Quantcast
EVIL LIVE 2024 | Avenged Sevenfold, O Sonho Que Comanda a Vida

EVIL LIVE 2024 | Avenged Sevenfold, O Sonho Que Comanda a Vida

2024-06-30, MEO Arena, Lisboa
Rodrigo Baptista
9
  • 8
  • 10
  • 10
  • 6

Passados 11 anos de ausência, os Avenged Sevenfold (A7X) regressaram a Portugal para apresentar um concerto visualmente imersivo e repleto de projeções sensoriais. Perante uma plateia ávida, a banda apresentou o seu mais recente álbum “Life Is But a Dream…”, mas não esqueceu os clássicos de uma carreira em contínua ascensão.

Quando a 14 de Março de 2023, os Avenged Sevenfold apresentaram ao mundo “Nobody”, o primeiro single de “Life Is But A Dream…”, foram muitos fãs que torceram o nariz à sonoridade experimental da faixa. No entanto, foi apenas o passo mais expectável após “The Stage”, de 2016, que já tinha sido um álbum pensado como uma obra musical conceptual e com composições predominantemente progressivas. Aliás, se olharmos para os diversos álbuns dos A7X vamos chegar à conclusão que a componente progressiva sempre esteve presente em várias das suas músicas mais conhecidas e mais amadas pelos fãs. “A Little Piece of Heaven” do álbum homónimo (2007) e “Save Me” de “Nightmare” (2010), ambas tocadas no concerto do EVIL LIVE, são dois dos exemplos mais flagrantes.

A constante procura em não estagnar a sua sonoridade e de trazer para a banda ideias atuais, mas também futuristas, é um dos motes de “Life Is But a Dream…”. Inspirado na obra filosófica de Albert Camus, este é um trabalho onde os conceitos do existencialismo e absurdismo estão bastante presentes na componente lírica. Por outro lado, e com o intuito de explorar ao máximo a sua mente criativa, este é também um álbum guiado pelo uso de drogas recreativas, com o vocalista M. Shadows e o guitarrista Synyster Gates a experimentarem 5-MeO-DMT, uma substância psicadélica.

A espera pelo regresso dos A7X a Portugal foi longa, mais precisamente 11 anos. Além de não terem passado pelo nosso país na tour do “The Stage”, também estiveram afastados dos palcos durante vários anos, não só devido à pandemia, mas também a compor “Life Is But a Dream…”, que levou mais tempo do que a banda e os fãs esperavam.

Desta forma, expectativa para voltar a A7X ao vivo Portugal era muito elevada. O espetáculo que a banda preparou para esta tour não faz uso da cenografia nem da pirotecnia que marcou durante anos os concertos da banda. Desta vez, a escolha recaiu sob uma forte componente visual assente em projeções e animações extasiantes, assim como de um jogo de luzes muito criativo.

A entrada em palco fez-se ao som da novidade “Game Over”. M. Shadows surgiu na dianteira do palco sentado e disfarçado com uma máscara de ski, mas foi o suficiente para agarrar logo o público na palma da sua mão. O som algo embrulhado fez-se notar no primeiro tema, e revelou-se uma constante, principalmente na escuta da voz de Shadows que, apesar da sua prestação bastante competente, nem sempre foi audível em vários momentos concerto. O alinhamento prosseguiu com o encadeamento de “Life Is But A Dream…”, e de seguida ouviu-se “Mattel”, uma sátira à boneca mais famosa do mundo, a Barbie, e à plasticidade das metrópoles urbanas. Os fãs mostraram ter a lição bem estudada e acompanharam o tema do início ao fim.

Neste que foi também o primeiro momento de maior brilhantismo do guitarrista Synyster Gates, o músico demonstrou o porquê de ser um dos maiores shredders do séc. XXI, ao executar o solo intrincado da música na sua Schecter Synyster Custom-S sem qualquer esforço ou descuido.

“Afterlife” foi o primeiro clássico da noite e o primeiro momento de maior histeria. Este que é um dos temas com a produção mais pop no catálogo dos A7X foi entoado a plenos pulmões, com M. Shadows a ser muitas vezes abafado por completo, algo que também se revelou recorrente ao longo espectáculo. Mais à frente, Shadows até brincou com os fãs ao dizer «vocês estão a cantar muito alto. Nem sequer me consigo ouvir. Cantem mais baixo.» Neste que foi também o primeiro momento de maior brilhantismo do guitarrista Synyster Gates, o músico demonstrou o porquê de ser um dos maiores shredders do séc. XXI, ao executar o solo intrincado da música na sua Schecter Synyster Custom-S sem qualquer esforço ou descuido.

Seguiu-se “Hail To The King” numa homenagem às bandas com quem os A7X têm partilhado os palcos neste verão, como é o caso dos Megadeth, que também estiveram no lineup do segundo dia do EVIL LIVE 2024. O padrão desafiante do riff inicial, que combina a técnica pull off com palheta, os cânticos de “HAIL!” e o refrão extremamente orelhudo fazem desta malha um verdadeiro hino do chamado metal de arena.

