Quantcast
A expansão do Capitão Fausto

A expansão do Capitão Fausto

2014-03-20, CCB - Pequeno Auditório
Hugo Lopes
7
  • 8
  • 7
  • 8
  • 6

Quando a banda entrou no pequeno auditório do CCB, mergulhado numa completa escuridão, já o público estava conquistado e não tinha qualquer intenção de o esconder. Os Capitão Fausto, a tocar para uma casa cheia, estavam claramente a jogar em casa e não se coibiram de aproveitar essa vantagem a seu favor, oferecendo um concerto fluído e desembaraçado, com momentos de liberdade instrumental a roçar o brilhantismo.

Não foi preciso convite para o público se levantar e dançar. Assim que soaram os primeiros acordes de “Nunca Faço Nem Metade”, o segundo tema da noite, metade da audiência levantou-se espontaneamente, dirigindo-se para as primeiras filas. Pelo meio, a plateia cantou em uníssono “Santa Ana” e já perto do final, em “Febre”, são os próprios Capitão Fausto quem desafia o restante público a levantar-se, e são poucos os que resistem ao convite, numa clara manifestação de apreço pela banda.

Os Capitão Fausto de “Gazela” não são os mesmos de “Pesar O Sol”. Se os primeiros habitavam o universo luminoso e brincalhão do indie rock, os segundos, três anos mais tarde, parecem ter aberto as fronteiras da sua música ao cosmos, abraçando influências psicadélicas herdadas dos anos 60, via recriação do século XXI. Apesar da releitura que temas antigos, como “Verdade”, sofreram à luz da nova sonoridade da banda, existe uma clara clivagem entre os dois discos. E se os temas de “Gazela” ganham uma nova vida com os interlúdios espaciais, nem assim deixam de ser óbvias as diferenças estéticas e de composição relativamente aos temas mais recentes. Os Capitão Fausto soam mais a eles próprios quando libertam as canções das estruturas, proporcionando-lhes espaço para que as notas se prolonguem, deixando-as assim respirar. É nesses momentos que fica claro que, sob a sensibilidade pop que o grupo empresta às suas canções, há uma banda em processo de amadurecimento, algo patente na nova roupagem de “Flor Do Mal”.

Concertos de rock não são para se ver sentado, e nisso, Capitão Fausto não foge à regra.

Uma banda como Capitão Fausto ao vivo, pede um som mais envolvente do que aquele que a sala do CCB proporcionou, o que, derivado do volume excessivamente elevado, impediu a apreciação de alguns preciosismos e pormenores, que poderiam, de outra forma, ter abrilhantado o concerto.

Perto do final, e antes do encore, a banda terminou o set à boa maneira do rock clássico, com um solo de bateria. De seguida, os restantes elementos foram entrando à vez, e cada um teve a oportunidade de fazer um solo, demonstrando o seu virtuosismo em palco. Em “Pesar O Sol”, os Capitão Fausto podem ter bastantes semelhanças com os Boogarins, que por sua vez tem bastante em comum com Tame Impala, mas é ao vivo, que a banda existe por direito próprio. Mas estes ainda não são os melhores Capitão Fausto que podem existir, eles tem muito mais para dar. Tem o tempo do seu lado.

Fotos Tomás Lisboa