Dream Theater na MEO Arena, 40 Anos de Uma Carreira Majestosa
2024-11-16, MEO Arena, LisboaA assinalar duas efemérides, os 40 anos de banda e o regresso de Mike Portnoy após um afastamento de 13 anos, os Dream Theater regressaram a Portugal para levar os fãs numa intensa viagem musical repleta de saudosismo.
Quando Mike Portnoy anunciou ao mundo, em Setembro de 2010, que iria abandonar os Dream Theater ao fim de 25 anos foi como se do nada tivesse acabado de desabar parte da estrutura de um teatro histórico que, ao longo de décadas, tinha vindo a proporcionar algumas das performances mais marcantes da história da música. Portnoy nunca foi apenas e só um baterista extremamente dotado e respeitado pelos seus pares, ao longo dos anos foi sempre reconhecido como fundador, compositor, produtor e um dos vértices do triângulo instrumental que cunhou a sonoridade dos Dream Theater juntamente com o guitarrista John Petrucci e o baixista John Myung, seus colegas na Berklee College of Music.
A ideia inicial de Portnoy era fazer uma pausa nos Dream Theater para se dedicar exclusivamente a outros projetos musicais, algo que o baterista já estava a fazer, por exemplo, com os Avenged Sevenfold aquando do convite da banda para que Mike gravasse o álbum “Nightmare” (2010) em jeito de homenagem para com Jimmy “The Rev Sullivan, baterista da banda que faleceu em 2009. Porém, a ideia da banda entrar num hiato não foi recebida com agrado pelos outros membros, e Portnoy não viu outra escolha se não afastar-se mesmo do seu projeto musical primogénito.
Com diferentes caminhos a serem seguidos, os Dream Theater recrutaram Mike Mangini para a posição de baterista, enquanto Portnoy prosseguiu a sua carreira com uma série de projetos que contribuíram para a sua procura enquanto baterista de renome. Sem mostrar sinais de abrandamento Mike foi abraçando projetos como Adrenaline Mob, The Winery Dogs, The Neal Morse Band, Flying Colors e Sons of Apollo, só para citar alguns. Entre 2015 e 2016, foi ainda recrutado pelos Twisted Sister para ocupar, mais uma vez em jeito de homenagem, o lugar do falecido baterista A.J. Pero.
Mas, com o passar dos anos, Mike Portnoy foi sentido cada vez mais falta de tocar com os Dream Theater todo aquele catálogo que marcara a história do metal progressivo. Mantendo relações com John Petrucci, para quem gravara a bateria no seu álbum a solo “Terminal Velocity” (2020), e Jordan Rudess, com quem voltou a entrar em estúdio para gravar “Liquid Tension Experiment 3” (2021), projeto que também inclui Petrucci, Portnoy viu uma oportunidade para relembrar os bons velhos tempos e testar se a química ainda lá estava. Dissipadas essas dúvidas, foi necessário depois aproximar-se dos outros elementos da banda, particularmente do vocalista James LaBrie, cuja relação não tinha ficado nos melhores termos. O tão esperado encontro deu-se então em 2022 no Beacon Theater, em Nova Iorque, e não foi preciso muito para que os dois percebessem que o ressentimento já não estava presente. Os fãs ao saberem das boas novas, rapidamente começaram a esfregar as mãos de contentamento, até que, em Outubro de 2023 surgiu a confirmação oficial de Mike Portnoy estava de regresso à banda e que um novo álbum, intitulado “Parasomnia”, estava a ser preparado.
Com o tão aguardado regresso de Portnoy à banda, os Dream Theater sabiam que tinham que celebrar a ocasião com pompa e circunstância. Desta forma, apoiaram-se na celebração dos 40 anos da banda (a contar desde a sua primeira encarnação como Majesty) para partirem para a estrada numa tour retrospetiva de quase todo o seu catálogo. É certo que pensar numa setlist para uma tour de Dream Theater não é tarefa fácil, aliás essa é uma função que sempre recaiu sobre Portnoy. Mas, ainda se torna mais complicado quando se trata de uma tour de celebração de carreira, onde os fãs procuram ouvir um pouco de tudo.
