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Boogarins a MIL com PAUS, Capitão Fausto e The Legendary Tigerman

Boogarins a MIL com PAUS, Capitão Fausto e The Legendary Tigerman

2018-04-04, B.LEZA
António Maurício
Ana Viotti /MIL 2018
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A festa de abertura do MIL (Lisbon International Music Network) aconteceu no B.LEZA com os brasileiros Boogarins e três artistas portugueses em simultâneo. Uma colaboração simbólica que transmitiu uma das mensagens principais do festival: ligar pessoas através da música. PAUS, The Legendary Tigerman e Capitão Fausto juntaram-se à banda brasileira em estúdio durante 5 dias (antecedentes) para criar um concerto especial onde as características artísticas de cada um encontraram espaço e equilíbrio dentro do rock psicadélico dos Boogarins.

Antes da amostra musical ao vivo foi exibido um vídeo que ilustrou a quadrilha musical em ação durante as sessões de treino. Uma espécie de “making-of” que aqueceu o público antes do início do espectáculo. Faltavam vinte para as onze quando os quatro Boogarins subiram ao palco do B.LEZA. O espaço do público estava composto a 76% e o palco recheado de instrumentos com, facilmente, mais de 25 pedais. O som de Boogarins encontrou-se camuflado por uma carga de efeitos (como é notável nos trabalhos em estúdio) e o reverb destacou-se por uma grande margem. Os instrumentos aqueceram rapidamente com secções exaltadas e irrequietas, com destaque para o baterista, Hans Castro, que exprimia emoções de sofrimento totalmente merecidas e justificadas pelo seu desempenho. Raphael Vaz ficou a cargo do contrabaixo na maior parte das performances, mas ocasionalmente, quando necessário, mostrava a sua versatilidade e assumia o controlo do sintetizador. As vocais ficaram a cargo de Fernando “Dinho” Almeida que, quando não estava de guitarra na mão, assumia o controlo de dois microfones para efeitos de voz mais profundos e estratificados. As secções de guitarra solo contagiantes ficaram (literalmente) na mão de Benke Ferraz, e a faixa “Foi Mal” foi talvez a melhor demonstração dessas melodias que se colam facilmente aos ouvidos.

Mas o grande destaque desta noite eram as participações em simultâneo com bandas portuguesas. A primeira colaboração ficou na responsabilidade dos Capitão Fausto. Aproximadamente 15 minutos depois, os 5 “capitães” abriram caminho para uma atuação de palco cheio onde a sonoridade psicadélica duplicou. Uma festa de amigos, onde cada artista desempenhou o seu ritmo sem complicações nem grandes inovações. Uma jogada segura. Já a entrada de PAUS foi bem mais eletrizante e eclética. O baixo com sonoridade eletrónica de Makoto abriu a solo com um groove hipnotizante.

Os seguintes instrumentos seguiram o ritmo em ascensão e transportaram o público para um ambiente “selvagem” através de uma tripla percussão munida de sons tribais. A cartada final foi jogada por Paulo Furtado, a.k.a The Legendary Tigerman. O homem-tigre esperava pacientemente no meio do público pelo seu turno. Cerveja na mão e olhos no palco. Como um predador à espera do momento perfeito para atacar a sua presa. A entrada por volta das 23h38 arrastou o espírito rock ‘n’ roll, com a guitarra de Tiger a acutilar notas de blues finalizadas com o uso abusivo (no melhor sentido possível) do Bigsby. No entanto, o destaque poderia ter sido maior através de um maior foco no som da guitarra por parte da produção.

Em suma, toda as colaborações contribuíram com ambientes e sonoridades singulares através da multiplicidade de instrumentos. Um espectáculo verdadeiramente único que justificou a presença simultânea de todos estes artistas em palco e que tão cedo não voltará a acontecer. Assistências carregadas pelos estilos portugueses que encaixaram e expandiram o som dos brasileiros. O concerto fechou com a “Onda Negra” dos Boogarins, e esperamos que a performance a solo no Musicbox (dia 5) inserida no festival seja de igual ou melhor calibre, e com um público mais interactivo.