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Bullet For My Valentine, 20 Anos De Um Veneno Que Continua Letal

Bullet For My Valentine, 20 Anos De Um Veneno Que Continua Letal

02/26/2025, Campo Pequeno, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Naquela que foi apenas a segunda visita a Portugal, os Bullet For My Valentine levaram-nos numa viagem sonora e visual até ao ano de 2005. Numa noite de pura nostalgia, a banda galesa tocou o clássico “The Poison” na íntegra para gáudio de toda uma geração de metaleiros que acompanhou o surgimento de um novo subgénero, o metalcore.

Quando falamos em música pesada proveniente do Reino Unido, Gales não é certamente o primeiro país que nos vem à cabeça. É certo que teve uma das bandas pioneiras do heavy metal, os Budgie, e exportou para o mundo nomes sonantes do espectro do post-hardcore e do metal alternativo, como é o caso dos Funeral for a Friend, Lostprophets e Skindred. No entanto, foi preciso surgirem os Bullet For My Valentine com o seu álbum de estreia “The Poison” para a porta do metal galês ficar escancarada para o mundo.

Apesar da sua origem britânica, as influências dos Bullet sempre estiveram do outro lado do Atlântico. Metallica, Machine Head, Pantera e Slayer foram o ponto de partida. Todavia, Matt Tuck e o resto da banda encontravam-se a seguir com atenção todo um movimento musical que fez despontar nomes como Killswitch Engage, Atreyu e Avenged Sevenfold. Numa inteligente fusão entre o passado e o presente, os Bullet entraram então em estúdio, em 2004, com o produtor Colin Richardson (Machine Head, Fear Factory e Carcass) para gravar “The Poison” (2005), aquele que viria a ser o seu álbum definitivo e um dos marcos de um género que começava a proliferar, o metalcore.

Poucas são as bandas que podem orgulhar-se de ter um álbum de estreia tão polido e rico em composições que revelam uma maturidade acima média. Os Bullet conseguiram-no e o resultado está à vista de todos com um álbum que serviu como porta de entrada de muitos adolescentes para o mundo da música pesada. Entretanto, o tempo passou como uma flecha e, por estranho que pareça, os Bullet já não são uma banda jovem. Também ainda não são veteranos, mas podemos dizer que chegarem aquele ponto em podem olhar para trás com algum saudosismo e assinalar as efemérides que vão surgindo. É neste cotexto que surge precisamente a The Poisoned Ascendancy Tour que juntou no Campo Pequeno dois dos maiores nomes do metalcore, os Bullet For My Valentine e os Trivium, na celebração do 20º aniversário de dois álbuns clássicos, “The Poison” e “Ascendancy”. Numa noite repleta de nostalgia embarcámos numa máquina do tempo até 2005, mas primeiro passámos pelo presente com os suecos Orbit Culture, a nova coqueluche do death metal melódico.

Orbit Culture 

Provenientes de Eksjö, os Orbit Culture são a mais recente atração do death metal melódico sueco. Com raízes no famoso som de Gotemburgo, a banda expande a sua sonoridade para campos como o groove metal e o metal sinfónico, proporcionando assim uma moldura sonora rica em peso e melodia, não só instrumental, mas também vocal. Apesar da sua ascensão ter começado à sensivelmente dois anos com o álbum “Descent”, os Orbit Culture já andam por estas andanças, passo a redundância, desde 2013 e contam já com quatro álbuns de estúdio editados. Com um tempo de atuação limitado a 30 minutos, a banda optou por visitar dois álbuns, o mais recente “Descent” e “Nija” (2020) e um EP, “The Forgotten”. “Descent”, “North Star of Nija”, “While We Serve”, “Vultures of North” e a sonante “From the Inside” souberam aquecer bem o público que demonstrou estar no Campo Pequeno para também assistir à estreia os Orbit Culture em terras nacionais, aspeto que ficou bem vincado com o número de vozes que se levantaram para entoar os refrões. A manchar ligeiramente a performance esteve apenas o som, que se revelou algo deficiente, com discrepâncias muito elevadas nos volumes da bateria e do baixo face às guitarras e à voz. Ser o primeiro nome a subir ao palco e dispor de tão pouco tempo de atuação é sempre algo ingrato para uma banda que procura angariar novos fãs, mas a sensação é de que essa missão ficou cumprida. 

