Kreator na Sala Tejo, A Reconquista de Lisboa
2024-12-16, Sala Tejo, MEO ArenaApós uma caricato cancelamento em Junho de 2024, os Kreator regressaram à Sala Tejo, em Lisboa, para redimirem-se do infortúnio causado aos fãs. Ao longo de 1h30m os titãs do thrash metal germânico varreram por completo a sala lisboeta com uma fúria que, passados 40 anos, continua a não mostrar sinais de abrandamento.
Estávamos a 15 de Junho de 2024 e a noite era de concerto de Kreator na Sala Tejo, em Lisboa. O espectáculo, inserido numa tour de festivais foi dos poucos, senão o único, em nome próprio, e desta forma a banda alemã decidiu convidar os portugueses Toxikull como banda de suporte. Tudo corria dentro da normalidade, a banda de Lex Thunder cumpriu com a sua atuação e tudo se preparava para receber os thrashers germânicos. O tempo foi passando, 15m… 30m… até que, ao fim de 1h, chegou a informação de que os Kreator não iriam atuar devido a falhas técnicas na mesa de som. O público, naturalmente frustrado, principalmente os que tinham gasto dinheiro e tempo em longas deslocações e alojamento, fez-se imediatamente ouvir pedindo esclarecimentos mais detalhados à Prime Artists, a promotora do espetáculo. Esses esclarecimentos com pouco detalhe apenas foram dados mais tarte, ficando a promessa que o concerto seria reagendado para uma nova data.
Com um calendário bastante preenchido, a solução passou por reagendar o concerto para o fim da tour europeia de Novembro e Dezembro, mais precisamente para 16 de Dezembro. Com um lineup de luxo para qualquer amante de thrash, os Kreator fizeram-se acompanhar pelos Anthrax e os Testament. Porém, tours desta dimensão são organizadas com muita antecedência, pois envolvem muita logística, desta forma, não foi possível aos Kreator trazer para Portugal este pacote de bandas. Todavia, isso não revelou qualquer impedimento para que o concerto fosse mesmo para a frente e bem ao estilo da improvisação portuguesa, a Prime Artists voltou a recorrer e bem ao talento nacional para abrir as hostilidades. Desta vez a escolha recaiu em dois nomes de gerações diferentes. Os Toxikull, que tiveram mais uma oportunidade de mostrar o vigor do seu heavy/speed metal na Sala Tejo, e os icónicos Sacred Sin, banda de culto do death metal nacional.
O Poder da NWOPHM
Com mais um voto de confiança dado pelos Kreator e pela Prime Artists, os Toxikull, banda oriunda de Cascais, voltaram a subir ao palco da Sala Tejo para nos levarem numa viagem até aos anos 80, o período dourado do heavy metal tradicional e do speed metal. A promover o seu segundo álbum de estúdio, “Under the Southern Light” (2024), os Toxikull não precisaram de se esforçar para agarrar o público, pois afinal de contas muitos já acompanham o trajeto ascendente da banda no cenário do undergound português. Temas como “Night Shadows”, “Under the Southern Light”, “Around the World” e “Cursed and Punished” demonstraram os pergaminhos técnicos do guitarrista ritmo e vocalista Lex Thunder, do guitarrista solo Michael Blade, do baterista Tomás Oliveira e do baixista Fernando Ferreira e comprovaram que os Toxikull estão mais do que preparados para continuar a sua conquista dos palcos europeus.
O Pecado Sagrado
Sem sairmos do subterrâneo do metal português, chegou a vez dos Sacred Sin, nome incontornável do death metal nacional, subirem ao palco. Liderados pelo guitarrista Tó Pica e pelo baixista e vocalista José Costa, os Sacred Sin foram a primeira banda da noite a provocar o caos total no público. Cada tema incentivava a uma explosão na forma de circle pits, wall of deaths e crowdsurfing. “The Chapel of the Lost Souls”, “Eyemgod” e “Darkside” dos álbuns “Darkside” (1993) e “Eye M God” (1995) mostraram que os álbuns clássicos da discografia dos Sacred Sin envelheceram da melhor forma e ao vivo continuam a fazer estremecer qualquer sala por onde a banda passa.
Liderados pelo guitarrista Tó Pica e pelo baixista e vocalista José Costa, os Sacred Sin foram a primeira banda da noite a provocar o caos total no público.
