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Basia Bulat

Tall Tall Shadow

The Secret City Records, 2013-09-30

Timóteo Azevedo

Voz doce, talento quase natural para tocar uns quantos instrumentos e uma enorme capacidade para fazer canções bonitas é o “três em um” chamado Basia Bulat. “Tall tall Shadow”, o terceiro longa-duração da cantautora canadiana, é o seu álbum mais audaz. Ao explorar novos campos sonoros é como uma superação de Basia enquanto artista, sem compromisso com um som meramente comercial.

Afinal de contas, hoje em dia, é isto que diferencia os que se tornam meras “empresas musicais” e vendem milhões, e os que exprimem a sua arte através da música. Basia Bulat faz parte da segunda categoria. “Tall Tall Shadow” não só funciona como uma expressão sobre dor e perda, mas como a força necessária para se ultrapassar essas coisas. Ficámos a saber que Basia gosta de fado, e isso é algo que revela também esse carácter duplamente terapêutico da sua música, e que ao fado é tão comum: quem canta seus males espanta.

A procura por novas sonoridades passa, em “Tall Tall Shadow”, também por introduzir alguns elementos electrónicos, na sua plenitude em “Someone”, mas um pouco por todo o álbum, em que os arranjos saltam à vista comparativamente com os registos anteriores. O álbum foi produzido por Tim Kingsbury, dos seus compatriotas Arcade Fire, e Mark Lawson, o que acaba por se notar na forma como tudo soa. E tudo soa bem.

Também há músicas mais acústicas, marcadas pelas reminiscências do folk, como a guitarra na “Five, Four”, na sublime “It Can’t Be You”, em que podemos ouvir Basia tocar um charango dos Andes, assim como na “The City With no Rivers”, ou na intimista e sussurrada “Paris or Amsterdam”.

Há uma simplicidade latente, que não é feita com o que foi deixado de fora, mas com o que foi, subtilmente, posto dentro. Da percussão em slow-motion da “Never Let Me Go”, da utilização de coros em algumas canções, noutras, uma voz solitária e próxima, como na simplicidade tocante da “It Can’t Be You”, de guitarras ritmo quase impercetíveis (Five, Four), de reverbs e delays, de sopros tímidos no pop da “Promise Not To Think About Love”, tudo é pensado para que tenha um propósito específico para cada canção, consoante cada tema, fazendo de “Tall Tall Shadow” a afirmação, em estúdio, da qualidade artística de Basia Bulat.