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Fontaines D.C. no Campo Pequeno: O Romance Não Morreu e o Punk Muito Menos

Fontaines D.C. no Campo Pequeno: O Romance Não Morreu e o Punk Muito Menos

2024-11-01, Campo Pequeno, Lisboa
Rodrigo Baptista
João Padinha / Everything Is New
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Numa ascensão meteórica, os Fontaines D.C. apresentaram-se em Lisboa para o seu primeiro concerto em nome próprio em Portugal. Com casa quase esgotada, a banda dublinense encarou o público português com uma maturidade invejável, justificando assim o seu estatuto de líderes de um novo revivalismo post-punk.

Não foi permitido à Arte Sonora a habitual galeria de fotos.

Após duas frutíferas passagens pelos festivais portugueses, o NOS Alive em 2022 e o Paredes de Coura em 2024, os irlandeses Fontaines D.C. regressaram a Portugal para apresentarem-se pela primeira vez em exclusivo para os seus fãs. Fruto da sua crescente popularidade, devido ao lançamento de álbuns aclamados como “Stinky Fia” (2022) e a novidade “Romance” (2024), a banda aterrou automaticamente numa arena portuguesa. Desta forma, os Fontaines D.C. não precisaram de percorrer todo o circuito das salas lisboetas, que geralmente tem início em salas como o LAV, seguindo depois para o Coliseu dos Recreios ou Sala Tejo e depois sim, se continuar a verificar-se uma ascensão em termos de popularidade e procura, com a entrada nas arenas, objetivo que qualquer artista pretende alcançar.

Com apenas dez anos de carreira, os Fontaines D.C. surgem no panorama musical internacional como porta estandarte de um novo revivalismo britânico e irlandês da música post-punk, movimento musical que teve o seu auge no final dos anos 70 e princípios de 80 com bandas como Joy Divison, The Cure e Siouxsie and the Banshees. Sendo irlandeses, torna-se também inegável a influência que álbuns como “Boy” (1980), “October” (1981) e “War” (1983), dos seus conterrâneos U2, tiveram na busca da sua identidade sonora. 

Fruto da sua crescente popularidade, devido ao lançamento de álbuns aclamados como “Stinky Fia” (2022) e a novidade “Romance” (2024), a banda aterrou automaticamente numa arena portuguesa.

Tendo passado por Paredes de Coura há sensivelmente dois meses e meio, os Fontaines D.C. apresentaram-se no Campo Pequeno com um espetáculo muito semelhante, tanto ao nível da setlist como na cenografia utilizada em palco. Um grande letreiro luminoso com o nome da banda suspenso na dianteira do palco, um gigante coração insuflável no fundo do palco e cortinas que subiam e desciam para combinar com estrelas e luas suspensas e um jogo de luzes faustoso foram os elementos cénicos que acompanharam o espetáculo da banda irlandesa que teve início com a sempre emocionante queda de uma cortina que cobria o palco.

João Padinha / Everything Is New

“Romance”, faixa que abre o álbum com o mesmo título, iniciou o concerto com os seis músicos ainda escondidos por detrás da cortina. Seguiu-se “Jackie Down Line”, que com um travo de brit pop colocou grande parte da plateia aos saltos numa primeira manifestação de como o público se deve comportar num concerto punk. Com um som sempre a estoirar e por vezes no limiar do desconfortável, tal era o seu volume e excesso de graves, os Fontaines D.C. prosseguiram numa espécie de piloto automático para “Televised Mind” e “Roman Holiday”, esta última contou com um momento espontâneo do público a entoar o riff de guitarra.

Bem ao estilo da tipologia do concerto dos Pixies (por exemplo), também os Fontaines D.C. são uma banda de poucas palavras. Aliás, apenas contámos duas intervenções do vocalista Grian Chatten, uma delas com uma mensagem política. «Olá, somos os Fontaines D.C.. Libertem a Palestina!», disse Chatten já a meio do concerto numa mensagem que já se avizinhava, visto que junto aos teclados de Carlos O’Connell também se encontrava uma bandeira do estado em conflito.

Seguiu-se o shoegaze/dream pop de “Big Shot”, assim como a fuzzy “Death Kink”, que demonstraram que os Fontaines D.C. não só não limitam a sua paleta sonora às fronteiras do punk, como também navegam por outras sonoridades com desenvoltura.

Seguiu-se o shoegaze/dream pop de “Big Shot”, assim como a fuzzy “Death Kink”, que demonstraram que os Fontaines D.C. não só não limitam a sua paleta sonora às fronteiras do punk, como também navegam por outras sonoridades com desenvoltura. Por sua vez, “Sundowner” deu descanso à voz de Chatten e colocou o guitarrista Conor Curley a ocupar a posição de vocalista principal.

João Padinha / Everything Is New

Elétrico, Chatten foi palmilhando o palco de uma ponta a outra, por vezes às voltas sobre si próprio, enquanto incentivava o público a entregar-se cada vez mais à música. E assim foi, com vários moshes a abrirem-se em várias partes da plateia para acompanharem temas como “A Hero’s Death” e “Here’s the Thing”. Aliás, o público entregou-se de tal forma que até proporcionou, durante o tema “Big”, certamente, um dos momentos mais caricatos da história dos concertos em sala, em Portugal. No início da música abriu-se uma clareira no público para, bem ao estilo de um jogo de futebol, alguns fãs acenderem uma tocha. O grande clarão rapidamente alertou os seguranças que correram prontamente para resolver a situação antes que acontecesse alguma ocorrência de maior gravidade. No entanto, não deixa de ser algo impressionante e até engraçado, ficando aqui o registo de algo que até então só nos lembramos de ver no concerto de Liam Gallagher no Rock in Rio Lisboa ou em vídeos de concertos de metal e rock na América Latina.

O concerto prosseguiu sem grandes oscilações e para a reta final ficaram guardadas “Boys in the Better Land”, com a sua temática relativa ao escape de um local onde a vida é monótona e as oportunidades são escassas e a romântica “Favorite”. O relógio marcava a passagem de apenas uma hora de concerto e sem qualquer pressa para sair, pois pouco passava das 22h de uma sexta feira, os fãs juntaram-se para uma onda de ruído que acabou por trazer a banda de volta ao palco para a melancólica “In the Modern World”, a sentimental “I Love You” e o rap rock de “Starburster”.

Já com as cores da bandeira da Irlanda a iluminar o letreiro surgiu a despedida fugaz perante um Campo Pequeno completamente rendido à banda de Dublin. É caso para dizer que passámos um “a whale of a time“.

João Padinha / Everything Is New

João Padinha / Everything Is New

João Padinha / Everything Is New

SETLIST

  • Romance
  • Jackie Down the Line
  • Televised Mind
  • A Lucid Dream
  • Roman Holiday
  • Big Shot
  • Death Kink
  • Sundowner
  • Big
  • A Hero’s Death
  • Here’s the Thing
  • Bug
  • Horseness Is the Whatness
  • Nabokov
  • Boys in the Better Land
  • Favourite
  • In the Modern World
  • I Love You
  • Starburster