Para quem tem acompanhado a tour de festivais dos A7X sabe que os slots da quinta e sexta música são giratórios e, apesar de sabermos que a escolha pode variar entre cinco ou seis temas, o momento acaba por ser sempre uma surpresa. No concerto de Lisboa fomos brindados com “Almost Easy”, que pôs à vista de todos a destreza do baterista Brooks Wackerman na técnica do double ride, criada pelo malogrado baterista original da banda, The Rev, aquando da gravação da faixa, e ainda “Seize The Day”, a única passagem da noite por “City of Evil” (2005), que mostrou-nos Zacky Vengeance a dedilhar uma Martin e a cantar os primeiros versos da faixa. Ao longo do concerto, também vimos Zacky a dedilhar a sua clássica Schecter Signature Zacky Vengeance Custom e a nova Schecter ZV-H6LLYW66D, com um design semelhante a uma SG. 

Porém, a surpresa da noite ainda estava para chegar na forma de “Shepherd of Fire”. A faixa de abertura de “Hail To The King” (2013) ainda não tinha sido apresentada nesta tour europeia e até os fãs mais fieis, que tinham estudado a setlist por completo, ficaram surpreendidos quando escutaram a primeira badalada de sino que dá início à malha. «Esta é só para vocês!», disse M. Shadows com o intuito de tornar o último concerto desta passagem pela Europa ainda mais especial. Mais à frente, Shadows acabaria por revelar que o itinerário da tour de 2025 já está traçado e que Portugal encontra-se no mapa.

Numa procura, por vezes difícil, de passar por quase todos os álbuns da sua carreira, chegámos até “Waking The Fallen” (2003) com “Unholy Confessions”. A faixa que remete para a fase metalcore da banda foi recebida com circle pits. Shadows pode já não ter o vigor de outros tempos nos screams, mas, desde que adotou uma técnica mais saudável de cantar, o vocalista tem vindo a melhorar as suas prestações nestes temas que pedem outro tipo de técnica vocal.

“Nobody” influenciada pela obra “O Estrangeiro” de Camus é já um clássico entre os fãs. O seu riff é simples, mas profundamente eficaz ao remeter-nos para uma espécie de sirene de chamada para um fim do mundo apocalíptico. Syn surgiu como uma Schecter sem cabeça de sete cordas, um modelo que tem deixado os fãs curiosos, e na ponte da música deu-nos, através de um mini solo de vocoder, um cheirinho das experimentações eletrónicas que os A7X adotaram no seu novo trabalho. “Nightmare” levou-nos até ao álbum mais difícil da carreira da banda. O single do primeiro trabalho que o grupo lançou após a morte prematura do baterista The Rev foi entoado de forma sentida por todos com o verso «It’s your fucking nightmare!» a ecoar pela arena.

Já na reta final do concerto chegámos finalmente à secção das magnum opus dos A7X. “A Little Piece of Heaven”, com os seus oito minutos, foi a primeira a desfilar. A faixa do álbum homónimo nunca foi single, mas tornou-se numa das preferidas dos fãs. A sua sonoridade à la Danny Elfman, assim como a sua letra satírica sobre uma relação conjugal mórbida e necrofilia, remetem para o universo Tim Burton. Desta forma não é de estranhar que tenha sido o ponto de entrada de muitos fãs no universo A7X. Seguiu-se “Save Me”, esta com quase 11 minutos. É preciso ter coragem para apresentar num festival dois temas que juntos compõem quase 1/3 do concerto. Rica em secções variadas, foi no refrão e no outro «Tonight we all die young» que a performance encontrou os seus pontos altos e onde, mais uma vez, The Rev surgiu no pensamento de todos.

Para fechar o concerto, os A7X deram uma volta de 360º e voltaram a “Life Is But a Dream”. A etérica “Cosmic” fez-nos levitar até ao cosmos com a sua sonoridade espacial. Com umas secções a invocar a sonoridade de uns Electric Light Orchestra e outras a de uns Rush, a performance teve o seu climax quando M. Shadows recorreu ao vocoder para interpretar o refrão.

Na despedida Shadows reforçou a promessa que em 2025 vamos poder contar com os A7X novamente em Portugal. Sem a habitual troca de baquetas e palhetas, a banda saiu do palco sem grandes demoras, mas com a certeza de que tinham entregado uma performance magistral. No rosto dos fãs, à saída, a expressão era de satisfação e de gratidão para com a dedicação e cuidado que a banda coloca nos seus espetáculos. Até para o ano A7X!

 

SETLIST

  • Game Over
  • Mattel
  • Afterlife
  • Hail to the King
  • Almost Easy
  • Seize the Day
  • Shepherd of Fire
  • Unholy Confessions
  • Nobody
  • Nightmare
  • A Little Piece of Heaven
  • Save Me
  • Cosmic