Airbourne no Capitólio, Cerveja, Suor & Rock ‘n’ Roll
02/14/2025, Capitólio, LisboaNuma descarga de alta voltagem, os Airbourne estrearam-se em Portugal como cabeça de cartaz com um concerto frenético e pleno de carisma. Em noite de São Valentim, a banda australiana desferiu-nos com o seu hard rock musculado e fez desfilar todos os clássicos de uma carreira que já conta com mais de 20 anos.
«Se acreditas que não deves tocar apenas três acordes, então o problema é teu. Para nós, quanto mais simples for uma música, melhor, porque vai ao encontro daquilo que é a pessoa comum», disse Angus Young, guitarrista e líder dos AC/DC, ao Atlanta Gazette em 1979 quando confrontado com as críticas sobre a simplicidade das músicas da banda australiana.
Proveniente do blues, o rock ‘n roll não é nada mais nada menos do que a progressão harmónica I-IV-V da música dos 12 compassos, mas com um andamento mais acentuado. Com a transição do blues rock dos anos 60 para o hard rock dos anos 70 veio também o reforço da distorção sonora. Herdeiros desta escola sonora, os Airbourne e os Asomvel, banda britânica que abriu o espetáculo, apresentam-se como dois dos nomes mais influentes no panorama contemporâneo do hard rock ao continuarem com a rebelião sonora a favor da simplicidade do rock ‘n’ roll. Para ambas as bandas o mais importante é a pujança sonora. Aliás, é caso para dizer que quanto mais alto melhor e no Capitólio pudemos testemunhar esse vendaval sonoro em toda a sua glória.
Asomvel
Falar de Asomvel e não falar de Lemmy Kilmister e dos seus Motörhead é praticamente impossível. Após a sua entrada em palco, num primeiro vislumbre sonoro e visual, rapidamente percebemos qual é a principal influência desta banda britânica que já trilha o seu caminho desde 1993. Com um som robusto e sempre nos limites, a banda levou-nos numa locomotiva sonora que nunca abrandou ao longo dos 45 minutos de atuação. Suportados por um muro de Marshalls, seis stacks para sermos mais precisos, foram disparando temas com um certo caráter saudosista como “Louder & Louder”, “Born to Rock ’n’ Roll”, “Outside The Law” ou “Luck Is for Losers”. A comandar as tropas esteve sempre na dianteira e nos flancos o baixista Ralph Robinson com o seu Washburn B-20 a ribombar que nem um trovão e a sua voz rouca.
Ralph mostrou-se incansável na interação com o público descendo vária vezes até às grades para sentir o calor dos headbangers portugueses. Mas o baixista é apenas 1/4 dos Asomvel, e os elogios também têm que ser dados aos guitarristas Lenny Robinson e Stel Robinson. Ambos dedilharam Gibsons Les Paul e trocaram solos e riffs com entrega e profissionalismo, demonstrando toda a sua experiência adquirida na estrada e no circuito underground ao longo dos últimos 30 anos. A completar o quarteto nas baquetas esteve Ryan Thackwary, que deu uma sova nas peles bem ao estilo de “Philthy Animal” Taylor. No fim, o sentimento de missão cumprida era palpável, os Asomvel saíram do Capitólio com mais uns quantos fãs na bagagem.
Airbourne
Rock ‘n roll de alta voltagem era o que se esperava do concerto dos Airbourne e podemos dizer que foi exatamente isso que a banda no entregou ao longo de 1h30m. Por estranho que pareça, os Airbourne, banda australiana de culto com mais de 20 anos de carreira, só agora é que fizeram a sua estreia em nome próprio em Portugal. Já tinham passado por cá como banda de suporte dos Iron Maiden no Estádio do Jamor em 2023, mas na altura soube a pouco e os fãs ficaram então à espera do tão aguardado concerto como cabeça de cartaz.
