Como José Pinhal Post-Mortem Experience ressuscitaram um herói improvável no Teatro Sá da Bandeira
2024-09-26, Teatro Sá da Bandeira, PortoNo dia 26 de Setembro foi uma noite especial no Teatro Sá da Bandeira, uma das casas de espetáculos mais emblemáticas da cidade do Porto, com o concerto de José Pinhal Post Mortem Experience.
Concerto no Porto completamente esgotado para celebrar o ressuscitar da música de José Pinhal: um Herói improvável, que teve um sucesso modesto nos anos 80 e foi resgatado do esquecimento para se tornar uma figura quase lendária da música popular portuguesa. Às vezes pergunto-me: quantos José Pinhais existirão por aí?
Isto do José Pinhal Post Mortem Experience é um fenómeno interessante. O projeto surgiu em 2016, com a bênção de Marina Pinhal, que ontem estava no Teatro Sá da Bandeira visivelmente emocionada com tudo o que por lá aconteceu, e ganhou vida própria, muito além do que seria de esperar, antes do surgimento deste projecto. Coincidentemente, a banda é composta por músicos da cena underground do Porto, e o artista que homenageiam era, também ele, meio underground na sua época. A prova de que, menos com menos dá mais, ou, neste caso, que, underground com underground deu mainstream.
Dá que pensar: quais serão os motivos que levaram o público a esgotar o Teatro Sá da Bandeira (e o Capitólio em Lisboa)? Terá sido a nostalgia do passado? Terá sido o entusiasmo moderno pelo revivalismo? Ou, terá sido o impacto do rebranding que foi dado à música romântica e popular portuguesa com o conceito de “hipster pimba”?
Início do concerto às 21h19. Apagam-se as luzes no teatro e a plateia começa de imediato a entoar os cânticos: “Zé Pinhal! Imortal!”. As cortinas sobem e, de repente, tudo na sala parecia condizer: desde as cadeiras de madeira antiga, aos candelabros e aos ornamentos da sala em tons dourados, até às cortinas bordeaux e à banda em palco. Em palco, vestidos com calças pretas e camisas bordeaux, temos David Machado no saxofone, José Pedro Santos na bateria, Nuno Oliveira na percussão, Tito Santos nos teclados e trompete, João Sarnadas na guitarra e José Cordeiro com um baixo Fender Telecaster (numa das poucas aparições deste mítico modelo). À frente, na voz, Bruno Martins, vestido com camisa preta e fato branco, com sapatos e gravata a condizer, tal como José Pinhal se vestia quando subia ao palco.
É interessante a forma como a banda interpreta as músicas de Pinhal: tira-lhes o pó, mas não lhes retira a essência.
Ao olhar para o palco, no canto esquerdo, havia um detalhe interessante: um bar, a fazer lembrar os antigos bares das boates da cidade do Porto, locais onde José Pinhal deverá ter atuado várias vezes. Nesse bar, um barman que limpava copos e, volta e meia, servia um copo de vinho à banda.
No público, a fusão geracional é evidente, mostra que a José Pinhal Post Mortem Experience conseguiu criar uma ligação entre o passado e o presente. Nem as cadeiras inibem o baile e é fácil identificar quais as músicas mais acarinhadas pelo público pelos momentos do concerto em que o público se levanta para dançar.
É interessante a forma como a banda interpreta as músicas de Pinhal: tira-lhes o pó, mas não lhes retira a essência. Destaques esperados para “Covarde”, “Baby Meu Amorzinho”, “Porém Não Posso” e “Tu És a Que Eu Quero”, com o público a sair dos lugares e a ocupar os corredores da sala para dançar e saltar. Destaque também para “Infância”, a música que fez com que José Pinhal se tornasse o grande vencedor do Festival da Canção do Norte, em 1978, precisamente no Teatro Sá da Bandeira.
22h51, terminam os últimos acordes de “Volverei Volverei”, e o concerto acaba como começou: com os cânticos “Zé Pinhal! Imortal!”.
Quando saí do Sá da Bandeira, enquanto subia a Rua Passos Manuel a caminho de casa, perguntei-me qual terá sido o papel que desempenhou a associação do conceito “hipster pimba” em todo este fenómeno. Senão vejamos: há imensos cantores românticos e cantores Pimba em Portugal. Porém, poucos gozaram deste tipo de fama, muito menos com um público tão variado e transversal como o que aprecia José Pinhal.
Será que a colocação do rótulo “hipster” ajudou a tornar mais credível e aceitável o gostar destas músicas? E será que isto também funcionaria aplicado a outras áreas da nossa sociedade ou a outros produtos? Imaginem um Portugal cheio de hipster imigrantes, hipster avec’s, hipster eleitores. Imaginem ir ao quiosque comprar a versão impressa da revista hipster porno “Gina”…
SETLIST
- Perdoa-me
Apaixonado
Segredos
Magia
Romance Lindo
El Amor, El Amor
Ella
Gitaono Soy
Tinhas que ser tu
Ciganos
Tua Mulher
Caminhemos
Tenho Alguém
Covarde
Baby meu amorzinho
Porém não posso
Infãncia
Comingo não podes vivier
Eu não posso negar
Tu és a que eu quero - – Encore –
Tu és a que eu quero (reprise)
Quem não quer
A vida dura muito pouco