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“The Show Can´t Go On”: Quando A Tecnologia Se Torna Uma Ameaça às Produções Ao Vivo

“The Show Can´t Go On”: Quando A Tecnologia Se Torna Uma Ameaça às Produções Ao Vivo

Rodrigo Baptista
depositphotos.com/

Estarão os concertos cada vez mais dependentes das tecnologias? Depois de termos experienciado vários problemas técnicos nos concertos de Kreator e Katanonia, que levaram ao respetivo adiamento e atraso dos mesmos, verificámos que cada vez é mais difícil presenciar um concerto sem ocorrências técnicas. Será este o novo normal?

Foto: depositphotos.com

Com o avanço tecnológico, nomeadamente com a introdução de elementos gerados por IA, e com uma maior complexidade em termos visuais e sonoros das produções musicais que andam na estrada, temos verificado que cada vez é mais difícil presenciar um concerto sem problemas técnicos de maior ou menor grau.

Em Portugal, o tema voltou a entrar na ordem no dia quando a 15 de Junho, na Sala Tejo da MEO Arena, os Kreator deixaram os seus fãs à espera durante mais de uma hora pela sua entrada em palco. Sem quaisquer informações prestadas durante este exaustivo período de espera o concerto viria a ser cancelado com o público dentro da sala. Segundo informações que circularam na altura, o problema terá estado relacionado com a mesa de som, impossível de ser substituída em tempo útil. O tipo de mesa em questão poderá custar cerca de 30 000€, e quando falha pouco tempo antes de um banda entrar em palco, dificilmente haverá um plano B pronto a entrar em acção. E a verdade é que os Toxikull, banda portuguesa que abriu o concerto, ainda conseguiu subir a palco e tocar o seu set completo.

Passado duas semanas, a 29 de Junho, no Evil Live Festival, também na MEO Arena, foi a vez dos Katatonia serem importunados pelos problemas técnicos. A banda ainda entrou em palco, mas nos segundos iniciais da primeira música foi detectada uma falha nos pads de bateria que enviam os sons pré-gravados para o PA. O vocalista Jonas Renkse ainda pensou que o problema fosse resolvido rapidamente e decidiu começar a fazer conversa de café com o público. Porém, as complicações eram mais graves do que se pensava e a banda acabou mesmo por sair do palco. Em 15 minutos, mais coisa menos coisa, troca cabos, liga e desliga, a banda lá conseguiu resolver essas questões e regressou a palco para iniciar o seu set sem mais percalços. No entanto, os estragos já estavam feitos e os fãs que tinham comprado bilhete para ver especialmente Katatonia acabaram por assistir a um set que, devido ao seu atraso, teve de ser cortado.

No estrangeiro as situações também têm sido recorrentes. Uma das que fez correr mais tinta teve lugar no concerto que os Placebo deram a 30 de Junho no festival OpenAir, em St. Gallen, na Suíça. Devido a vários problemas técnicos, a banda de Brian Molko teve que encurtar o seu set, levando assim a que o concerto terminasse mais cedo do que o previsto.

Revoltados com a situação, os fãs recorreram às redes sociais para discutir sobre se a atitude da banda foi a mais correta. Entretanto a banda foi apercebendo-se dos comentários e decidiu emitir um comunicado a explicar a situação. «Temos reparado que há muita discussão, muitas acusações e desacatos entre os nossos fãs. Também fomos alvo de muitos insultos muito pouco imaginativos», escreveu Brian Molko nas redes sociais dos Placebo. «O Stefan começou por ter alguns problemas, que culminaram com o equipamento da guitarra a deixar de funcionar. Pelo que deixou de poder tocar canções onde é guitarrista. Todos os esforços da nossa magnífica equipa de produção foram infrutíferos.»

«Tínhamos a possibilidade de ir embora e não voltar, mas regressámos para acabar de tocar aquilo que fisicamente era possível», continuou Molko. «Fizemos vários anúncios em língua alemã a explicar que estávamos a atravessar problemas técnicos temporariamente irreparáveis. Não usamos gravações em palco. Tudo é feito 100% ao vivo. Mas isto parece não ser suficiente para alguns indivíduos privilegiados e exigentes. Se este tipo de situações inevitáveis continuar a enfurecer-vos, sugerimos que vão ver bandas onde a maior parte da música que vem do palco é gravada. Também sugerimos que ganhem uma nova perspetiva e tentem olhar para esta situação de um ponto de vista que não é o vosso. Isto é só uma forma simpática de vos dizer: arranjem uma vida.»

Por estranho que pareça, estas falhas técnicas têm vindo a aumentar nos últimos anos em vários concertos de artistas de renome mundial. Aqui em baixo recordamos alguns desses momentos.

