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Halestorm & O Regresso do Furacão Lzzy a Portugal

Halestorm & O Regresso do Furacão Lzzy a Portugal

2023-12-02, Lisboa Ao Vivo
Rodrigo Baptista
Jorge Botas | Prime Artists
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Após uma longa espera de 10 anos, os Halestorm regressaram a Portugal para uma tempestade avassaladora de hard rock, grandes baladas ao piano e discursos de amor e de empoderamento feminino. Lzzy Hale, a líder da banda, foi aos píncaros da sua capacidade vocal e solista e assinalou uma performance irrepreensível. A abrir a noite estiveram os Black Veil Brides, banda de culto da subcultura emo, e a artista alternativa Mothica.

Passaram pouco mais de 10 anos desde que os Halestorm se estrearam em Portugal a abrir para os Alter Bridge no Coliseu dos Recreios. Na altura andavam na estrada a promover “The Strange Case Of…” (2012), o seu segundo longa duração, que lhes valeu um Grammy pela faixa “Love Bites (So Do I)”, um feito deveras extraordinário para uma banda emergente que já começava a causar um certo burburinho na cena hard rock internacional. Desde então, a banda liderada pela carismática frontwoman Lzzy Hale nunca mais parou, e o seu trajeto tem sido sempre em ascensão.

Com uma formação consolidada desde o primeiro álbum, que conta, além de Lzzy, com o seu irmão Arejay Hale na bateria, Joe Hottinger na guitarra solo e Josh Smith no baixo e teclados, os Halestorm tomaram os maiores palcos, os maiores festivais e projetos como o tributo a Ronnie James Dio ou a colaboração com Amy Lee em “Break In” sem qualquer presunção e vedetismos, apenas com o seu talento e amor pelo rock ‘n’ roll mais puro e sem qualquer tipo de artifícios.

No entanto, havia algo que os fãs portugueses dos Halestorm não conseguiam compreender. Porque é que Portugal continuava a não constar entre as datas das digressões que a banda marcava na Europa? Falta de abordagem dos promotores ou questões relacionadas com rotas e logística, não sabemos, mas o que é certo é que fãs dos Halestorm não faltam em Portugal, e isso ficou comprovado na rapidez com que os bilhetes voaram para o concerto do LAV. Afinal de contas todos queriam estar presente nesta noite que resultou numa profunda comunhão entre banda e público. Mas já lá vamos aos anfitriões…

Mothica    

Nesta que é a sua primeira tour europeia, a artista alternativa Mothica tem vindo a ganhar novos fãs com o seu emo pop rock aconchegante. Portugal não foi excepção, e se alguns já conheciam o seu repertório, outros ficaram rendidos à vulnerabilidade de temas como “CASUALTY” e “SENSITIVE” do seu mais recente trabalho “Nocturnal” (2022) e “VICES” do seu primeiro álbum “Bue Hour” (2020). Para cativar os mais céticos Mothica apresentou ainda duas reinterpretações de músicas bem conhecidas do público presente, “Can You Feel My Heart” dos Bring Me The Horizon e “All Star” dos Smash Mouth, que colocaram o LAV a cantar em uníssono.

Black Veil Brides 

Os Black Veil Brides (BVB) surgem no line-up desta tour num contexto completamente diferente de Mothica. Também eles estreantes em Portugal, com uma carreira de mais de 15 anos e com seis álbuns editados, os BVB apresentam-se como uma banda de culto dentro da subcultura emo. Por isso, não é de estranhar que grande parte do público do concerto, arriscamos dizer cerca de 80%, fosse composto por jovens, alguns deles ainda adolescentes, que compraram bilhete para ver principalmente BVB.

Ainda a promover “The Phantom Tommorow” (2021), e com um set curtinho de 45 minutos, os BVB tentaram passar por todos os álbuns da sua carreira e tocar os clássicos que todos os fãs queriam ouvir. Apesar do esforço, “IV” (2014)  acabou por ficar de fora, assim como os hinos “Perfect Weapon” e “Wretched and Divine”.

“Crimson Skies” foi a escolhida para iniciar a atuação. Um som extremamente desequilibrado com a voz e as guitarras a serem completamente abafadas pela bateria antecipou o pior. Com margem para alguns melhoramentos, os técnicos de FOH (Front of House) nunca se aperceberam das deficiências sonoras e “Rebel Love Song” e “Wake Up” continuaram com um som embrulhado e pouco perceptível. Nada que tenha afetado a performance da banda, com o vocalista Andy Biersack a mostrar-se bem disposto e a palmilhar o palco de sorriso rasgado ao perceber que tinha o público na mão.

Com pouco tempo para grandes discursos, os BVB foram desferindo um pouco em piloto automático temas como “Nobody’s Hero” do álbum conceptual “Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones” (2013) e “Scarlett Cross” e “Torch” do último longa duração. Chegada a reta dos maiores clássicos, primeiro veio “The Legacy”, que colocou em evidência a destreza técnica na pedaleira dupla do baterista CC. Depois “Knives and Pens”, a malha que lançou os BVB na sua jornada musical. Já “Fallen Angels” exaltou uma das grandes imagens de marca da banda, as harmonias de guitarra de Jinxx e Jake Pitts, com o primeiro a dedilhar uma BC Rich Mockingbird Extreme com Floyd Rose e o segundo a recorrer à sua Schecter Jake Pitts E-1 FR S. “In The End”, com muitos coros à mistura, foi a escolhida para terminar o concerto. A promessa de um regresso dos BVB a Portugal ficou feita, agora resta esperar que seja cumprida.