A solução mais apelativa e democrática seria escolher pelos menos um tema de todos os quinze álbuns de estúdio da banda. Porém, não foi esse o caso, com álbuns como “When Dream and Day Unite” (1989), o primeiro da banda, “Six Degrees of Inner Turbulence” (2002) e “Black Clouds & Silver Linings” (2009), o último antes da saída de Portnoy da banda, a ficarem de fora do alinhamento. Por sua vez, a banda mostrou toda a sua postura de respeito para com Mike Mangini ao não descartar o seu período na banda com passagens por “A Dramatic Turn of Events” (2011), o primeiro álbum gravado com Mangini, e “Distance Over Time” (2019).
Com o formato “An Evening With” já tradicional, que consiste numa performance de três horas divida em dois atos e um encore, os Dream Theater continuam a desafiar as convenções operáticas num teste não só há resistência da banda, mas também do público. “Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper” abriu o espetáculo com uma moldura sonora avassaladora, mas algo desequilibrada. Na zona onde nos encontrávamo-nos, no Balcão 1, a guitarra de John Petrucci mostrou-se com pouca definição em toda a sua gama dinâmica, enquanto o baixo de John Myung esteve sempre muito acentuado na mistura, muitas vezes sobrepondo-se não só a Petrucci mas também aos teclados de Jordan Rudess. No entanto, não interferiu em nada na execução instrumental do tema, com os quatro músicos a apresentarem uma boa demonstração da coesão que todos reconhecemos nos Dream Theater.
No entanto, não interferiu em nada na execução instrumental do tema, com os quatro músicos a apresentarem uma boa demonstração da coesão que todos reconhecemos nos Dream Theater.
Seguiu-se a primeira visita a “Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory” (1999), para muitos o magnum opus dos Dream Theater. Primeiro escutou-se o instrumental “Act I: Scene Two: I. Overture 1928”, com a sua intro a remeter para outra faixa do mesmo álbum “Act II: Scene Seven: I. The Dance of Eternity”, e “Act I: Scene Two: II. Strange Déjà Vu”. Com os olhos e e ouvidos todos virados para Portnoy, LaBrie não perdeu tempo a apresentar o baterista que, naturalmente foi saudado, por um coro de aplausos. Portnoy levantou-se prontamente do seu TAMA Monster Kit que, verdade seja dita, já tinhamos saudades de ver e ao ouvir, para receber todo o carinho dos fãs e retribuiu o sentimento com a oferta de duas baquetas.
A procura em revisitar os diferentes álbuns da banda começou a vir ao de cima na segunda metade do Ato I, primeiro com “The Mirror” de “Awake” (1994), com Rudess, que costuma estar confinado à sua estação de trabalho e ao seu KORG Kronos, a recorrer ao Roland AX-Edge Keytar para se aproximar dos fãs e demonstrar todo o seu virtuosismo bem ao estilo da sua faceta de feiticeiro musical. Já Petrucci, acompanhado da sua Ernie Ball Music Man JP Majesty, transportou toda a sua energia braçal para o riff arrastado e demolidor. Ao longo da noite o guitarrista recorreu a vários modelos Majesty de 6 e 7 cordas com destaque para a Majesty Standard em Black Frosting, a Ball Family Reserve em Red Nebula e a 10th Anniversary Majesty em Silver Chalice. Já em “Panick Attack” de “Octavarium” (2005), foi a vez de Myung mostrar toda sua destreza a dedilhar o seu Ernie Ball Bongo de seis cordas em Sunset Orange.
