 dos Xutos & Pontapés estão lá agradecimentos aos UHF», referindo-se aos aspectos técnicos que na altura só a banda tinha no país e que emprestava.
Quanto aos mais novos que agora começam, o membro do UHF também deixa considerações: «Há sempre montes de dificuldades… então, se não há dinheiro, é uma chatice. Portanto, tem de haver uma coisa chamada convicção. Os obstáculos não podem mandar um projecto abaixo», defende. O artista fala de qualidades como a convicção e a identidade, quando se tem um som, «este livro pode explicar aos novos artistas e aos novos grupos que, muitas vezes, além da sabedoria e da inspiração, é preciso um bom treino mental».
António Manuel Ribeiro homenageou ainda José da Ponte: «Hoje partiu um músico muito importante», disse o artista.