 

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Halestorm 

Foi com uma introdução a cappella de “Raise Your Horns” que Lzzy Hale entrou em palco, seguida do resto da banda. A intenção foi a de criar um clima de antecipação para a descarga elétrica de “I Miss the Misery”. O efeito pretendido foi conseguido, e sem dar tempo para processar aquele choque inicial de ver novamente os Halestorm em Portugal a banda arrancou para a frenética “Love Bites (So Do I)”.

No primeiro momento de conversa do concerto, Lzzy aproveitou não só para agradecer a todos os fãs que esperaram e que continuaram a apoiar a banda nesta década de ausência dos palcos portugueses, mas também para expressar a sua mensagem de apreço e de devoção para com todas as mulheres que se encontravam no público. Estava assim feita a ponte para “I Get Off”, uma das muitas faixas dos Halestorm que aborda a temática da liberdade sexual feminina, uma temática que Lzzy aplica nas suas letras como forma de combater preconceitos e estereótipos impostos por uma sociedade ainda muito patriarcal.

Como jam band, ou seja, como uma banda que ao vivo desconstrói as suas canções e introduz vários momentos de improvisação, os Halestorm são um dos casos mais interessantes do panorama rock contemporâneo. Um dos primeiros momentos dessa liberdade formal veio precisamente a meio de “I Get Off” quando Lzzy acompanhada por uma linha de piano tocada por Josh Smith entrou numa catarse vocal repleta de emoção. Com uma voz extremamente moldável, Lzzy impressiona tudo e todos com a sua tessitura e registos que vão desde a voz limpa e cristalina à voz de peito repleta de distorção natural.

“Wicked Ways” e “Amen” não destoaram das anteriores e prepararam o público para a primeira passagem pelo repertório baladeiro dos Halestorm. Primeiro com a acústica “Terrible Things”, com Joe Hottinger a dedilhar uma Gibson Chet Atkins SST, e depois com “Familiar Taste of Poison”. A elétrica “Takes My Life” foi a única quebra este os dois momentos mais serenos do concerto. O segundo contou apenas Lzzy em palco acompanhada pelo seu Nord Stage 2 para uma interpretação inspirada do medley “Break In / God Bless the Beast / Shatter Me” e de “Raise Your Horns”.

Para os fãs de gear foi um autêntico deleite poder assistir ao desfile de guitarras de Lzzy Hale e Joe Hottinger. Hale, como embaixadora da Gibson, apresenta um arsenal com muitos modelos custom, como é o caso da sua Explorerbird de assinatura em Cardinal Red, da Explorer “Victoria” que conta com um vistoso acabamento Rose Gold com brilhantes e da EDS-1275 doubleneck baritone que utlizou em “I Am the Fire”. Mas Lzzy também puxou de uma Explorer Goldtop, , a uma SG e a uma variação de uma Kramer Gunstar Voyager. Já Hottinger também fã de Gibson recorreu a uma Les Paul Goldtop com Bibsby, a uma 1959 Les Paul Reissue, a uma SG com um pickguard espelhado, a uma EDS-1275 doubleneck num acabamento azul escuro raro e uma Fender com um corpo de Stratocaster e braço de Telecaster. Já o baixista Josh Smith teve como preferência baixos Fender Precision com diferentes escalas e um Aerodyne Jazz Bass.

Nas peles, Arejay Hale é um autêntico miúdo endiabrado. Rápido, tecnicamente evoluído e brincalhão, o irmão mais novo de Lzzy mostrou todos os seus truques num solo de bateria que além do clássico call and response com o público, teve o seu momento mais alto quando Arejay sacou de umas baquetas “king size” e começou a tocar fills enquanto rodopiava as baquetas em mais um truque que deslumbrou o público.

Ao entrar na reta final do concerto ainda se ouviu “Freak Like Me”, cujo o nome serve de inspiração para a alcunha que os Halestorm dão aos seus fãs, os freaks, “Back From The Dead”, a faixa título do último álbum da banda e “Bombshell”, também do álbum de 2022.

Após o encore os Halestorm regressaram ao palco de copo levantado para brindar e antecipar “Here’s To Us”. Os mandamentos de “The Steeple” foram os escolhidos para encerrar esta noite que se fez de celebração e comunhão. «This is my kingdom/ This is my cathedral/This is my castle/And these are my people» entoou Lzzy Hale numa aclamação onde não há qualquer tipo de oposição ou dúvida. E se o povo é em quem mais ordena, então ordenamos que os Halestorm não demorem mais uma década para regressar a Portugal.

 

SETLIST

  • I Miss The Misery
  • Love Bites (So Do I)
  • I Get Off
  • Wicked Ways
  • Amen
  • Terrible Things
  • Familiar Taste of Poison
  • Takes My Life
  • Break In / God Bless the Beast / Shatter Me
  • Raise Your Horns
  • I Am the Fire
  • Freak Like Me
  • Drum Solo
  • Back From the Dead
  • Bombshell
  • Here’s to Us
  • The Steeple