“Barstool Warrior” de “Distance Over Time” (2019) foi a primeira visita ao período de Mike Mangini. A escolha de um tema desta fase demonstra que Portnoy consegue colocar o seu ego, que não é assim tão grande, de lado de forma a respeitar e reconhecer as contribuições que Mangini trouxe para a banda durante a sua ausência. Portnoy procedeu então a tocar o tema de acordo com a gravação original.
Com um repertório repleto de baladas, “Hollow Years” de “Falling Into Infinity” (1997) foi recebida por uma MEO Arena estrelada com as luzinhas dos telemóveis ao alto. É neste registo que James LaBrie mais sobressai, onde a sua voz de tenor soa de forma mais natural e sem o esforço, por vezes penoso, na região aguda. Já para os fãs, das malhas mais pesadas, os Dream Theater serviram de rajada “Constant Motion” de “Systematic Chaos” (2007), com Rudess a percorrer o seu Haken Continuum, e “As I Am” de “Train of Thought” (2003)
Após uma pequena pausa, o Ato II arrancou com uma abertura orquestral retrospetiva de todos os álbuns da banda que foi desembocar em “Night Terror”, o mais recente single que serve de cartão de apresentação do próximo álbum “Parasomnia”, cuja data de lançamento está agendada para 7 de Fevereiro de 2025. James LaBrie prontamente dirigiu-se aos fãs para referir que assim que o álbum for lançado a banda irá regressar a Portugal para que possamos ouvir os novos temas ao vivo.
James LaBrie prontamente dirigiu-se aos fãs para referir que assim que o álbum for lançado a banda irá regressar a Portugal para que possamos ouvir os novos temas ao vivo.
Seguiu-se a épica “Under a Glass Moon”, aqui já numa segunda passagem por “Images and Words”. “This Is the Life” voltou a revisitar a era Mangini, com o tema a demonstrar que as malhas de “A Dramatic Turn of Events” (2011) resultaram numa transição suave entre a fase Portnoy e a fase Mangini, sem descorar a qualidade e a marca de identidade da banda. Para a reta final do Ato II ficaram as dicotómicas “Vacant” e Stream of Consciouness” e “Octavarium”, essa suite épica de 24 minutos dividida em cinco andamentos que já não era tocada ao vivo desde a tour do respetivo álbum.
Já no encore, a banda voltou a revisitar “Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory”, primeiro com “Act II: Scene Six: Home”, antecedida por um excerto do “Feiticeiro de Oz” projetado nas telas, e “Act II: Scene Eight: The Spirit Carries On”, o épico que ganhou todo um novo sentido nesta tour, isto porque tem vindo a ser dedicada, noite após noite, à irmã de Mike Portnoy que faleceu no principio da tour. Desde então, Portnoy e o resto da banda fazem questão de pedir ao público para acender as luzes dos telemóveis em jeito de homenagem. Mas, a noite só iria ficar completa com “Pull Me Under”, tema que catapultou os Dream Theater para o estrelato e introduziu a voz de LaBrie ao mundo. Com os fãs a entoarem o refrão foi o culminar de uma celebração repleta de significado.
No final do concerto as emoções à flor da pele falavam mais alto. Para uns foi o reencontro com a sua banda de culto, enquanto para outros foi o primeiro contacto com a formação clássica da banda. Dizer que estamos a assistir a um renascimento dos Dream Theater, pode ser injusto para com estes últimos 40 anos, mas certamente que poucous se importaram se dissermos que o melhor ainda poderá estar para vir.
SETLIST
- Act I:
- Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper
- Act I: Scene Two: I. Overture 1928
- Act I: Scene Two: II. Strange Déjà Vu
- The Mirror
- Panic Attack
- Barstool Warrior
- Hollow Years
- Constant Motion
- As I Am
- Act II:
- Night Terror
- Under a Glass Moon
- This Is the Life
- Vacant
- Stream of Consciousness
- Octavarium
- Encore:
- Act II: Scene Six: Home
- Act II: Scene Eight: The Spirit Carries On
- Pull Me Under