O Mais Forte dos Mais Fortes
Passados dois anos da sua última passagem por Portugal, no VOA Heavy Rock Festival 2022, os Kreator voltaram a trazer na bagagem “Hate Über Alles”(2022), álbum que têm vindo a apresentar exaustivamente. Com a sua maior produção em terras nacionais, os thrashers alemães levaram-nos para o seu submundo onde criaturas insufláveis que resultam numa fusão de orcs e demónios apresentam-se como seres imponentes.
Após a descida do já tradicional pano com o nome da banda reinou o cao desde o primeiro berro de Mille Petrozza à última pancada reverberante na bateria de Ventor. A faixa-título do mais recente álbum de estúdio e o clássico “Phobia” foram suficientes para fazer com que o público esquecesse o desaire que tinha acontecido em Junho deste ano naquele mesmo espaço. O vocalista e guitarrista Mille sabia perfeitamente a recepção calorosa que os Kreator iriam ter, mas, ainda assim, quis tomar o pulso ao público ao invocar a primeira wall of death da noite. Para a ocasião, surgiu o riff inicial de “Coma of Souls” e a mítica contagem «eins, zwei, drei, vier». Ainda o público do pit estava a recompor-se, quando Mille sem perder tempo já tinha arrancado com “Enemy of God”. Este que é um dos maiores hinos dos Kreator continua a apresentar-se ao vivo como uma das melhores composições da banda, não só no que diz respeito à riqueza das suas secções, particularmente o solo final do guitarrista Sami Yli-Sirniö que é depois harmonizado com a guitarra de Mille, numa parelha entre a Ibanez DT420CA Destroyer do primeiro e a ESP Arrow Custom Shop do segundo. A melodia ganha sempre contornos épicos quando é depois entoada em coro por todos os fãs num momento de profunda simbiose entre banda e público.
A melodia ganha sempre contornos épicos quando é depois entoada em coro por todos os fãs num momento de profunda simbiose entre banda e público.
«É bom estar de volta sem dificuldades técnicas. Ainda bem que vocês voltaram», desculpou-se Mille Petrozza antes de “666 – World Divided”. Mais adiante “Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)” e “Hail to the Hordes” mostraram que os temas dos Kreator ao vivo são uma espécie de call to arms com os fãs a berrarem os refrões como se tratasse de um cântico de guerra. Entre visitas a um passado mais longínquo com “Betrayer” e a outro mais recente com “Satan Is Real” e “Phantom Antichrist”, os Kreator não quiseram deixar passar o contributo dos Toxikull e dos Sacred Sin para uma noite que, mais do que servir para fazer as pazes com o público português, foi de celebração e união. Desta forma, foi-lhes dedicado o tema “Strongest of the Strong”, que até então tinha vindo a ser dedicada aos Anthrax e aos Testament.
«Nós temos uma grande ligagção com Portugal. Vimos cá desde 93 e temos muitos amigos daqui, como os Moonspell», confessou Mille num momento de maior emoção após ouvir os fãs a entoarem incansavelmente o nome da banda. Já com uma bandeira muito conhecida em punho, os fãs rapidamente se aperceberam que estávamos na iminência de ouvir a rajada que é “Flag of Hate”, tema que lançou os Kreator em 1985.
Para a reta final de um concerto que nunca tirou o pé do acelerador ficaram reservadas “People of the Lie” com o baixista Frédéric Leclercq a dobrar Mille no refrão. Mais discreto que Sami e Mille, Fréderic é o membro mais recente da banda, tendo sido recrutado aos Dragonforce em 2019. Ao longo da noite mostrou-se exemplar na execução das linhas de baixo, provenientes de um LTD FL-4 de assinatura, e na interação com o público. “Terrible Certainty”, “Violent Revolution” e “Pleasure to Kill” encerraram a noite com Mille a dar a possibilidade aos fãs de mostrarem toda a sua energia, «Lisboa style», nos derradeiros circle pits. Com a reconquista conseguida, os Kreator agradeceram a entrega dos fãs e deixaram o palco com a sensação de missão cumprida.
[galeria em breve]
SETLIST
- Hate Über Alles
Phobia
Coma of Souls (Intro)
Enemy of God
666 – World Divided
Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)
Hail to the Hordes
Betrayer
Satan Is Real
Phantom Antichrist
Strongest of the Strong
Flag of Hate
People of the Lie
Terrible Certainty
Violent Revolution
Pleasure to Kill