Reconhecidos pelas suas atuações enérgicas e ruidosas e pelo seu irrequieto frontman Joel O’Keeffe, os Airbourne trouxeram-nos então esse modelo de espetáculo que, verdade seja dita, não necessita de qualquer aparato pirotécnico e cenográfico. Aqui o que importa é mesmo o rock ‘n’ roll e o formato de atuação que contribui para alimentar todos os clichés que lhe estão associados. Falamos naturalmente de músicos suados em tronco nu a empunhar guitarras Gibson Explorer, cerveja a jorros e uma moldura sonora avassaladora proveniente de um muro de oito stacks para as guitarras, seis Marshall (Plexi, JCM e Silver Jubilee) e dois Wizard, nestes dois apenas a cabeça era Wizard o resto do stack também era Marshall. Justin Street, o baixista da banda, apresentou o seu próprio stack Ampeg
Não tardou para que os fãs entrassem em alvoroço e abrissem o primeiro moshpit da noite. Com a boa disposição característica do povo aussie, Joel O’Keeffe mostrou-se logo de sorriso rasgado com tamanha entrega.
Ainda a espremer “Boneshaker”, o seu último álbum editado em 2019, os Airbourne apresentaram uma setlist em formato best of. Com a banda prestes a entrar em palco, o público começou a entoar em coro “Ready To Rock”, malha que deu o pontapé de saída. Não tardou para que os fãs entrassem em alvoroço e abrissem o primeiro moshpit da noite. Com a boa disposição característica do povo aussie, Joel O’Keeffe mostrou-se logo de sorriso rasgado com tamanha entrega.
Sem grande tempo a perder e com poucas falas, a banda partiu logo de seguida para “Too Much, Too Young, Too Fast” e “Back In The Game”. Além das primeiras, de muitas, cervejas a voar das mãos de O’Keeffe, também foram muitos os corpos que começaram a voar no crowd surf. Sem seguranças no pit, muitos foram parar, irresponsavelmente, ao chão, até que mais à frente no concerto, Joel parou mesmo de tocar, largou a guitarra e saltou para o pit para agarrar uma rapariga. No regresso ao palco o frontman acabou mesmo por dizer que o concerto não iria prosseguir sem seguranças no pit, e caso estes não soubessem fazer o seu trabalho então seria a equipa dos Airbourne a fazê-lo e assim foi.
“Girls in Black” uma homenagem às fãs dos Airbourne trouxe o já clássico momento em que Joel se coloca nas cavalitas de um roadie e vai para o meio do público com a sua guitarra. Como se isso já não bastasse para levar o público ao delírio, O’Keeffe ainda puxou de uma cerveja e começou a bater com ela na cabeça até que começou a esguichar por cima dos fãs. Haverá algo mais rock ‘n’ roll do que isto?
Sempre com um som elevado, mas com boa definição, a banda continuou com o pé no acelerador. “Breaking Out of Hell” fez jus ao seu nome ao incentivar o público a abrir uma clareira que mais parecia invocar a cratera de Darvaza, também conhecida como Porta do Inferno. Já “It’s All for Rock ‘n’ Roll” trouxe, não só, o momento de apresentação do resto da banda, Justin Street no baixo, Brett Tyrrell na guitarra ritmo e Ryan O’Keeffe na bateria, mas também uma homenagem a Lemmy Kilmister, o falecido líder dos Motörhead e amigo da banda. Joel O’Keeffe tratou então de servir em palco quatro Jack & Coke (Coca-Cola com Jack Daniel’s), a bebida favorita de Lemmy que também é apelidada com o seu nome.
Em mais uma demonstração do seu amor para com o rock ‘n’ roll, os Airbourne fecharam o set principal com “Stand Up for Rock ‘n’ Roll”. Se o concerto tivesse terminado por aqui já teríamos saído satisfeitos. Mas, após um pequeno interregno, onde o público voltou a entoar em coro “Ready To Rock”, Joel surgiu numa plataforma por detrás do muro de Marshalls para arrancar com “Live It Up”. Seguiu-se depois um snippet da malha “Rock ’n’ Roll for Life”, bem ao estilo da endiabrada “Let There be Rock” dos AC/DC e, a encerrar, “Runnin’ Wild”, o single que lançou os Airboune nesta vida louca que é o rock ‘n roll.
SETLIST
- Ready to Rock
- Too Much, Too Young, Too Fast
- Back in the Game
- Burnout the Nitro
- Girls in Black
- Bottom of the Well
- Breakin’ Outta Hell
- It’s All for Rock ‘n’ Roll
- Stand Up for Rock ‘n’ Roll
- Live It Up
- Runnin’ Wild