PZ está a celebrar 20 anos de carreira, mas não há tempo para festas – o fim do mundo continua a ser o grande tema.
Desde “Anticorpos” (2005), PZ tem espalhado grooves marados, ironia fina e reflexões absurdas que, no fundo, fazem todo o sentido. Agora, com “Apocalypse Later”, troca os sintetizadores pelas guitarras e deixa o seu alter-ego Joe Zé ao volante. O rock toma conta do recado e a eletrónica vai para o banco de trás.
Se “O Fim do Mundo em Cuecas” (2024) foi um aperitivo para o colapso global, “Apocalypse Later” carrega na distorção e mostra que a desgraça pode ser compreendida por mais gente – desta vez, em inglês. É a primeira vez que PZ canta exclusivamente noutra língua, mas o sarcasmo, a crítica social e os refrões viciantes continuam intactos.
O mundo parece cada vez mais à beira do abismo e PZ afia a ironia como arma da transparência. Entre guerras, crise climática e líderes a brincar com o caos, a humanidade está a viver um plot twist escrito por alguém sem noção. É aí que entram faixas como “Blame It On Other People”, “The Shithole Countries” e “Apocalypse Later”- três temas que deitam sal na ferida de uma realidade cada vez mais distorcida.
O primeiro, um hino punk-rock perfeito para uma sociedade onde a culpa é sempre dos outros e ninguém assume responsabilidades. O segundo, uma sátira mordaz à falta de decência e empatia de uma visão política que transforma países desfavorecidos em slogans de campanha, reduzindo vidas humanas a meras palavras de efeito corrosivo. O terceiro, um grito sarcástico que resume a atitude coletiva perante o apocalipse: “Deixa andar, lidamos com isso depois” – se ainda houver um depois. O dedo aponta-se, a culpa roda, e a instabilidade cresce – mas a música não deixa passar nada em branco.
Como sempre, PZ fez tudo do zero – escreveu as letras, cantou, tocou guitarra, baixo, teclas e programou as baterias. Se antes fazia tudo de pijama, agora veste o casaco de cabedal e entra de rompante no rock. Uma obra feita à sua medida, entre a distorção e o sarcasmo pontuado por momentos de epifania apocalíptica. Este novo disco marca uma viragem na sua música. Mas, 20 anos depois, a essência mantém-se: melodias viciantes, sarcasmo bem afiado e uma visão do mundo sempre entre o absurdo e o real.
O novo álbum de PZ, “Apocalypse Later”, está disponível em todas as plataformas digitais.