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L’Impératrice no LAV, Uma Boogie Night à Grande e à Francesa

L’Impératrice no LAV, Uma Boogie Night à Grande e à Francesa

2024-11-02, Lisboa Ao Vivo
Rodrigo Baptista
Gonçalo Silva / Last Tour
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Numa espécie de febre de sábado à noite, os L’Impératrice regressaram a Portugal para assentar a sua pista de dança no LAV.

Após três passagens bem sucedidas pelo Paredes de Coura 2022 e 2024 e Super Bock Super Rock 2023, a banda francesa de nu-disco apresentou-se pela primeira vez em nome próprio em território nacional e contagiou uma plateia jovem que se encontrava ávida para dançar.

Provenientes de Paris, os L’Impératrice apresentam-se como os herdeiros de toda uma cena disco francesa que teve o seu início nos anos 70. Foi mais precisamente em 1977 que a lenda da euro-disco Cerrone despontou para o mediatismo com “Cerrone 3” ou “Supernature”, um álbum cuja faixa-titulo, com 9:45 minutos, mostra uma composição complexa onde os sintetizadores se cruzam com orquestrações sinfónicas. Já nos anos 90 foi a vez da dupla Daft Punk saltar para a ribalta com a sua sonoridade híbrida de disco, french house e electro-funk, o que levou ao sucesso de álbuns como “Discovery” (2001) e “Random Access Memories” (2013).

Por sua vez, também a palavra discoteca tem origem francesa (discotheque), com os primeiros espaços a utilizarem esta nomenclatura a surgirem em França nos anos 40 durante o período da ocupação nazi. Aliás, muitos consideram o clube Le Whisky à Gogo como a primeira discoteca do mundo, pois segundo os teóricos foi a primeira a dispor de uma pista de dança, luzes coloridas suspensas e a substituir uma jukebox por dois gira-discos operados por disco jockeys. A ideia surgiu da cabeça de Régine Zylberberg, uma empresária francesa que ficou conhecida como a “Rainha da Noite”. 

Mas voltemos aos L’Impératrice e à noite mágica que experienciámos na Sala 3 do LAV, uma nova sala que abriu, ainda maior que as outras duas já existentes, e que conta com uma capacidade para cerca de 2000/2500 pessoas.

Mas voltemos aos L’Impératrice e à noite mágica que experienciámos na Sala 3 do LAV, uma nova sala que abriu, ainda maior que as outras duas já existentes, e que conta com uma capacidade para cerca de 2000/2500 pessoas.

Para esta tour, os L’Impératrice trouxeram a novidade “Pulsar” (2024), um álbum cuja palavra presente no título tanto faz parte do léxico francês como do português, e que pode ser descrita como a presença de um batimento cardíaco regular ou a resposta a um determinado estímulo rítmico. E foi exatamente isso que todos os que encheram o LAV se propuseram a fazer, a dançar e pulsar ao som dos bmps e do groove contagiante das composições dos L’Impératrice.

Respeitando a tracklist de “Pulsar” o concerto teve início com o instrumental pegajoso “Cosmogonie”, a primeira faixa do álbum. Rapidamente foi posto à prova o imponente jogo de luzes que acompanha a banda nesta tour, um elemento indissociável do disco sound e que contribui para uma maior imersão na música.

Antes de arrancarem para “Amour ex Machina”, o teclista Charles de Boisseguin decidiu logo despistar o elefante na sala, ao mencionar a saída inesperada, antes da tour, da vocalista original Flore Benguigui, devido a questões relacionadas com saúde mental e física, e a entrada de Louve, pedindo de seguida todo o apoio e carinho para com o novo elemento.

Louve mostrou estar à altura do desafio que lhe saltou para a voz e obteve a aprovação dos fãs nos temas que se seguiram, “La Lune” e “Anomalie bleue”, este último com destaque para a sua intro repleta de texturas instrumentais em contínuo crescendo que resulta num deleite auditivo quando experienciada ao vivo, pois mostra que estamos perante um conjunto de músicos bem articulados entre si.

Conscientes da tipologia de espetáculo que estão a apresentar, os L’Impératrice também recorrem a um modelo de performance bastante comum entre as bandas de disco e que consiste na transição entre músicas sem pausas e quebras rítmicas.

