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E o rock triste sorriu no Porto com The Pains of Being Pure at Heart

E o rock triste sorriu no Porto com The Pains of Being Pure at Heart

02/19/2025, M.Ou.Co
Giorgio Sérvius
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Os norte-americanos The Pains of Being Pure at Heart iniciaram a sua digressão ibérica no M.Ou.Co, no Porto, no dia 19 de Fevereiro, um concerto promovido pela SON Estrella Galicia.

Por vezes, pode ser muito difícil encontrar a descrição perfeita para o som de uma banda. Dias antes do concerto, estive em casa de um amigo a tocar guitarra e a ouvir algumas coisas em comum. Quando lhe apresentei os The Pains of Being Pure at Heart, ele virou-se subitamente para mim e afirmou: «esta banda parece a banda sonora de um filme dos anos 80 que eu nunca vi!». Não tive outra opção senão guardar isto para incluir neste texto. Não poderia ter dito melhor.

Antes do concerto, passei alguns minutos a relaxar no Backstage, um espaço para todas as idades, arrumado, bem decorado, com quadros bonitos a cobrir as paredes rústicas, bar com boas opções e bartenders muito simpáticos. É um excelente lugar para assistir a um concerto; no subsolo, onde a banda actuou, a acústica é muito boa. A proximidade do palco cria uma interessante sensação de intimidade com o artista. O único ponto negativo vai para o bar do subsolo, que está num espaço fechado e pequeno, bloqueando completamente a vista para o palco enquanto se espera pelo atendimento, o que gera uma fila impossível de enfrentar após o início do concerto. Apercebi-me disto e acabei por comprar logo o dobro do que planeava consumir. Apesar disso, o M.Ou.Co ganhou um fã e quero voltar lá mais vezes.

A abrir a noite, Cristina Quesada apresentou um set curto, intimista e divertido. Cantou as suas músicas leves, com uma voz doce e delicada, acompanhada por arranjos baseados em samplers e guitarra acústica. Os presentes que não estavam na fila do bar tentaram cantar algumas das músicas e a artista parecia muito feliz com a receptividade.

O Porto foi escolhido como o ponto de partida para uma digressão em homenagem ao aclamado álbum homónimo de 2009. Para além disso, o concerto marcou o regresso do grupo após quase seis anos de hiato. Era notória a ansiedade tanto do público como da própria banda. Ovacionados ao entrar em palco, nem precisaram de dar as boas noites. Como qualquer boa banda de rock deve fazer, os The Pains of Being Pure at Heart pegaram nos instrumentos e de rajada deram início à chuva de êxitos.

O cantor/guitarrista Kip Berman escreve músicas que costumo descrever, de forma simplista, como “um pouco de The Jesus and Mary Chain, um pouco de Belle & Sebastian“.

São cativantes, simples e obcecadas por um anseio juvenil que atinge o âmago de qualquer pessoa que já tenha amado. Ao vivo, soam exatamente como nos discos. Esperava um pouco mais de espontaneidade, peso e talvez até um toque de desleixo, mas as actuações foram quase nota por nota. Não que isso seja mau — na verdade, foi agradavelmente profissional — mas foge ao habitual das bandas do género.

Berman parecia bastante animado com o regresso da banda, estava feliz, contou histórias e saudou o público várias vezes. Isso tornou a actuação muito mais viva e a experiência foi simplesmente fantástica. Tal como no álbum de estreia, abriram com “Contender”, deixando claro que tocariam o disco na íntegra e pela ordem original. Foi fácil gostar de tudo. Ligaram as distorções e a microfonia já anunciava a intro de “Come Saturday”. Sem pausas, seguiram com “Young Adult Friction” e “This Love is Fucking Right!”.

Seguiu-se “The Tenure Itch” e, finalmente, uma pausa para respirar, com sorrisos e agradecimentos. Logo depois, iniciaram a cintilante “Stay Alive”, com Peggy Wang a fornecer uma bela harmonia vocal. “Everything With You”, a minha favorita, que fez o público dançar mais entusiasticamente do que é habitual no Porto. Mal tivemos tempo de descansar mergulhamos na famosa “Teenager In Love”, cantada por todos. “Hey Paul” foi dedicada à avó de Kip, que mencionou ser a música preferida dela. Para terminar a parte principal do concerto, tocaram a poderosa e densa “Gentle Sons”, que mereceu um final apoteótico.

Após uma breve pausa, regressaram para o encore, onde tocaram algumas canções de outros álbuns, como “Say No to Love” e “Belong”, embora já nem fosse necessário. A interpretação completa do álbum de estreia tinha deixado todos extasiados.

The Pains of Being Pure at Heart é música pop pura, filtrada por charme e um toque de rebeldia contida. Mesmo soando exactamente como nos discos — o que, repito, é magicamente profissional — têm o meu total respeito e lugar garantido em qualquer playlist que venha a criar.