Quantcast
Epica e Apocalyptica, Epicus Symphonia Metallicus

Epica e Apocalyptica, Epicus Symphonia Metallicus

2023-02-14, Coliseu dos Recreios, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
8
  • 10
  • 7
  • 8
  • 8

Numa noite dedicada ás correntes mais sinfónicas e orquestrais do heavy metal, os Epica e os Apocalyptica tomaram o palco do Coliseu dos Recreios para dar uma lição de mestria técnica e virtuosismo.

No vasto mundo dos subgéneros do heavy metal existem vários estilos que são muitas vezes menosprezados por uma falange de puristas que por norma gosta de definir quais são “os verdadeiros” subgéneros do heavy metal. Dentro da longa lista está recorrentemente presente o metal sinfónico, um subgénero que se caracteriza pela combinação de elementos de música clássica (sinfónicos, orquestrais e operáticos) com heavy metal tradicional. As razões para tal depreciação não são totalmente claras, mas podemos congeminar que o facto de não ser um subgénero “tão pesado” como outros pode ser uma delas, ou então, o facto de ser um género onde predominam as mulheres enquanto vocalistas e frontwoman, algo que certamente fará alguma “comichão” a alguns metaleiros que se apresentam um certo preconceito machista. O que é certo é que a julgar pela moldura humana presente ontem no Coliseu dos Recreios pode-se dizer que o metal sinfónico está de muita boa saúde e carregado de músicos que dominam a arte de bem tocar os seus instrumentos.

Para Sempre e Sempre

Após uma curta atuação da banda britânica Wheel ficámos surpreendidos ao ver que os roadies estavam  a colocar em palco um keyboard e a tirar o pano de uma bateria com double bass, o sinal estava dado, os Epica é que iam estranhamente tocar primeiro nesta “The Epic Apocalypse Tour 2022”. Por norma, existe um certo padrão que determina que a banda “maior” é que fecha a noite, mas bem vistas as coisas a tour é encabeçada pelos Apocalytpica e os Epica acabam por surgir aqui como convidados especiais. Esse estatuto secundário em nada afetou a qualidade da performance, que se desenrolou ao longo de cerca de 1h:30m, e que proporcionou  à banda holandesa mais tempo para tocar do que aquele que tivera no festival VOA Heavy Rock 2022. Ainda a promover “Omega”, editado em 2021, os Epica apresentaram um espetáculo imersivo que combina a componente musical com projeções, muitas delas de cariz futurista e esotérico. “Abyss The Time – Countdown To Singularity” abriu o concerto e colocou logo em evidência o casamento vocal formado pelos guturais do guitarrista Mark Jansen e pela voz operática de Simone Simmons. A interação entre músicos e público, e mesmo entre músicos e músicos, é um dos pontos que distingue os concertos dos Epica dos demais, e isso foi bem evidente em músicas como “Essence of Silence” ou “The Final Lullaby” com o guitarrista Isaac Delahaye e o teclista Coen Janssen em constante galhofa, mas sem falharem qualquer nota. Já “Victims Of Contigency” e “Code Of Life” trouxeram Coen Janssen para a frente do palco enquanto este tocava no seu peculiar NUmotion REVO 1 e interagia com as primeiras filas. Na reta final o clássico “Cry For The Moon” e a mais recente “Beyond The Matrix” foram as mais entoadas antes de “Consign To Oblivion” fechar o concerto com a já tradicional wall of death a pedido de Mark Jansen.

Metallica à moda de Bach

Após uma ausência de seis anos, os Apocalyptica regressaram finalmente a Portugal para proporcionar uma atuação soberba a todos aqueles cujo coração se encontra divido entre o heavy metal e a música clássica. Num concerto que poderia facilmente ter acontecido numa sala como o Grande Auditório do CCB, os Apocalyptica demonstraram que independentemente da estética da sua música estes preferem que os seus concertos sejam experienciados numa sala que permita ter uma plateia em pé e onde o público possa estar mais solto. Já com 30 anos de carreira, são particularmente conhecidos no meio por serem uma banda de violoncelistas que faz covers de músicas de metal, sendo que para a história fica o mítico álbum “Plays Metallica By Four Cellos” (1996). O que é certo é que os Apocalyptica também dispõem de um vasto repertório de originais, menos conhecido do grande público, mas que também apresenta várias músicas com uma grande qualidade composicional, ou não fossem eles músicos com estudos de conservatório.

Ao Coliseu dos Recreios, a banda de Eicca Toppinen, trouxe então uma mistura desses dois registos proporcionando assim uma agradável dinâmica. “Ashes of the Modern World” abriu o concerto de forma melancólica e com tonalidades mais góticas. “I’m Not Jesus” e “Not Strong Enough” gravadas originalmente por Corey Taylor, dos Slipknot e Brent Smith, dos Shinedown, também surgiram na setlist e foram interpretadas pelo vocalista Franky Perez que gravou com a banda o álbum “Shadowmaker” (2015). Perez apesar de competente não é um vocalista deslumbrante e teve a difícil tarefa de puxar por um público que estava ali essencialmente para ouvir um concerto instrumental. Entre alguns problemas técnicos, os Apocalyptica voltaram a puxar pelos fãs de Epica ao chamarem Simone Simmons para interpretar a balada “Rise Again”. Mas o que todos realmente estavam à espera era de poder ouvir as músicas dos quatro cavaleiros do thrash metal. Estas só apareceram na segunda metade do concerto, primeiro na forma de “Nothing Else Matters”, cuja versão dos Apocalytpica ganhou uma nova vida ao surgir na banda sonora da série “Wednesday” de Tim Burton, e depois com “Seek & Destroy”, onde Perttu Kivilaakso se agigantou ao executar o solo de Kirk Hammet de forma sublime. Para terminar o concerto a banda reservou um tema que diz tanto aos fãs de música clássica como aos de heavy metal, pois já foi alvo de muitas covers, falamos naturalmente de “In The Hall Of The Mountain King” o 4º andamento da suíte nº1 “Peer Gynt” do compositor norueguês Edvard Grieg, que entre melodias de Mozart e de “Olé, Olé, Olé” colocou um ponto final “épico” a uma noite para mais tarde recordar.

SETLIST

  • Epica
    Abyss Of Time – Countdown To SIngularity
    The Essence Of Silence
    Victims Of Contigency
    Unleashed
    The Final Lullaby
    Fools Of Damnation
    In All Conscience
    Rivers
    Code Of Life
    Cry For The Moon
    Beyond The Matrix
    Consign To Oblivion
  • Apocalyptica
    Ashes Of The Modern World
    Grace
    I’m Not Jesus
    Not Strong Enough
    Rise Again
    En Route To Mayhem
    Shadowmaker
    I Don´t Care
    Nothing Else Matters ( Metallica Cover)
    Inquisition Symphony (Sepultura Cover)
    Seek & Destroy (Metallica Cover)
    Farewell
    In Hall Of The Mountain King (Edvard Grieg COver)