Talvez menos furioso, mas mais sublime que o antecessor. “Distress Distress” é mais dançável e oferece novamente a sensação de sermos convidados para um ritual psicotrópico sem sofrermos os efeitos colaterais do mesmo. No novo álbum a banda surge a dominar com cada vez mais eficácia os elementos da sua música, sem recorrer a quaisquer acessórios.
Quem diria que a verdadeira flor de lótus, a florescer no pântano do recente hype com o psicadelismo, haveria de ser uma banda do Porto?
Aqui se mantém o pressuposto da solidez dos beats e do groove constante de baixo actuarem como as âncoras físicas à expansão astral dos efeitos de guitarra, tal como se mantém a devoção a Spacemen 3, mas há um dado novo: aquele tipo de tensão sonora com a assinatura de um mestre como John Carpenter – em “ISM” ou “Radio 1” quase podemos imaginar Snake Plissken a percorrer as ruas de uma Nova Iorque distópica.
No excesso de bandas que surgiram (até atingir-se a banalidade) no revivalismo do psicadelismo e do kraut, os 10.000 Russos são uma verdadeira e viçosa flor de lótus com os seus mantras 4/4 do pós-punk, com um certo sentido trance, rodeados pela expansão de efeitos, que são tão hipnotizantes e dançáveis como uma celebração bacante, com a verdadeira marca dos xamãs…