Acid King, Little Big Muff

O instrumental que serve de intro ao novo álbum, “Middle Of Nowhere, Center Of Everything”, foi também a introdução à primeira vez que os Acid King tocaram em Lisboa.

O tema “Red River”, também do primeiro álbum após um longo interregno de LPs, trouxe os primeiros ecos da voz de Lori S. e daquele feérico timbre entre os agudos sabbathianos, em contraposição ao groove low end, e Grace Slick. “Silent Pictures” e “Infinite Skies”, também do recente álbum, acentuaram essa sensação.

E, aproveitando a referência a Jefferson Airplane, o baixo de Mark Lamb soou como está escrito no cânone de São Francisco, com aquela definição harmónica e o balanço de harmonizações às linhas de guitarra numa transversalidade de escalas a preencher os fills de bateria. Sem manhas, apenas com vísceras e volume, Lori S. criou um paredão de guitarra! Fomos perguntar-lhe o que usava para processar o sinal e riu-se, dizendo: «Let me impress you with my pedalboard»… Um normalíssimo Cry Baby e um vintage Little Big Muff (basicamente, é um Big Muff sem potenciómetro de sustain), além de um afinador. A 1973 Gibson Les Paul Custom foi amplificada por um Marshall JCM-800, tal como em estúdio.

A transposição para o sentido, definitivamente, mais Sabbath da banda aconteceu em “Laser Headlights”. O último tema “novo” da noite (excluindo o outro, movimento também presente no último disco), fez a ponte com o catálogo anterior, especificamente com o porradão que é “2 Wheel Nation” ou “Electric Machine”, com o referido fuzz de Lori, a roçagar oitavas artificiais apenas através da pujança de output. Fisicamente esmagador e capaz de produzir delírio auditivo, os Acid King assinaram uma estreia, no nosso país, daquelas que ficam para os livros.

Os Vaee Solis e os Lâmina estiveram à altura da ocasião, com a rudeza dos primeiros capaz de somar carisma, direcção, coesão, agressividade e balanço.