Bullet For My Valentine 

Foi com imagens do icónico concerto de 2006 em Brixton e ao som de algumas entrevistas e promos de rádio que os Bullet For My Valentine entraram em palco. De braço dado com o passado e o presente, a setlist era dedicada ao “The Poison”, mas as telas de projeção e as peles exteriores dos bombos de bateria invocavam a artwork da capa do álbum homónimo, o mais recente da banda, editado em 2021. O arranque, como já era de esperar, foi ao som de “Her Voice Resides”.

Nesta tour a banda tem alternado com os Trivium o slot de quem abre e fecha a noite e por razões muito especiais, que invocamos na review da banda de Matt Heafy, foram estes que encerraram a noite de concertos no Campo Pequeno.

Sem grande espaço para contar muitas histórias dos tempos áureos da banda, seguimos diretamente para “4 Words (to Choke Upon)” ainda com uma qualidade de som muito parecida à que tínhamos assistido no concerto dos Orbit Culture . Com o alinhamento já bem oliado após um mês na estrada e com a tour prestes a terminar, notou-se um certo clima de festa, de boa disposição e de descontração entre os elementos da banda. Esta já não é a formação original da banda. Dessa só consta o vocalista e guitarrista Matt Tuck e o guitarrista solo Michael “Padge” Paget, mas o que é certo é que tanto Jamie Mathias, no baixo, como Jason Bowld, na bateria, trazem algo de revigorante para os temas tornando-os também um pouco seus, apesar não os terem gravado em estúdio.

Ouvir “Tears Don’t Fall”, o grande clássico dos Bullet, logo no princípio do concerto foi deveras estranho, mas já todos sabíamos qual seria o alinhamento e não foi esse posicionamento precoce que tirou toda a carga emocional ao tema. Descrita por Matt como a música que lançou a banda nesta viagem vertiginosa, primeiro surgiu numa versão em formato balada só com guitarra e voz, como podemos escutar na versão deluxe de “The Poison”, e depois com a banda completa já em cima do palco na versão clássica do tema. “Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)”, “Hand of Blood” e “All These Things I Hate (Revolve Around Me)”, habitués nas setlists dos Bullet, soaram já com o PA mais equilibrado, permitindo assim aos fãs captar todas as nuances de dois dos melhores riffs de Tuck e Padge e uma das melhores prestações vocais de Matt no “The Poison”.

Matt Tuck foi a casa dos pais, mais precisamente ao seu quarto de adolescente, buscar a sua Jackson USA RR1, com a qual já não tocava há quase 20 anos, e duas Jackson Matt Tuck Signature Rhoads, o seu primeiro modelo de assinatura, que já não eram usadas há 12/13 anos.

Para esta tour os Bullet foram ao baú buscar temas menos tocados como “Hit The Floor”, “Room 409” e “The Poison”, mas não foi só isso que a banda foi “desenterrar”. Matt Tuck foi a casa dos pais, mais precisamente ao seu quarto de adolescente, buscar a sua Jackson USA RR1, com a qual já não tocava há quase 20 anos, e duas Jackson Matt Tuck Signature Rhoads, o seu primeiro modelo de assinatura, que já não eram usadas há 12/13 anos. O músico reabilitou-as e levou-as para a estrada para que pudessem ser tocadas nesta tour tão simbólica. Já Padge recorreu às icónicas ESP LTD MP-200 Signature Michael Paget e Jamie a um Ernie Ball Music Man StingRay.

O set principal terminou, como já era de esperar, com “The End”, todavia o fim ainda não estava à vista. Após um breve encore, os Bullet ainda quiseram dar um cheirinho do resto da sua discografia, primeiro com a demolidora “Knives”, do seu mais recente álbum de estúdio, e depois com “Waking The Demon” de “Scream Aim Fire” (2008) com um momento de profunda espontaneidade, bem revelador da satisfação da banda para com o público em português, em que Matt Tuck saltou para o público para fazer crowd surf enquanto tocava guitarra no pré-solo e durante o solo. Escusado será dizer que o Campo Pequeno foi à loucura com tamanha entrega do líder dos Bullet for My Valentine. Depois foi perante cânticos de «Bullet! Bullet!» e com as emoções à flor da pele que a banda deixou o palco, “dificultando” assim a tarefa dos Trivium nesta competição saudável que tem sido a The Poisoned Ascendancy Tour.

SETLIST

  • Her Voice Resides
  • 4 Words (to Choke Upon)
  • Tears Don’t Fall
  • Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)
  • Hit the Floor
  • All These Things I Hate (Revolve Around Me)
  • Hand of Blood
  • Room 409
  • The Poison
  • 10 Years Today
  • Cries in Vain
  • The End
  • Knives
  • Waking the Demon