Hoje em dia, e para facilitar, os músicos usam cada vez mais tudo digital, desde pedaleiras, começa a ser raro vermos aquela parafernália de pedalboards cheias de pedais, o mais usual é serem usadas algo como as Kemper ou as Helix da Line 6, pads que disparam sons pré-gravados, mesas com presets todos definidos… basta alguma destes pequenos instrumentos falhar e dificilmente a banda consegue fazer o seu set na íntegra. Antigamente com o analógico, alguns problemas técnicos poderiam ser resolvidos ou ultrapassados mais facilmente. Avariava um pedal ou um amplificador, havia sempre backup e uma solução, mais ou menos, rápida de resolver. Será este mais um impedimento no futuro nos concertos ao vivo?

Dificuldades técnicas no concerto de Kanye West no Hollywood Bowl a 26/09/2015

O primeiro concerto de duas noites do espetáculo “808s and Heartbreak” do rapper Kanye West no Hollywood Bowl não correu como tinha sido planeado. Como se pode ver no vídeo em baixo, West foi forçado a cortar a atuação e abordou a situação ao referir: «Este é o melhor ensaio geral que já tive.» Vários meios afirmaram na altura que a falha deveu-se à sua falta de preparação, visto que West chegou atrasado aos ensaios da produção.

Microfone e backing track cortados no concerto de Adele em Birmingham a 02/04/2016

A performance de Adele na Genting Arena, em Birmingham, foi alvo de problemas técnicos quando o som parou de funcionar a meio de uma música. Durante o refrão de “All I Ask”, o microfone e a backing track foram repentinamente cortados. Os fãs acabaram por cantar a música até que o problema fosse resolvido. Adele explicou mais tarde que os seu in-ears continuaram a funcionar durante esse percalço e que não se apercebeu do problema.

Vários cortes de som no concerto dos Korn no Rock in Rio Lisboa a 27/05/2016

O concerto dos Korn no Rock in Rio Lisboa 2016 não correu como planeado. Após os acordes iniciais da primeira música da setlist, “Blind”, uma falha de energia fez com que o som do PA se desligasse por completo. A banda saiu de palco para tentar solucionar o problema e após alguns minutos regressou para recomeçar o concerto. Todavia, o som voltou a ir a baixo exatamente na mesma parte da música. Desagradados com a situação, a banda voltou a sair de palco, ao todo foram 45 minutos de espera, para procurar uma nova resolução para as deficiências técnicas. Dispostos a tentar mais uma vez, os Korn regressaram a palco, mas desta vez saltaram “Blind” e passaram logo para a segunda música da setlist “Here To Stay”. A banda de Jonathan Davis ainda conseguiu tocar “Somebody Someone”, “Falling Away From Me” e “Coming Undone”, mas durante o excerto da “One” dos Metallica, a meio da música “Shoots and Ladders” o som voltou a falhar. Desta vez, a banda deitou a toalha ao chão e saiu de palco sem nunca mais voltar.

Piano fora de tom no concerto dos Coldplay em Glastonbury a 26/06/2016

Quando os Coldplay começaram a tocar “Everglow” em Glastonbury, Chris Martin apercebeu-se que havia um problema com a afinação do seu piano. Todos os outros instrumentos estavam na afinação certa da música menos o piano de Martin. O vocalista decidiu então tocar a música a solo num tom diferente da versão original, demonstrando assim que solucionar um problema técnico não deve ser sempre um bicho de sete cabeças.

Mau funcionamento do in-ear de Mariah Carey no concerto de Ano Novo em Nova Iorque a 31/12/2016 

Tocar na passagem de ano em Times Square é sempre especial para qualquer artista. No entanto, para Mariah Carey o momento foi de alguma tensão devido a problemas técnicos. Durante cinco minutos, os fãs que estavam em Times  Square e os telespectadores que assistiam ao “New Year’s Rockin’ Eve with Ryan Seacrest” de Dick Clark não conseguiram ouvir a cantora, nomeadamente no seu single de sucesso de 1991, “Emotions”. A cantora disse que a culpa era de um defeito do seu in-ear, que fez com que ela parasse de cantar abruptamente, embora os seus dançarinos tenham continuado com a coreografia.

Problemas no microfone de James Hetfield na apresentação dos Metallica com Lady Gaga nos Grammy Awards de 2017 a 12/02/2017

A participação dos Metallica com Lady Gaga nos 59º Grammy Awards tinha tudo para se tornar histórica pelos melhores motivos. No entanto, um problema no microfone de James Hetfield levou a que a performance tenha ficado marcada por falhas técnicas. Apesar de estar visivelmente irritado com a situação, Hetfield prosseguiu com a atuação ao partilhar um único microfone com Gaga.

Vários cortes de som no concerto dos Radiohead no Coachella a 16/04/2017

O concerto dos Radiohead no Coachella de 2017 sofreu vários cortes de som, forçando a banda de rock inglesa a sair do palco por duas vezes. Vários relatos afirmam que as falhas de som começaram logo após as três primeiras músicas do set, mas pioraram na “15 Step”, resultando no corte dos dois minutos finais da faixa. Mais tarde o mesmo problema acabaria por surgir novamente durante a performance de “Let Down”.