Conscientes da tipologia de espetáculo que estão a apresentar, os L’Impératrice também recorrem a um modelo de performance bastante comum entre as bandas de disco e que consiste na transição entre músicas sem pausas e quebras rítmicas. Quanto mais suave for a transição, melhor é a satisfação auditiva do ouvinte/espetador, elevando assim também a troca simbiótica entre banda e público. “Girl” e “Danza Marilù”, esta última uma homenagem à italo-disco, foram entoadas pelo público demonstrando assim que a opção de tocar “Pulsar” quase na sua totalidade foi uma jogada certeira. O álbum, editado a 7 de Junho de 2024, já teve tempo de maturar nos ouvidos dos fãs daí a resposta experienciada pela banda nos concertos.

Um dos aspetos mais interessantes dos concertos dos L’Impératrice é que não existe propriamente um frontman ou, neste caso, frontwoman a dirigir-se exclusivamente ao público. No caso da banda francesa, a função de comunicar com o público é repartida por todos, algo que de certa democratiza os papéis dos diferentes elementos e diminui a sensação de hierarquia no grupo.

Tanto em estúdio como ao vivo, os L’Impératrice apoiam-se num forte contingente de sintetizadores que deixa qualquer amante de produção musical de boca aberta. Apesar da difícil visibilidade, tal era a quantidade de braços levantados à nossa frente, conseguimos vislumbrar em palco um teclado Crumar Seven, estilo Fender Rhodes, um Roland SH-101, um Moog Subsequent 37, um controlador MIDI Arturia Keystep e uma caixa de ritmos AKAI MPC 1000.

O tempo passava com alguma rapidez, mas dentro do LAV parecia que a música e o bom ambiente que estávamos a sentir nos levavam de volta para o Verão. “Sweet & Sublime” trouxe uma linha de baixo super funky que não deixou ninguém indiferente, já “Love From the Other Side” acalmou os ânimos antes dos L’Impératrice prestarem uma homenagem aos seus conterrâneos Daft Punk com uma versão de “Aerodynamic”. A ponte depois foi feita com “Agitations tropicales” com o guitarrista Achille Trocellier a dedilhar um riff bem groovie que o público tratou de entoar a uma só voz. Antes da primeira saída do palco ainda houve tempo para escutar “Submarine” e mais uma cover, desta vez “La piscine” de Hypnolove

De volta para o encore, a bandou disparou “Sonate pacifique”, gravado originalmente com a voz do músico e produtor Isaac Delusion, a disco meets chanson française “Erreur 404”, o instrumental com sabor a verão “Vanille fraise” e, a fechar, o instrumental electro-house  “Piano” Killer Track”, faixa que a banda nunca lançou em álbum.

Nas despedidas o teclista Hagni Gwon fez questão de agradecer a todos os envolvidos na produção do concerto, dos técnicos aos managers, passando pelo staff do LAV e pelos Best Youth, banda portuguesa que à última da hora foi convocada para abrir o concerto devido ao cancelamento repentino dos Oracle Sisters. Mas, no fim o maior agradecimento foi mesmo para os fãs pela sua entrega e energia incansável ao longo de todo o concerto. Num post partilhado no instagram a 16 de Agosto após a atuação no Paredes de Coura os L’Impératrice escreveram «COURA VÔCES FIZERAM-NO OUTRA VEZ ♥ Sítio favorito, público favorito, ambiente favorito, concerto favorito de todos os tempos, obrigado, obrigado, obrigado. Nós amamos-vos muito!», e a julgar pela reação da banda ao público do LAV é caso para dizer que os fãs portugueses voltaram, mais uma vez, a marcar a sua posição como um dos melhores públicos do mundo.

SETLIST

  • ÓCosmogonie
  • Amour ex Machina La lune Anomalie bleue Me da igual Voodoo? Girl! Vacances Danza Marilù Sweet & Sublime Matahari Love From the Other Side Voodoo? (Reprise) Aerodynamic (Daft Punk Cover) Agitations tropicales Submarine La piscine (Hypnolove cover) Sonate pacifique Erreur 404 Vanille fraise Piano Track Killer